Por Marília Rocha, metroviária e militante da LER-QI
5 anos se passaram desde a última greve dos metroviários de São Paulo. De lá prá cá, o governo, a empresa e a mídia tentaram nos convencer de que já não era efetivo fazer greve, pois iriam substituir os grevistas com os supervisores e com o pessoal do administrativo. Fizeram um discurso mentiroso de que os metroviários são privilegiados que querem prejudicar a população, tentando jogar os usuários contra nós. A justiça, a serviço da empresa, tentou nos impedir de exercer nosso direito de greve, colocando ano após ano que uma greve teria que ter um funcionamento de 100% no horário de pico e 80 ou 90% no horário de menor movimento. A burocracia sindical do PCdoB e do PT, antiga direção do Sindicato dos Metroviários, tentou nos assustar dizendo que greve iria significar mais demissão e punição. Passamos por uma mobilização intensa no ano passado, onde a categoria estava disposta a fazer uma forte greve em conjunto com a CPTM, mas a atual diretoria do Sindicato (dirigida pelo PSTU e pelo PSOL) recuou e retirou a proposta de greve, perdendo uma enorme oportunidade.
Mas este ano os metroviários mostraram que todos estavam errados e que tem uma força capaz de parar a principal cidade do país. A estratégia de emergência da empresa para furar a greve foi um fracasso e a greve teve uma adesão massiva dos trabalhadores. Apesar das mentiras da imprensa, boa parte da população mostrou ter consciência de que os principais culpados pelo caos do transporte público são os governantes, chegando a fazer uma manifestação de centenas que parou os dois sentidos da Radial Leste, gritando palavras de ordem contra Geraldo Alckmin e Kassab, tendo como resposta uma brutal repressão da PM, que mostrou que de fato o governo não está preocupado com o bem-estar da população. Foi garantido o pagamento do dia parado, mostrando que a empresa não pode atacar com represálias quando a categoria está unida.
O acordo conquistado, porém, não está em consonância com essa força dos metroviários, apesar dos avanços econômicos. Era possível conquistar muito mais com uma mobilização ativa da categoria, mas infelizmente a diretoria do Sindicato não preparou a greve para que isso ocorresse. Nós, da LER-QI, que atuamos juntos aos independentes na corrente Metroviários Pela Base, insistimos desde o ano passado que era necessário organizar a categoria desde a base, organizando setoriais em todas as áreas, e elegendo um comando de mobilização democrático que pudesse dirigir a greve. Apesar da nossa insistência, o Sindicato se negou a organizar setoriais nas linhas, no setor da operação, seguindo com uma lógica caudilhesca de que quem constrói a greve é apenas a diretoria do Sindicato e dificultando o surgimento de novos ativistas e setores de vanguarda.
Por outro lado, ao contrário de lutar de fato pela nossa pauta, o Sindicato decretou greve defendendo a proposta do TRT, que era uma proposta de conciliação com a empresa. Isso foi o que levou a um rebaixamento das expectativas da categoria e a um sentimento de que era possível conquistar mais se estivéssemos organizados. Dessa forma o Sindicato deseduca a categoria de que devemos confiar no TRT. O mesmo TRT que exige um funcionamento impossível do Metrô durante a greve. Agora a empresa acusa o Sindicato de fazer uma “greve política” e é bem provável que esse mesmo TRT imponha uma multa ao Sindicato por conta dessa acusação.
É necessário tirar as lições dessa greve para avançar na nossa mobilização para as próximas lutas. Em primeiro lugar, devemos nos organizar para impedir qualquer tipo de retaliação seja feita contra os trabalhadores ou contra o sindicato, como assédio, descontos, demissões ou multas. Também devemos nos colocar contra o desconto do dia dos trabalhadores terceirizados do Metrô que não conseguiram chegar em seus trabalhos, como querem fazer as empresas terceirizadas de limpeza. Desde já devemos priorizar a mobilização pela base, com reuniões setoriais nas áreas periodicamente e eleição de delegados de base. Outra questão fundamental é avançar na relação com os usuários. O discurso do Sindicato de “desafio ao governo” para que abrisse as catracas para a população para evitar a greve se mostrou como um “blefe”, para pressionar a negociar. Pelo contrário, defendemos que a abertura de catracas deve ser um método dos próprios trabalhadores, conscientes e organizados, para ganhar o apoio da população, levantando as reivindicações dos usuários como a redução da tarifa e a defesa da expansão com qualidade do Metrô público e estatal, lutando contra a privatização e a terceirização. Uma mobilização que avançasse da greve para um método como esse, em aliança com a população, seria um primeiro passo para lutar estrategicamente por um Metrô sob controle dos metroviários e usuários a serviço das necessidades da população.
26-05-2012
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