Chile: Chapa do PTR (FT-QI) impõe derrota histórica ao PC e vai para o 2° turno com quase 2 mil votos numa das universidades mais importantes
A USACH (Universidad de Santiago de Chile) é a terceira universidade mais tradicional do Chile, atrás apenas da Universidad de Chile (de onde era Camila Vallejo, do PC Chileno, que era presidenta da FECH, entidade que seria como os DCE´s no Brasil) e da Universidad Católica (de onde era Giorgio Jackson, da FEUC, que ficou amplamente conhecido internacionalmente por ser a segunda figura).
A USACH se configurou nos 7 meses de luta no Chile como a universidade onde o combate ã burocracia estudantil foi mais avançado. A FEUSACH (DCE) era dirigida por uma frente composta pelo PC e pela Concertación (Democracia Cristiana, Partido Socialista e outros partidos menores). Sua principal figura era o presidente da Federação Camilo Ballesteros, também do PC, que era a terceira figura mais importante do movimento estudantil nacional e a segunda mais importante do PC.
Se nacionalmente o PC conseguiu desviar para o parlamento as forças da heróica luta do movimento estudantil chileno que ecoou em toda a sociedade num verdadeiro terremoto político, obrigando o movimento a receber apenas migalhas, no marco de um aprofundamento da privatização da universidade (aumento de bolsas como faz o PT com o PROUNI, ou seja, transferência de dinheiro público para o capital privado), nas eleições estudantis que estão ocorrendo, este partido stalinista já está pagando o preço, e muito alto. Se em secundaristas, que em Santiago eram os setores mais combativos e decididos na luta pela educação gratuita, o PC já é enormemente deslegitimado desde a traição da luta de 2006, nas universidades o processo de experiência vinha mais atrasado. Foi no recente processo de luta de mais de 7 meses que amplos setores universitários começam a romper com o PC mais profundamente, e foi na USACH onde este processo foi mais avançado. Depois da derrota de Camila Vallejo nas eleições da FECH, agora foi Ballesteros que foi derrotado humilhantemente.
Na USACH se forjou um movimento estudantil combativo e anti-burocrático, uma vanguarda profundamente ligada a base dos estudantes que, numa batalha que já dura meses, se enfrentou abertamente com a burocracia estudantil. Quando o movimento estava em franco ascenso, cerca de 8 mil dos quase 22 mil estudantes desta universidade (que diferentemente da Universidad do Chile e da Católica que são mais elitistas, tem estudantes de origem mais proletária, pois 70% tem bolsas) tomavam as ruas nas marchas massivas. Era a expressão de que estavam dispostos a ir até o final na luta. Enquanto o PC impedia a nível nacional que se instalasse a bandeira da educação gratuita como demanda concreta do movimento, na USACH os estudantes se organizaram em assembléias massivamente e votaram essa como a demanda central do movimento. Mas o PC quis impedir essa votação de todas as maneiras e, no mesmo momento em que se reuniam milhares de estudantes em assembléias de curso para radicalizar o programa, votando educação gratuita, fortalecidos pela forte jornada de paralisação nacional de 24 e 25 de agosto (junto a trabalhadores, principalmente do setor público) que colocou centenas e centenas de milhares nas ruas de todo o Chile, o PC (junto com a Concertación) saiu numa ofensiva nas universidades em todo o país para fechar o primeiro semestre (que em setembro ainda não havia fechado). Os estudantes combativos se organizavam em centenas para ir em todos os “ampliados” (espécie de Conselho de Centros Acadêmicos), onde o PC queria manter todas as decisões burocraticamente, para obrigar que se fizesse valer a vontade das bases.
Já era clara para essa vanguarda de centenas a política de traição do PC, mas isso se generalizou quando, após estes se negarem a votar o não fechamento do semestre e a educação gratuita, os estudantes revoltados invadem a sede da Federação em protesto contra a burocracia estudantil. Lá dentro, eles encontram um boletim interno do PC onde detalhava a política de traição e de como manobrar para fechar o semestre. Depois disso, não faltaram situações em que o PC chegou a levar a comissão de segurança do partido para defender Ballesteros e seus militantes e, como não podia deixar de ser com uma burocracia stalinista, até enfrentamentos físicos houve.
Vejam a declaração de Las Armas de la Crítica (LAC) daquele momento (em espanhol, http://www.armasdelacritica.cl/lac/declaraciones/declaracion-publica-lac-usach/) que expressa o nível de crise que se abriu, que envolveu ameaças de todo tipo aos militantes do PTR, como não poderia deixar de ser num enfrentamento com stalinistas. Essa luta política chegou a quase derrubar a diretoria da Federação em meio ao processo de luta, o que foi impedido somente pelas manobras do PC que conseguiram obrigar burocraticamente que a votação final fosse no “ampliado”, onde acabou se mantendo por uma diferença, note-se, de apenas 4 votos (de mais de 40). Neste dia, este era o assunto nacional no movimento estudantil, todos os olhos estavam voltados para aí, pois poderia significar um golpe na burocracia estudantil que fosse uma inflexão no processo de luta e na necessidade de superação da burocracia estudantil. Foi isso que expressou que nesse dia, a palavra “LAC”, foi “top twiter” nacionalmente (assunto mais comentado no twiter). Ballesteros e seus aliados não caíram naquele momento, mas seguiu o processo de luta contra a burocracia, que se organizou a partir destas centenas de estudantes combativos, em primeiro lugar para manter de pé a luta pela educação gratuita e contra a burocracia, o que passou por uma nova ocupação da universidade, que envolveu 700 estudantes.
