por Eduardo Molina , Graciela López Eguía 6 de dezembro de 2012
Por 131 a favor, 9 contra e 41 abstenções a Assembléia Geral da ONU admitiu em 23/11 a Palestina como “estado observador”. Essa votação foi uma derrota diplomática para Israel e EUA, que reflete o descrédito do Estado sionista e o debilitamento da hegemonia dos EUA. As mudanças no oriente médio após a Primavera Árabe, são sentidas inclusive na rarefeita atmosfera das alturas diplomáticas da ONU. Desta forma, enquanto Espanha, França, Itália e Rússia votam a favor, estreitos aliados de Israel como Alemanha preferiram abster-se e não acompanhar Obama e Netanyahu na sua campanha contra a admissão da Palestina, pois buscam melhorar sua imagem no mundo Árabe.
Os palestinos têm comemorado o estatuto outorgado ã Autoridade Palestina como um êxito e um passo até o reconhecimento internacional do direito de ter seu próprio Estado. Esse reconhecimento “platônico” é sobre as bases das fronteira de 1967 (consagrando o Estado de Israel e suas conquistas militares até este ano); não implica em seu reconhecimento como membro pleno da ONU, só habilita o acesso a algumas instituições internacionais (Israel quer evitar que possa apresentar demandas ã Corte Internacional de Justiça) e também não significa passos concretos até a constituição como Estado.
O governo de Netanyahu, que está sofrendo uma derrota política de ter que negociar uma trégua com o Hamas depois dos bombardeios em Gaza, contestou ratificando que não vai ceder na sua política de opressão sobre os palestinos. Em represália, habilitou a construção de 3 mil casas para colonos judeus na Jerusalém do Leste(de população palestina) que vai cercear a continuidade territorial com a Cisjordânia, e a retenção de impostos para a Autoridade Palestina.
Nem “dois estados”, nem “um estado”...
O Estado de Israel é um estado artificial, criação do imperialismo em 1948 como ponta de lança contra os povos árabes. Desde sua fundação tem se baseado na “limpeza étnica” para fabricar uma “maioria judia”, expulsando milhões de palestinos de suas terras, condenados em sua grande maioria a viver como parias nos campos de refugiados em Gaza, Síria, Jordânia, Líbano, etc.
Com as sucessivas guerras, como a “Guerra dos seis dias” em 1967, o Estado sionista ampliou suas fronteiras isolando ainda mais os palestinos na faixa de Gaza e Cisjordânia, submetidas a um estreito controle fronteiriço, aéreo e marítimo onde Israel se dá o “direito” de fazer incursões militares quando crê conveniente como a operação “chumbo fundido” (2009) e o recente “Muralha defensiva” contra Gaza.
A estratégia de Tel Aviv é absorver o quanto for possível destes territórios, instalando colônias e ocupando suas melhores terras agrícolas e recursos hídricos, para deixar os palestinos isolados em pequenos “bantustões” (áreas em que o regime racista sulafricano queria enquadrar os povos negros –algo parecido a “reservas indígenas”). O plano reacionário dos “acordos de Oslo” de negociar uma caricatura de Estado palestino (sem continuidade territorial entre a pequena faixa de Gaza e a Cisjordânia) subordinando o Estado de Israel e sob sua ameaça militar tem se perdido porque Israel avançou muito mais na colonização dos territórios nestes anos.
Por isso o rechaço a Tel Aviv aos velhos acordos e as insinuações de Obama de tomar as fronteiras de 1967 como base para negociar entre o Estado de Israel e a Autoridade Palestina. Se era uma utopia reacionária imaginar que esse plano imperialista de “dois estados” permitiria aos palestinos alcançar sua autodeterminação nacional, hoje é praticamente inviável, salvo como um pequeno arquipélago de “bantustões” palestinos submetidos ao apartheid sionista. Para o governo israelense, a constatação de que a heróica resistência não poderia estar disposta a este “pseudo-estado” levou a uma radicalização da opressão e avançar ainda mais no processo de colonização. Porém este curso, após a Primavera Árabe e a queda revolucionária de agentes diretos do imperialismo e aliados a Israel como Mubarak no Egito, vai na contramão da correlação de forças regional, onde as mobilizações no mundo árabe dão um novo alento a resistência palestina.
Os planos de resolver o problema histórico palestino em “um estado”, “democratizando” o Estado de Israel, também são inviáveis e utópicos. O Estado sionista é um enclave colonial que está fundado sobre a unidade entre Estado e região. Este aspecto teocrático está sistetizado na instituição do Rabinato para reger as pautas culturais e sociais da vida civil, o financiamento de 1,5 milhão de judeus ortodoxos, um orçamento oneroso (juntamente ao militar e colonial) contra o que protestava o movimento de indignados que pedia “justiça social” em 2011.
É impensável reformar um regime colonial sustentado sobre a Força de “Defesa” de Israel, armada pelo imperialismo e que conta com capacidade nuclear). Este exército de ocupação de cidadãos-soldados formado sobre a base das velhas milícias sionistas que faziam atentados contra os camponeses palestinos antes da fundação do Estado, é a garantia do salto da quantidade de colônias e ocupações de terra em Jerusalém oriental e Cisjordânia. É impossível transformar o Estado sionista e essa monstruosa maquinaria militar em uma “democracia” que inclua o povo palestino em pé de igualdade, permita o retorno dos milhões de expulsos e lhes devolva suas terras.
