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Greves e jornadas de protesto
18 Feb 2012 | No dia 07 de fevereiro na Grécia ocorreu uma greve geral de 24 horas, seguida por outra de 48 horas nos dias 10 e 11 de fevereiro contra o novo plano de ajustes e cortes que o parlamento grego se preparava para votar.

Por Alejandra Ríos, FT-Europa

No dia 07 de fevereiro na Grécia ocorreu uma greve geral de 24 horas, seguida por outra de 48 horas nos dias 10 e 11 de fevereiro contra o novo plano de ajustes e cortes que o parlamento grego se preparava para votar. Ambas as ações foram convocadas pelos sindicatos do setor público (ADEDY) e privado (GSEE). Essas ações foram seguidas por uma ativa e militante jornada de protesto no dia 12 de fevereiro, dia em que se votavam as medidas, que terminou se convertendo em uma das jornadas mais violentas dos últimos anos.

No domingo, 12/02, dezenas de milhares de pessoas saíram ás ruas de Atenas, para se concentrarem perto da Praça Syntagma, com o objetivo de entrar no enorme edifício parlamentar e na tentativa foram interceptados por um forte cordão policial que não poupou o uso de gás lacrimogêneo. Mas os manifestantes decididos a chegar ao parlamento trataram, durante 6 horas, de atravessar a neblina de gases, durante este enfrentamento com a policia e como resultado da repressão das forças da ordem houve enfrentamentos que duraram até altas horas da madrugada. Apesar de o protesto central ter sido em Atenas, também foram organizadas manifestações e marchas nas principais cidades do país.

No domingo 12/02 após 10 horas de debate com a manifestação como telào de fundo, foi aprovado o novo pacote de ajuste. Este plano, imposto pela tróika conformada pela União Européia (UE), o FMI e o Bando Central Europeu exige, entre outras medidas, um corte salarial, uma redução das aposentadorias superiores a 1.500 euros e a demissão e/ou suspensão de 150.000 funcionários públicos – 20% do total –, como condição para outorgar ã Grécia um segundo “resgate” por um valor de aproximadamente 130 bilhões de euros e efetivar o quitamento da dívida (que representa um total de 350 bilhões de dólares) equivalente a 100 bilhões de dólares dos 200 bilhões que os bancos privados possuem em títulos de dívida do país.

No entanto, os líderes europeus, temerosos de que a Grécia não possa cumprir em março os compromissos adquiridos de pagamento da dívida, em parte devido ã grande oposição da população e a crises de credibilidade da “classe política”, mas também pelas escassas ‘conquistas econômicas’ obtidas, querem ir por mais e exigem mudanças no curto prazo. Por isso, além dos já mencionados cortes dos gastos governamentais, pedem que a economia grega seja mais competitiva e se abra para o mercado. Em outras palavras, demandam flexibilizar as leis trabalhistas com o corte de 22% do salário mínimo, a eliminação do bônus de férias ou 13] salário, equivalentes a um mês de salário e a suspensão das negociações coletivas. Apesar do voto favorável ás medidas, os ministros de economia da UE decidiram cancelar o empréstimo após o massivo protesto do domingo postergando a discussão até segunda-feira, dia 27/02. Conscientes das dificuldades do governo em passar as medidas exigem ao governo grego garantias de que vai poder colocar o ajuste em prática.

Após uma semana com 3 dias de greve e 100 mil pessoas nas ruas, o governo enfrenta uma crise de legitimidade. A mobilização nas ruas começou a gerar crise na coalizão do governo encabeçado pelo PASOK e levou a que 25 de seus deputados se negassem a votar as medidas; também o partido conservador Nova Democracia contou com 21 “desertores” em suas fileiras, que votaram contra as medidas. O governo da coalizão passou de 255 deputados em novembro para ganhar por 190 votos no domingo e o partido de ultra-direita LAOS se retirou do mesmo. As renúncias de vários deputados e as eleições de abril criam um marco de insegurança para a tróika, que teme que o país não possa ser governado. O primeiro ministro Lucas Papademos, tecnocrata colocado pela própria tróika, se mostra débil para conter a crise.

O fracasso das negociações e a falta de confiança expressa pelos ministros da economia da Europa estão alimentando um sentimento nacionalista, como expressaram vários ministros, em particular contra Alemanha. Caso não surja uma alternativa de luta que supere os marcos da luta de pressão dos sindicatos e que reivindique uma perspectiva operária de saída para a crise, este sentimento pode ser tomado por setores nacionalistas que se valem da ingerência nacional das instituições européias sobre os assuntos do país, mas para levantar um programa de resgate da classe dominante grega.

