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Um brinde ã unidade a todo o custo
por : Simone Ishibashi

12 Nov 2006 |

“Da política e dos partidos pode-se dizer - com as variantes correspondentes - o mesmo que dos indivíduos. Não é inteligente quem não comete erros. Homens que não cometem erros não existem e nem poderiam existir. Inteligente é quem comete erros que não são muito graves, e sabe corrigi-los bem e rapidamente”.

Lênin - O esquerdismo, doença infantil do comunismo. (1920)

A Frente de Esquerda foi um “acerto”?

Os revolucionários realizam balanços não para se justificar, mas para compreender seus erros, corrigi-los e avançar. Não é ã toa que, mesmo para um leitor atento, é tão difícil encontrar no balanço eleitoral do PSTU os argumentos que justificassem o “acerto”, pelo menos alguns que “compensem” os diversos “atropelos” que no mesmo artigo o PSTU não pode deixar passar. Infelizmente, no seu balanço eleitoral a direção do PSTU abstrai o resultado concreto da eleição na tentativa de apresentar seus erros como acertos. Inicia o balanço dizendo que “muitos tomam apenas o número de parlamentares eleitos como o elemento fundamental para o balanço das eleições”, e que “para nós, este é um critério equivocado”. Assim, tenta encobrir o fato de que em função de ter se diluído completamente atrás de Heloísa Helena e do PSOL, sofreu uma importante derrota nas eleições. Abrindo mão de lançar candidaturas aos cargos executivos, condenado suas figuras públicas a não terem nenhuma projeção, renunciando ao seu lema “contra burguês, vote 16”, suas candidaturas tiveram uma votação bastante inferior ã média de outras eleições. Seria cômico se não fosse trágico, ver como o PSTU se lamenta de que “nós apoiamos uma candidata a presidente que não apoiava nossos candidatos a deputados”. Deveria saber que a política de adaptação só pode levar a isso...

Não é verdade que a votação em candidaturas operárias seja uma questão secundária. Com esta afirmação o PSTU, para encobrir seu péssimo desempenho eleitoral, deseduca a vanguarda com uma discussão alheia ao marxismo. Seria ou não um avanço para a classe operária se esta pudesse contar com um deputado operário que atuasse no parlamento como um verdadeiro tribuno do povo, agitando uma política classista e denunciando desde dentro os limites da democracia burguesa?

A direção do PSTU sabe que sim apesar de tentar minimizar essa importância no seu balanço para não assumir sua responsabilidade. Essa discussão deseduca a vanguarda porque o resultado eleitoral expressa, ainda que de maneira distorcida, a consciência das massas e da classe operária, bem como a efetividade da atuação dos revolucionários em fazer com que seu programa ganhe um setor da classe operária. Existiam ou não as condições para que candidaturas classistas obtivessem mais votos que em 2002? É certo que os trabalhadores ainda mantêm grandes ilusões em Lula, porém a decepção provocada pelo seu governo abria sim espaço para o crescimento eleitoral de candidaturas classistas. A baixa expressão que a Frente de Esquerda obteve junto a estes setores resulta também do fato de que HH não se cansou de fazer gestos para atrair o apoio de setores burgueses. Assim, a maior derrota do PSTU foi sua renuncia consciente a agitar um programa classista, capitulando a discussão “ética-neodesenvolvimentista-cristã” de HH. Ao ficar a reboque de HH, e forjar argumentos para justificar esta permanência pacífica na Frente, a direção do PSTU se anulou politicamente perante a maioria de trabalhadores que votou e votará em Lula.

Um exemplo é a discussão de que a “Frente de Esquerda foi vitoriosa por ter rompido a falsa polarização” entre Lula e Alckmin. Em primeiro lugar essa discussão sobre o caráter “falso” da polarização entre Lula e Alckmin reflete o total descompromisso da Frente de Esquerda em dialogar com o movimento operário que vê claramente que existem diferenças entre os dois. A maior prova disso é que o próprio PSTU foi obrigado a abandonar essa posição para defender o voto nulo no segundo turno. Além disso, apesar da polarização nunca ter sido rompida, cabe perguntar: seria uma vitória “romper a falsa polarização” embelezando uma candidatura conciliadora, como a de HH? Não. Ou seja, com que programa, de que maneira, e em torno do quê se apresenta a principal candidatura da Frente pouco importa.