Qual é a estratégia para a libertação nacional palestina?
A justa causa nacional palestina e o pleno respeito a seu direito a autodeterminação não podem ser alcançados nem pela via de colaboração direta com o imperialismo que propõe Mahmud Abbas e sua organização Al Fatah que governam a Cisjordânia, nem pela via da resistência islamista do Hamas que governa a Faixa de Gaza e outros grupos.
A via da colaboração com o imperialismo e com as autoridades sionistas, reconhecendo o Estado de Israel e as fronteiras de 1967, que é a estratégia capituladora do governo de Al Fatah, tem facilitado aos governantes israelenses a impor esta atual situação. O reconhecimento simbólico na ONU com o que Mahmud Abbas espera reconquistar sua popularidade ao mesmo tempo em que busca acalmar e seguir negociando com Israel, não vai obrigar Tel Aviv a retroceder em suas conquistas.
Nem oferece uma saída a política do Hamas, que por mais que se oponha ã ocupação sionista, confia na aliança com os governos burgueses muçulmanos, como faz com Irã e agora com o Egito de Mursi (que está reprimindo os protestos contra sua tentativa de concentrar poderes para consolidar os desvio do processo revolucionário) e o regime do Qatar (um dos emirados petroleiros associados ã Arábia Saudita, que constituem a vanguarda contrarrevolucionária contra a Primavera Árabe), para os quais o movimento palestino é moeda de troca em seus negócios com o imperialismo. O programa do Hamas pretende erigir um estado islamista (um projeto político reacionário) não chama a unidade com a classe operária e as massas árabes, não confia na mobilização de massas.
O caráter e programa dessas direções impõe seus limites e divisões tanto no terreno político como no terreno militar para a resistência palestina. Esta tem uma longa tradição de autodefesa armada diante da opressão israelense, direito que defendemos incondicionalmente.
Apesar da enorme disparidade de forças, suas distintas organizações se enfrenta ocasionalmente ao exército de Israel, como temos visto na recente crise em Gaza. Mas cada corrente mantêm sua própria estrutura militar como instrumento de sua própria política e ás vezes segundo critérios confessionais, impedindo o armamento das massas e o desenvolvimento das milícias operárias e camponesas auto-organizadas e centralizadas. Assim, Al Fatah converteu a suas próprias milícias em força repressiva na Cisjordânia, com a ajuda dos serviços de inteligência egípcios e para colaborar com a “segurança” de Israel. Hamas mantêm seu próprio aparato militar em Gaza, utilizando também para reprimir setores que escapam de seu controle. Outros grupos da resistência como a Yijad Islà¢mica recorrem as vezes a ações de terror inconsultas e contraproducentes (concedendo pretextos para que Israel tente disfarçar sua brutal opressão como “defesa contra o terrorismo islà¢mico”).
Ao contrário, o método de mobilização revolucionária, operária e popular, baseado na autodeterminação e independente dos projetos de conciliação burgueses, é o caminho para encarar as tarefas políticas e militares da luta palestina.
Distintos marcos da heróica resistência palestina, como as longas lutas das “intifadas” mostraram essa via, porém as características do Estado colonialista e a extrema condensação de interesses e contradições de todo tipo no Oriente Médio, não é um caminho que as massas palestinas possam recorrer sozinhas. Necessitam impiedosamente a mais estreita aliança com a classe operária árabe em seu conjunto, que tem o Egito a sua mais poderosa expressão: um proletariado industrial e de serviços de milhões. Nos países árabes há uma ampla simpatia pela causa palestina e grande repúdio ao Estado sionista. Sua própria luta pela libertação nacional e a resolução de suas demandas é inseparável da luta contra o enclave imperialista do Estado de Israel. A luta nacional palestina está no coração da própria revolução árabe.
Abaixo o Estado sionista!
Os socialistas revolucionários partem do apoio irrestrito e incondicional a resistência palestina e ao pleno direito de autodeterminação do povo palestino, isto é, o direito do povo palestino ter seu próprio Estado no território histórico do que foi despejado em 1948. Isto exige o desmantelamento até os escombros do Estado sionista de Israel, e sua máquina militar. Os trabalhadores e jovens judeus que rechacem o plano colonialista e belicista dos Netanyahu e cia. devem romper com o bloco sionista e estender sua mão ã justa luta do povo palestino, pois como dizia Marx, apelando ao apoio dos operários ingleses a rebelião da então colônia da Irlanda: “nenhum povo que oprime outro pode ser livre”.
A legítima aspiração nacional palestina só pode ser garantida efetiva e integralmente mediante a instauração por via revolucionária de uma Palestina operária e socialista sobre o conjunto do território histórico, em que poderão conviver em paz e com plenos direitos árabes e judeus.
Isto é, como produto de uma revolução dirigida pela classe operária e as massas palestinas, que devem combater contra um poderoso opressões em condições muito difíceis, entre ela a dispersão imposta ás suas forças (uma parte dos palestinos trabalham sob ordens de patrões israelenses). Esta tarefa é parte inseparável da luta do proletariado e das massas árabes, e a que também deverá ser incorporada aquela fração da classe operária israelense que rompa com o sionismo e se some a luta por acabar com o imperialismo na região. O retorno das mobilizações no Egito da poderosa classe operária e de setores populares, em meio ao novo enfrentamento palestino-israelense, abre uma nova perspectiva para a causa palestina.
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