A oposição de esquerda é débil, o Partido Comunista Grego, que tem deputados no parlamento, se limita a apoiar as medidas de pressão e a impulsionar seu braço sindical, o PAME (Frente de Empregados Públicos) onde tem inserção, com uma política auto-proclamatória sem lutar por uma frente-única operária para derrotar os planos da tróika e expor o papel de colaboração das direções das confederações oficiais controlados pelo PASOK. Este sindicalismo se combina com uma estratégia parlamentar de chamar as eleições com a esperança de obter uma maior quantidade de deputados dos que tem agora sob um programa reformista.

O líder da Coalizão da Esquerda Radical declarou antes da jornada de domingo que “esperava que o pacote da bancarrota não passasse” e fez um chamado “por uma unidade democrática e patriótica entre todos” remarcado que “as pessoas deveriam tomar a coesão social e a democracia em suas próprias mãos”.

As 15 greves gerais nos últimos dois anos demonstram que estas medidas de pressão isoladas são, no melhor dos casos, impotentes para freiar os planos de ajuste. Diante as alternativas nacionalistas burguesas e aos chamados da unidade nacional de setores de esquerda é necessário lutar por uma alternativa independente dos trabalhadores que imponha um plano operário como saída ã crise.

As paralisações de 24 horas do dia 07/02 e de 48 horas dos dias 10 e 11/02 junto ao massivo protesto do dia 12/02 foram algumas das expressões mais contundentes dos últimos meses. Ambos os fenômenos junto ao incipiente fenômeno de ocupações de locais de trabalho mostram a determinação a enfrentar aos ataques mas também deixam desnudada a necessidade de impor uma greve geral indeterminada para derrubar o governo de coalizão, que aponte uma saída da classe operária que hegemonize todos os setores oprimidos e explorados e discuta um plano transicional de emergência para que a crise seja paga pelos capitalistas.


Elementos de auto-organização

Nos últimos meses começam a aparecer sintomas de respostas e organização operária.

Os trabalhadores da siderúrgica Hellinki Halovourgia (Siderúrgica Grega), a primeira fábrica de aço e um dos conglomerados industriais mais importantes do país, protagonizaram uma extensa greve de mais de 3 meses em protesto pela demissão de 50 trabalhadores e a redução da jornada de trabalho de 8 para 5 horas, com uma redução salarial de 40%. Diante deste brutal ataque, os trabalhadores entraram em greve, e como parte de sua luta fizeram um chamado aos sindicatos, organizações de bairro, de jovens e de mulheres a que os apóiem e arrecadem alimentos para as famílias dos grevistas.

Em Kilkis, uma cidade industrial no centro da Macedônia, os trabalhadores do hospital geral da cidade no dia 06/02 decidiram ocupar sob controle dos trabalhadores o centro de saúde. Diante do deterioramento do Sistema Nacional de Saúde, os cortes e as medidas de austeridade os trabalhadores da saúde respondem com métodos operários de luta e chamaram assembléias gerais para organizar sua luta e discutir seu auto-governo. Entre suas demandas incluem a restituição de seus salários e o direito de acesso ã saúde gratuita para todos. Além disso, decidiram atender somente os casos de urgência e propõem assistência médica gratuita para quem necessite. Fazem um chamado ã população para que se solidarizem com sua luta e convidam os trabalhadores de outros hospitais a seguir medidas similares.

No fechamento desta nota os trabalhadores do jornal Eleftherotypia, que estão em greve desde o dia 22/12/11 pelo pagamento dos salários atrasados desde agosto, decidiram ocupar a fábrica e editar um jornal próprio.

Estes sao alguns exemplos de ocupações de locais de trabalho que estão se desenvolvendo na Grécia. Com desigualdades, já que algumas ocupações são mais radicais e outras buscam desenvolver um modelo mais cooperativista, estas iniciativas dos trabalhadores mostram o clima que vive o país.


Sintomas de crise econômica e social

O nível de desemprego da Grécia passou de 13,9% a 21% em uma ano, mas entre os jovens a cifra chega a 50%. Ao entrar em seu quinto ano de recessão e tres pacotes de ajuste do PIB teve uma redução de 15%.

Junto a estes medidores da crise econômica e recessão, nos últimos meses aumentou a quantidade dos sem teto, em sua maioria trabalhadores desempregados que se vêem obrigados a dormir nas ruas, em bancos das praças e estações de trem. Podem ser vistos nos centros comerciais, se cobrindo com papelões para se proteger do frio europeu e revirando o lixo. Outro fenômeno que se estendeu no último período são as refeições populares que distribuem comida aos novos desempregados.

16-02-2012

 

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