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LVO: Podem nos contar brevemente quais são os principais temas deste novo número da revista Estratégia Internacional?
CCi: Este novo número aparece quando a crise capitalista entra em seu quinto ano e estamos vendo as primeiras respostas de massas, como a “primavera árabe” ou a resistência aos planos de ajuste na Grécia e no Estado espanhol, que com o desenvolvimento da crise e o ataque capitalista sobre os trabalhadores, os jovens e os setores populares, tenderão a se aprofundar. Esta situação nos coloca com urgência retomar o pensamento estratégico do marxismo revolucionário para colocar estas lições a serviço de construir fortes partidos operários revolucionários que possam intervir nos enfrentamentos decisivos que estão por vir. Neste sentido, a reflexão teórica da revista está dedicada ás discussões de tática e estratégia da III Internacional, em particular sobre a “frente única operária” e o “governo operário”, através de um contraponto entre o pensamento estratégico de Trotsky, Gramsci, e Clausewitz. Esta discussão tem uma grande atualidade política, como vemos nas polémicas desatadas na esquerda mundial sobre a posição frente ao Syriza na Grécia, em que muitas correntes da extrema esquerda recorreram a estas discussões da III Internacional para justificar uma política oportunista de apoio ao Syriza, discussão que está abordada no marco da análise da luta de classes e dos novos fenômenos políticos que a crise capitalista está gerando.
Outro eixo importante deste número é a reflexão em torno da construção de um partido operário revolucionário na Argentina, partindo do papel da esquerda anticapitalista e socialista, e em particular do PTS, no desenvolvimento da vanguarda operária e de juventude. A revista inclui, além disso: um artigo de Juan Chingo onde realiza uma análise profunda sobre a crise capitalista e suas conseqüências geopolíticas; um artigo de Paula Bach polemizando com Paul Krugman, o principal representante da corrente neokeynesiana. Também os comentários de Esteban Mercatante sobre o último libro de Andrew Kliman, e de Edison Salles sobre o livro China de Henry Kissinger, assim como uma nota de Andrea Robles na qual apresenta o lançamento das Obras Escolhidas de Trotsky coeditadas pelo CEIP e o Museu Casa de Leon Trotsky do México.
Por sua vez, dedicamos uma seção onde escrevem Pablo Torres, Cynthia Lub, Santiago Lupe e Pablo Oprinari, sobre a intervenção dos grupos da FT nos principais processos de luta do movimento estudantil e de juventude e a luta que estão dando para ligá-los ã classe operária, tanto no Chile, os companheiros do PTR acerca da luta do movimento estudantil pela educação pública e gratuita, como no Estado espanhol, os companheiros do Classe contra Classe no movimento dos indignados e dos processos de resistência operária, e no México os companheiros da LTS em torno do proceso #yosoy132.
LVO: Em que consiste o contraponto entre Trotsky, Gramsci e Clausewitz que mencionavam?
EA: Na realidade é um capítulo que adiantamos do livro Clausewitz, o marxismo e a questão militar que estamos escrevendo e esperamos publicar em breve. O centro do artigo está dedicado ã discussão sobre a tática de governo operário nos debates da III Internacional, as reflexões de Trotsky e Gramsci como parte destes debates. Até agora, em nossas elaborações anteriores, nós haviamos desenvuelto a partir do Programa de Transição, como Trotsky empregava a fórmula de governo operário como popularização da ditadura do proletariado e como política para desmascarar as direções oficiais do movimento operário em sua negativa de romper com a burguesía e tomar o poder, como fizeram por exemplo os bolcheviques entre março e setembro de 1917 durante a revolução russa. Também haviamos abordado o que Trotsky define como “hipótese improvável”, que cobrou especial importancia depois da segunda guerra mundial, com a revolução na China, Indochina, Cuba, etc., de que direções pequeno burguesas, incluídas as estalinistas, sob condições excepcionais, de chack financiero, guerra ou ofensiva das massas vão para além do que quiseram em sua ruptura ccom a burguesía. Neste artigo nos dedicamos especialmente a revalorizar a tática de governo operário tal como havia sido discutido no IV Congresso da Internacional Comunista, e em particular como colocava Trotsky para a revolução alemã de 1923, onde no mesmo sentido antiburguês e anticapitalista oposto a qualquer interpretação democratizante, com o que sustenta no Programa de Transição, coloca que o Partido Comunista Alemão forme um governo de coalizão regional com os setores de esquerda da socialdemocracia, em primeiro lugar, para armar o proletariado e desarmar a burguesía e assim acelerar a preparação da insurreição, com o objetivo de constituir “bastiões revolucionários” para a ofensiva a nível nacional.