Se o desvio imposto pelas direções impediu a vitória da luta do movimento estudantil, o processo de reorganização por baixo segue completamente vivo, e como PTR estamos fazendo parte ativa do mesmo. As eleições da USACH são somente a expressão mais visível disso, onde no primeiro turno (o segundo será em janeiro), a chapa do PTR junto a dezenas de independentes combativos, que chegaram a organizar uma festa da chapa de fechamento de campanha com mil estudantes, conquistaram 1865 votos, menos de 300 votos atrás de uma chapa anti-luta (que tem um representante do PS), o que expressa a polarização da universidade. Por usa vez, o PC foi humilhado com apenas 1171 votos depois de anos dirigindo a Federação. Por último, ficou a chapa do PPD, outro partido da Concertación, com 693 votos. Agora, nossa chapa irá competir no segundo turno com a chapa anti-luta.
Segue abaixo a declaração do PTR, nossa organização irmã no Chile, que compõe a Fração Trotskista – Quarta Internacional, sobre o resultado eleitoral:
Grande votação da chapa “SEGUIMOS EN PIE” na USACH Construamos uma alternativa combativa e revolucionária em todas as universidades e liceus do país!
Nos dias 14,15 e 16 de dezembro aconteceram as eleições para a Federação de Estudantes do período 2012 na Universidad de Santiago de Chile – USACH. Teve uma votação histórica com mais de 6000 estudantes. No primeiro turno e com a 2ª maior votação (haverá segundo turno para definir entre as 2 mais votadas em janeiro) quase 2000 compannheiras e companheiros votaram na Lista D “Seguimos en Pie”, que luta pela continuidade das históricas e massivas mobilizações que puseram em xeque a herança do regime pinochetista. A Lista D “Seguimos en Pie” é uma lista de estudantes independentes e companheiras e companheiros do PTR, estudantes combativos que estiveram lutando na linha de frente desses seis meses pela educação 100% gratuita, pela paralisação e mobilização nacional, pela aliança com os trabalhadores e o povo pobre, pela unidade com os secundaristas que se encontravam combatendo em sus ocupações e que foram mais além, lutando contra a burocracia estudantil da Feusach dirigida pelas Juventudes Comunistas e pela Concertación que não representavam a decisão das assembleias dos estudantes da Usach que haviam lutado pela educação gratuita, e que em vez de reforçar a aliança com os secundaristas, trabalhadores e população em um organismo unificado, chamaram a confiar nos parlamentares da Concertacion levando o conflito mais importante dos últimos 20 anos ã rua sem saída do parlamento binominal, herança do pinochetismo. Uma lista que escreve em sua bandeira a educação 100% gratuita, a luta anti-burocrática e a briga por transformar a Feusach em uma referência que recupere a melhor tradição da história do movimento estudantil: da reforma universitária; da unidade operária-estudantil; contra o regime universitário autoritário baseado nas leis de Pinochet; pelos direitos das mulheres estudantes, trabalhadoras e pobres, e abra espaço à luta contra o regime herdeiro do pinochetismo. Desde o Partido de Trabajadores Revolucionarios participamos ativamente na conformação da lista e da campanha com nossa companheira Javiera Márquez, eleita democraticamente para encabeçar a lista. As juventudes Comunistas, dirigindo a atual Feusach, tiveram uma importante derrota saindo como terceira força com a queda de sua votação, fruto de sua politica burocrática na universidade e da confiança no parlamento binominal da Concertacion e da direita.
Com uma campanha militante, se demonstrou que a esquerda combativa ganhou um peso importante na Universidade como uma força política da maior importância. Em que pese ter ficado em 2° lugar, é um enorme triunfo de todos setores anti-burocráticos e combativos. E tudo isso em um momento no qual a um enorme questionamento do regime da Concertacion e da direita que governam para os empresários e capitalistas estrangeiros e nacionais que mantem a classe trabalhadora com salários de miséria. Em um momento no qual há um novo despertar da juventude nacional e mundialmente que quer conquistar tudo e luta na Europa, Oriente Médio, Estados Unidos e América Latina.
Agora, no segundo turno, a lista D vai lutar para levar este programa adiante. Para que seja um avanço para o movimento estudantil, a classe trabalhadora e o povo pobre, e recuperar nossos organismos nesta perspectiva. E que não seja eleita a lista C que quer uma federação distante da luta nacional, uma federação desmobilizadora que está contra a luta atual pela educação ainda que pose de “centro-esquerda”, que seja um pontal do regime universitário de Zolezzi e que quer reforçar a aliança com os parlamentares, ou seja, do continuísmo neoliberal. É a lista do regime atual.
Desde o Partido de Trabajadores Revolucionarios acreditamos que esta votação histórica deve abrir caminho para construir uma forte corrente combativa e revolucionária no movimento estudantil, em todas as universidades e liceus, para terminas com a herança do pinochetismo na educação e em todos os âmbitos, para acabar com a educação de mercado e a serviço dos empresários e se proponha a construir um movimento estudantil que recupere a melhor tradição das grandes batalhas que deram em seu tempo centenas de milhares de estudantes, operários e o povo em luta por uma universidade a serviço dos trabalhadores e do povo pobre. Há algum tempo demos o primeiro passo ao fundar a agrupação combativa e revolucionária com mais de 200 companheiros nacionalmente, hoje mais do que nunca, é necessário que continuemos fortalecendo esta alternativa. Te convidamos a construí-la.
Partido de Trabajadores Revolucionarios
18 / 12 / 2011
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