Mesmo quando nomeia as debilidades da Frente de Esquerda, - que longe de serem secundárias abarcam “somente” a questão do programa (!), o fato de “Heloísa ter defendido abertamente posições contrárias ã dos movimentos sociais”, e de ter tentado “com uma imagem menos “radical” crescer nas pesquisas” - o PSTU se coloca totalmente por fora, como se HH não fosse a sua candidata. A votação de caráter “ético” em HH não significou um avanço na consciência da classe trabalhadora e da vanguarda, como insiste em afirmar o PSTU. Prova disso é que num primeiro momento quase a metade dos eleitores de HH tendiam a votar em Alckmin e agora grande parte votará em Lula, desmentindo o PSTU quanto afirma que “podemos em geral atribuir estes votos (em Heloísa Helena) aos trabalhadores e jovens que rompem com o governo Lula pela esquerda”.

Concordamos com Valério Arcary no texto publicado a apenas dois dias das eleições no qual critica a visão não revolucionária de “socialismo” de HH, afirmando que “infelizmente, é o receio de perder votos que explica o discurso de Heloísa. Os socialistas não escondem seu programa em campanhas eleitorais ”. Mas se é assim porque o PSTU aceitou o programa rebaixado do PSOL na Frente? E porque a direção do PSTU, que não tem ilusões em Heloísa Helena, apresentou-a para a classe trabalhadora como uma “alternativa dos trabalhadores”?

O PSTU e o brinde ã “unidade” a todo custo

O PSTU quer transformar o erro em virtude, ao ressaltar como positivo o fato de ter atuado ao longo do processo eleitoral de maneira a preservar a “unidade” da Frente de Esquerda. Esta lógica de manutenção da unidade a todo custo tem como problema fundamental o simples fato de que esvazia completamente o conteúdo concreto dessa unidade. De maneira alguma a unidade deve ser separada ou abstraída dos interesses a que serve. E no caso da Frente de Esquerda é um fato inquestionável que a unidade costurada esteve a serviço de lançar a candidatura de Heloísa Helena, que como já dissemos para nada se colocou a serviço dos interesses estratégicos da classe operária e do povo pobre, privilegiando com seu programa anti-neoliberal pouco conseqüente e neodesenvolvimentista atrair setores da pequena-burguesia, dialogar com a burguesia “produtiva” e resgatar a “ética” na política. Assim, tratou-se de uma unidade que ao invés de favorecer os trabalhadores, favoreceu ninguém mais que a própria Heloísa Helena e os setores mais oportunistas do PSOL. O que há de “acerto” nisso?

Esta concepção lamentável se mostrou com tudo quando frente a uma notícia publicada na Folha de S. Paulo na qual se afirmava que as divergências na Frente de Esquerda haviam impedido a publicação do programa, o PSTU se apressou a dizer que a “unidade” não estava em risco. Seria muito mais educativo para os trabalhadores e a vanguarda se querer diminuir as diferenças, o PSTU tivesse travado em todos os espaços, e não só no Opinião Socialista, um combate por um programa capaz de responder aos interesses da classe operária. Mas essa não é a primeira vez que o PSTU abandona o seu programa em nome de uma “unidade” que só favorece a direções conciliadoras. Essa é a política que o PSTU defendeu no passado em relação a Lula e ao PT. No jornal da Convergência Socialista n° 9, de março de 1980, diziam: “Defendemos este PT e suas bandeiras de luta. E vamos combater aos que queiram modificar os objetivos traçados desde o inicio pelos companheiros Lula, Bittar... e demais dirigentes sindicais. Não queremos que o PT tenha o nosso programa”. Esse tipo de “unidade” a todo custo serviu e serve apenas para fortalecer as direções reformistas, e enfraquecer as posições dos revolucionários.

Só podemos concordar quando o PSTU expressa em seu balanço que “Deixou-se de lado uma oportunidade política muito importante. Com uma definição programática clara, poderíamos ter avançado a consciência de toda uma parte dos trabalhadores e da juventude, ao mesmo tempo em que prepararíamos as futuras lutas contra as reformas”. Agora cabe que a direção do PSTU chame a si a responsabilidade que tem frente a isso.

 

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