Por CCR Corrente Comunista Revolucionária do NPA (França), Clase contra Clase, Estado Espanhol , RIO - Organização Revolucionária Internacionalista, Alemanha,
14N- TENDÊNCIAS A UNIFICAÇÃO DA LUTA DOS TRABALHADORES DA EUROPA
No próximo 14N se realizará uma greve geral no Estado Espanhol, Portugal, Chipre, Malta e possivelmente Grécia, aos quais já se tem somado Itália com uma paralisação de 4h. Também serão realizadas mobilizações em outros estados europeus como França. Apesar de seus limites, esta é a resposta mais massiva até o momento por parte dos trabalhadores aos planos de austeridade. É um novo ato de resistência a uma crise de caráter histórico, que os governos e os capitalistas estão descarregando sobre os trabalhadores, a juventude precária, o povo pobre e os setores médios arruinados. Desde 2009-2010 os governos europeus estão aplicando duros planos de “austeridade” nos países onde mais golpeia a crise, enquanto suas medidas reacionárias se estendem, ainda que no momento mais mediadas, em outros como a França de Hollande e sua recente bateria de medidas de apoio ã competitividade empresarial.
As burguesias das principais potências imperialistas da eurozona, com Merkel encabeçando-as, buscam que sejam os trabalhadores os que paguem o essencial do enorme ciclo de endividamento do período de crescimento anterior e do enorme aumento do gasto estatal – consequências das medidas de resgate aos bancos e ás grandes empresas como produto da crise. Por hora tentam uma liquidação pura e simples de todas as conquistas conseguidas por anos de luta do movimento operário como passo para uma reestruturação das condições de trabalho a favor do capital, que possa relançar as principais potências europeias na feroz luta competitiva mundial.
A crise política se aprofunda: Não nos representam!
A crise capitalista vem acelerando a crise dos diferentes regimes, expressa no desprestígio dos principais partidos que vem aplicando os cortes, tanto dos partidos socialdemocratas (como o PASOK grego ou o PSOE na Espanha) como os conservadores. O grito dos “indignados” do Estado espanhol em maio de 2011 “Não nos representam!” é expressão de um sentimento profundo e generalizado, fundamentalmente entre a juventude estudantil e trabalhadora. Neste marco se tem fortalecido novas alternativas políticas ã direita e ã esquerda, dando lugar a fenômenos de polarização política. Pela direita tem se fortalecido tendências xenófobas, diretamente neonazis como Aurora Dourada na Grécia ou com um caráter mais populista como o FN na França. Frente ã gravidade da crise social e a ofensiva do imperialismo alemão sobre os estados mais débeis da UE, estes setores fazem demagogia com programas “soberanistas” ou “protecionistas”.
Hoje organizações como Aurora Dourada põem no centro de seus ataques os (em espanhol está aos, mas creio que tá errado) imigrantes, e em menor medida a esquerda, mas com o desenvolvimento da crise serão utilizadas contra as organizações operárias e de massas. Por outro lado tem se fortalecido correntes reformistas de esquerda, como Syriza na Grécia ou o Front de Gauche na França. Contudo, frente ã gravidade da crise capitalista só oferecem programas de reformas nos marcos da UE. Inclusive temos visto uma moderação crescente de seu discurso para ocupar espaços eleitorais ante a crise da socialdemocracia, como sucedeu quando o Syriza mudou sua consigna de “Não pagamento da dívida” para a de “Renegociação da dívida” poucos dias antes das eleições e dia a dia continua seu giro oportunista. Suas demandas de um plano financeiro neokeynesiano, frente ã “austeridade” da Alemanha, os localizam como flanco esquerdo da frente imperialista impulsionada por Obama e que tem em Draghi, Hollande e Monti alguns de seus melhores aliados, ainda que por hora não tenham podido quebrar o eixo da política europeia imposto por Merkel. Outros setores propõem saídas “desvalorizadoras”, como o KKE na Grécia. Nenhuma destas variantes reformistas oferece uma verdadeira alternativa para os trabalhadores e o povo empobrecido frente ã crise.
Por uma Greve Geral Européia
Antes do 14N e somente no ano de 2012 foram realizadas 6 greves gerais na Grécia –são 25 no total desde o ano de 2008-, uma no Estado Espanhol – pela primeira vez em sua história realizarão duas greves gerais num mesmo ano-, duas em Portugal além de múltiplas mobilizações que tem feito retroceder recentemente o governo conservador, uma na Bélgica, uma greve de funcionários públicos na Grã Bretanha, as primeiras mobilizações na França contra o governo socialista apoiado pelas direções sindicais que mostram os primeiros sintomas de uma recomposição da vanguarda depois da derrota da grande luta contra as aposentadorias em 2010, além de massivas manifestações na Itália, Republica Checa e Romênia, Eslovênia e recentemente Croácia contra as medidas de austeridade. Tudo isso constitui uma onda de resistência ás medidas coordenadas pela Troika e aplicadas pelos governos a benefício da patronal e da burguesia, tanto nos países do norte da Europa como nos do sul. A isto tem que somar a emergência da juventude, os “indignados” do Estado espanhol e Grécia, o movimento “Occupy” em Londres, o movimento estudantil na Itália, Estado espanhol e outros países, mas também setores – ainda minoritários- na Alemanha que estão começando a se mover, como “Blockupy” ou o movimento de refugiados em Berlim. Na Grécia, frente a um novo pacote draconiano do governo, se realizou outra greve geral de 48h nos dias 6 e 7 de novembro.