Por sua vez, desenvolvemos em contraponto com alguns dos conceitos fundamentais de Clausewitz, como Trotsky articula constantemente a defesa e o ataque, a conquista e a utilização de posições e sua utilização para a ofensiva, para mostrar a estreita relação que estabelece entre a fórmula de governo operário e a estratégia, questão que tem sido totalmente desvalorizada nos debates e nas elaborações das correntes que se reivindicam do trotskismo do segundo pós guerra.
Tanto o estudo que estamos fazendo sobre Clausewitz, a volta aos debates dos primeiros congressos da III Internacional, as conclusões da revolução alemã de 1923, a discussão sobre a tática de governo operário e sua relação com a preparação da insurreição, etc., acreditamos que são discussões de primeira orden para se fazer hoje. Se, como sustentamos, efeticamente estamos frente uma crise histórica do capitalismo, o que significa que os revolucionários temos que nos preparar para grandes enfrentamentos entre revolução e contrarevolução no próximo período.
LVO: De fato, este último aspecto, como diziam, atravessa também a revista…
CCi: assim é, com este número da Estratégia queremos polemizar com uma tendencia muito extendida que vemos entre as correntes da esquerda mundial que se reivindicam trotskistas e que tornaram céticas coma capacidade da clase operária como sujeito revolucionário, e que frente a cada fenômeno político de certa envergadura tendem a ver “vías alternativas” ou “atalhos’, cujo correlato é a desvalorização constante das contradições destes fenómenos e tem como conseqüência o atraso na construção de fortes partidos revolucionários. Isso levou a adotar a estratégia de construir “partidos amplos” anticapitalistas sem delimitação estratégica nem de classe, como o NPA francés, baseados não na luta de classes, mas em espaços eleitorais ã esquerda do reformismo. Estes projetos estão em uma profunda crise, sob a pressão que exerce o reformismo de esquerda em suas fileiras, como vemos na paralisia e perda de militantes do NPA.
Como desenvolvo em meu artigo “Luta de classes e novos fenômenos políticos no queinto ano da crise capitalista”, grande parte das correntes de esquerda que se reivindicam trotskistas cedem a variantes reformistas de esquerda como Syriza na Grécia e Front de Gauche na França. Na Argentina, por exemplo, temos uma discussão pública com os companheiros do Partido Obrero que apoiaram o chamado de Syriza, a conformar um “governo de esquerda”, a que assimilam a tática de “governo de trabalhadores”, quando Syriza não apenas tem um programa de conciliação com o imperialismo da EU como, além disso, é uma formação parlamentar sem peso orgânico na classe operária.
Também neste número da revista, Simone Ishibashi e Eduardo Molina desenvolvem uma polêmica sobre a “primavera árabe”, principalmente com a LIT-CI (cujo principal partido é o PSTU do Brasil) e a UIT-CI (ao qual pertencem os companheiros as Izquierda Socialista), em particular com a concepção dessas correntes de “revolução democrática”, o que os levou nada mais nada menos que dizer que , na Líbia, apesar da intervenção militar da OTAN o que temos é um grande triunfo revolucionário.
LVO: Um dos artigos destacados da revista são os “Apontamentos do PTS sobre a construção de um partido operário revolucionário na Argentina. ” Podem sintetizar os eixos dessa reflexão?
EA: Trata-se de pensar as vías para o surgimento de um partido revolucionário na situação atual. Como desenvolvem Christian Castillo e Fernando Rosso no artigo que mencionava, o que poderiamos chamar de “extrema esquerda” tem a particularidade de que enfrenta a crise capitalista relativamente fortalecida, em que apesar de que nos últimos anos o que vem primando são as ilusões reformistas, a esquerda revolucionária desde 2001 é um ator existente no cenário nacional. Desde a crise de 2008 entre o governo e as patronais arárias, e especialmente desde a grande luta de Kraft de 2009, existe uma tendencia ã emergencia da esquerda operária, socialista e anticapitalista, dentro da qual acreditamos humildemente que o aporte de nosso partido vem sendo chave para que esta tendencia não se dilua por tras de variantes patronais, assim como em sua articulação em torno da Frente de Esquerda e dos Trabalhadores. É neste marco que na revista abordamos diferentes hipóteses para o surgimento de um partido revolucionário que compreendem tanto da proposta de um “partido de trabalhadores sem patrões” como no chamado a discutir a conformação de um partido revolucionário unificado ás forças da FIT. Uma discussão que consideramos fundamental, já que do avanço neste sentido depende a própria luta por uma estratégia onde a classe operária conquiste a hegemonía sobre o resto dos oprimidos e aprensente uma alternativa revolucionária frente ao governo kirchnerista e as variantes patronais que se propõe a descarregar os efeitos da crise sobre as costas dos trabalhadores e do povo.
Todas as reflexões estratégicas que desenvolvemos na revista vão neste sentido de nos prepararmos para estar a altura das contradições que a própria crise deixa colocadas, por isso são parte da reflexão sobre as vias para a reconstrução da IV Internacional e o desenvolvimento de partidos revolucionários com forte peso na classe operária.
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