No último sábado, 3 de novembro, mais de 350 pessoas lotaram a plateia do Teatro Coletivo no ato em defesa dos 73 presos políticos da USP. Com a presença e o apoio de professores da Universidade de São Paulo (USP), trabalhadores e estudantes de várias faculdades do país o ato-debate inaugurou uma campanha nacional e internacional pela anulação dos inquéritos ilegais contra os 73 estudantes e trabalhadores presos após a truculenta operação policial do dia 8 de novembro.
A mesa de abertura, coordenada pelo estudante Rafael, preso político e perseguido com mais de 8 processos, pelos professores da USP Luiz Renato Martins (Luizito), Jorge Luiz Souto Maior, Jorge Grespan e Lincon Secco, pela estudante Mafê, processada pela participação na ocupação da Reitoria de 2007, além dos diretores do SINTUSP Aníbal e Claudionor Brandão (demitido político da USP), denunciou a estrutura de poder antidemocrática da USP e a estreita ligação de seus dirigentes com a ditadura militar. Todos reafirmaram a necessidade de ampliar a campanha em defesa dos 73 presos políticos, pois esta repressão é fundamental para a Reitoria e o Governo levarem a frente seu projeto de privatização da universidade, tornando-a mais elitista, com cursos cada vez mais ligados aos interesses empresariais e com trabalho precarizado.
Luizito lembrou que desde sua formação a cúpula dirigente da USP esteve a serviço de implementar o projeto burguês de universidade da elite paulista e que esta mesma burocracia acadêmica sempre se valeu dos aparatos repressivos para perseguir, punir e demitir os setores da comunidade acadêmica que se colocaram contrários a esse projeto. O professor da ECA também marcou como a greve deste ano produziu um organismo muito superior ao que havia sido construído até agora e que supera várias debilidades da luta dos estudantes em 2007: o comando de greve. Em sua visão o comando de greve é o que tem permitido maior união dos estudantes para tocar esta luta, fazendo com que o movimento seja ao mesmo tempo massivo e democrático.
O professor Grespan explicou que devemos enxergar o processo repressivo na USP e a própria prisão dos 73 estudantes e trabalhadores a luz da crise econômica mundial, que irá trazer um cenário de grande polarização e políticas mais duras e repressivas contra os estudantes e trabalhadores.
Brandão, demitido político da USP e diretor do SINTUSP, lembrou aos estudantes, funcionários, professores e lutadores presentes que lutar contra a repressão, com eixo na defesa dos presos políticos, é fundamental para garantir as posições conquistadas e impedir que o Reitor Rodas e o Governo de São Paulo consigam levar a frente seu objetivo estratégico de tornar a USP uma Universidade cada vez menos pública e completamente hostil aos trabalhadores, ao povo pobre e aos negro.
Para além da mesa, o ato contou com importantes saudações que expressaram um espírito combativo das principais lutas que estão acontecendo neste momento nacional e internacionalmente. Como a saudação de Camila, da Universidade Estadual de Maringá (UEM), Miltão, do Movimento Negro Unificado (MNU), Lúcia Skromov, do Movimento Pró-Haiti, Oswaldo Coggiola, da ADUSP, Deise, da Executiva Nacional dos Estudantes de Serviço Social, entre outros grupos e organizações políticas. Também foi lida uma moção de apoio escrita pelos companheiros do DCE de Universidade de Rondônia, que junto aos professores e trabalhadores estão lutando contra a corrupção na universidade e seguem sendo ameaçados de morte.
Um importante ponto de inflexão do ato foi a partir da saudação da estudante Bárbara, militante do PTR, organização irmã da LER-QI no Chile e que esteve a frente da grande luta que o movimento estudantil chileno protagonizou este ano, fez uma calorosa saudação ao ato, reforçando a necessidade de seguir lutando contra a privatização da educação pública, mas, sobretudo, garantir uma grande campanha contra os inquéritos ilegais que se amplie nacional e internacionalmente. Houve moções e vídeos de apoio dos estudantes argentinos que estão sendo processados e criminalizados por lutar junto aos trabalhadores da Argentina, assim como da companheira Sandra, da Liga dos Trabajadores por el Socialismo. O ato contou com a presença das organizações políticas PCO, Práxis – com a intervenção de Rosi, presa política e torturada na reintegração da posse da Reitoria -, além de outros grupos. Também esteve presente, com 2 militantes, o PSTU fazendo uma saudação ã campanha dos 73. O DCE da USP, dirigido pelo PSOL, não esteve presente.
Bruno Gilga, da juventude da LER-QI, um dos últimos oradores do ato, mostrou com que perspectivas estratégicas devemos encarar a luta pela retirada dos inquéritos ilegais aos 73 presos. Ele pontuou como os ataques promovidos pela mídia aos estudantes não conseguem encobrir a contradição dos inimigos dos estudantes. Se por um lado os criticam por uma suposta despolitização e ser maconheiros, por outro, os criticam por estarem presos em 1968, e este ano seria justamente a marca de um movimento estudantil que procurou fazer ecoar nas universidades as vozes dos trabalhadores e do povo. Neste sentido mostrou como a perspectiva internacional com o papel cumprido pela juventude no Egito, Chile, EUA entre outros países que a perspectiva de 1968 estará mais e mais colocada e que é para isto que devemos nos preparar. Concluiu mostrando como preparar-se para sermos uma grande juventude que ecoe nas universidades as lutas dos trabalhadores e do povo passa pela intransigente defesa dos 73.
08-12-2011
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