Toda essa energia e a tendência ã unidade entre os trabalhadores e a juventude “indignada” tem que se expressar com força na Greve Geral do Sul da Europa neste 14N, para a qual se deve preparar de forma ativa desde as bases, com assembleias e comitês de greve em cada lugar de trabalho e estudo, chamando a mais ampla unidade e mobilização para que seja o inicio de um plano de luta generalizado. As burocracias sindicais estão fazendo precisamente o contrário. Nos diversos países vem chamando por greves ou manifestações isoladas, como parte de uma política de pressão sobre os governos europeus para que “moderem” os planos de austeridade, sem preparar uma resposta ã altura da crise e sem questionar os princípios da UE. Frente aos planos de austeridade coordenados pela Troika, somos parte da luta contra os cortes e pela defesa das conquistas trabalhistas e sociais que estão sendo atacadas brutalmente. É necessário desenvolver a potencialidade da greve geral, com a unidade desde as bases e a generalização dos organismos de auto-organização para superar a política de “pressão e negociação” da burocracia sindical europeia. Defendemos a necessidade de preparar uma verdadeira greve geral e mobilizações em escala continental contra a Europa do capital, que abarque não só os países do Sul da Europa, senão também os do norte e do leste europeu, quintal dos principais países imperialistas da União Europeia.
Um programa operário e popular de saída para a crise
Ao mesmo tempo, frente ã gravidade da crise capitalista, é necessário um programa operário e popular que vá até o final, que não tente “moderar o capital e os mercados”, nem salvar um setor capitalista nacional contra outro, senão questionar pela raiz os grandes capitalistas e seu estado. Um programa que possa dar uma resposta ã paralisação de massas, colocando a repartição das horas de trabalho entre ocupados e desempregados sem rebaixar o salário. Exigindo que toda empresa que feche ou demita massivamente seja ocupada e posta sob controle operário junto ã renacionalização das empresas privatizadas sob controle de seus trabalhadores e usuários. Na Alemanha em particular, assim como nos outros países credores, a principal tarefa da esquerda revolucionária é de enfrentamento ao nosso próprio imperialismo e ás tentativas de semicolonizar os países mais débeis da UE. Essa luta anti-imperialista é fundamental para soldar a solidariedade com as lutas no sul da Europa –já que o avanço do imperialismo alemão só se pode frear pela luta em comum dos trabalhadores e da juventude da Alemanha e de toda Europa-, a la vez que como medida de autodefesa da própria classe operária alemã, que pagará com maiores ataques a suas conquistas o fortalecimento reacionário do imperialismo alemão. Ao mesmo tempo nos países mais golpeados pela crise é necessário lutar por: Não ao pagamento da dívida! Entretanto isso não pode se tornar efetivo se não lutarmos ao mesmo tempo pela nacionalização dos bancos sob controle dos trabalhadores, expropriando sem indenização os grandes bancos privados. Esta é a única forma de perdoar as dívidas onerosas dos trabalhadores e pequenos poupadores, frear os despejos e revitalizar o crédito barato para os pequenos produtores. Contra o aumento das tendências xenófobas estimuladas pelo grande capital para dividir a classe operária entre nativos e imigrantes, os mais golpeados pela crise em todos os países, levantamos a necessidade de anular todas as leis de imigração e discriminatórias, assim como plantear a completa igualdade de direitos entre nativos e estrangeiros.
Lutamos por verdadeiras frentes únicas das organizações operárias, dotadas de comitês de autodefesa contra os grupos fascistas como Aurora Dourada. Ao mesmo tempo, devemos rechaçar toda intervenção militar dos exércitos de “nossos” imperialismos nos países semicoloniais, como foi o caso na Líbia, segue sendo no Afeganistão e eventualmente pode se preparar para Síria ou Mali. Contra toda opressão nacional, levantamos o direito ã autodeterminação das nacionalidades oprimidas, como no caso da Catalunha e do País Basco no Estado Espanhol, entre outras. A expropriação do punhado de grandes grupos capitalistas que controlam a economia nos principais países da UE, é uma questão de vida ou morte se não queremos ser os trabalhadores, os jovens, as mulheres trabalhadoras e os imigrantes os que paguemos “sua crise”. Só um programa ofensivo – e não o programa tíbio e reacionário da CES e das burocracias sindicais nacionais- que toque os interesses do capital pode desatar as energias e a mobilização consequente dos explorados, dar base a uma mudança da relação de forças que permita derrotar as políticas antioperárias e os governos e estados capitalistas que as aplicam, dando lugar a um governo dos trabalhadores.
Nem a Europa do Capital nem uma volta ao protecionismo nacional xenófobo e reacionário. A única saída estratégica são os Estados Unidos Socialistas da Europa.
É tão reacionário o programa que levantam os setores que querem manter a todo custo a Europa do Capital (o que transforma em uma ilusão utópica e perigosa a política de reformá-la no caso da esquerda reformista), como o daqueles que apostam em saídas desvalorizadoras e protecionistas em benefício de suas próprias burguesias nacionais. No marco da crise capitalista mais profunda desde os anos ’30, as burguesias de cada país estão levando a Europa a um novo beco sem saída. Buscam salvar-se ás custas dos trabalhadores, impondo os interesses de um setor capitalista sobre outro e aumentando crescentemente as tensões entre os estados. Frente a este caminho oneroso e o perigo de uma volta a um protecionismo nacional reacionário e xenófobo, como marxistas revolucionários, dizemos que a única saída progressista para os trabalhadores e os setores populares é a criação dos Estados Unidos Socialistas da Europa. Somente a classe operária aliada ao conjunto dos setores populares pode conseguir uma verdadeira união voluntária dos países europeus, que supere as reacionárias fronteiras nacionais ao mesmo tempo em que sepulte a Europa do capital.
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