Por CCR Corrente Comunista Revolucionária do NPA (França)
O congresso se deu após a fenomenal crise que o NPA atravessou, e que levou a que a maioria da direção histórica da ex-LCR se dividisse e um importante setor desta se dissolvesse no Front de Gauche (FG), constituindo a Gauche Anticapitaliste (GA) em seu interior. Por outro lado, a saída de militantes prossegue, fazendo com que hoje o número de votantes para o Congresso seja pouco maior que a metade dos militantes que a LCR declarava ter em 2007, antes do lançamento deste projeto de partido ou ainda dos que contava o NPA há dois anos (algo menos de 1700 votantes contra 3500 no congresso de 2011).
Neste marco, o objetivo da maioria era “reunificar” o partido, posicionando-o como interlocutor válido da Front de Gauche, na busca de uma oposição de esquerda contra o governo de Hollande de caráter permanente ou estratégico com correntes reformistas, como é a FG, composta essencialmente pelo stalinismo clássico do PCF e uma corrente socialdemocrata republicana em torno de Mélenchon. A expressão máxima deste giro é a fórmula de conciliação de classes de “governo anti-austeridade”, adotada pelo Congresso, em paralelo com a estratégia da FG nesta “nova etapa” de “impor uma alternativa ã austeridade” (“La stratégie du Front de gauche sur papier”, Le Monde 29/1/2013).
Porém, apesar deste brutal giro ã direita (ver a declaração da Plataforma Z no final do Congresso), a tentativa de recomposição do NPA que tenta levar adiante a atual maioria em torno de Krivine, Sabado e Besancenot é incerta, não tanto por sua apertada maioria interna (apenas 50,6% da nova direção) mas fundamentalmente porque o projeto do NPA segue em um impasse estratégico. É que sem decidir-se neste momento a se dissolver no reformismo (em parte pela sua origem de 1968 que deu lugar a uma esquerda trotskista organizacionalmente independente, em parte pela relação de forças atual desfavorável com os reformistas), esse setor expressa um profundo ceticismo histórico em relação ás potencialidades revolucionárias do movimento operário e suas lutas – resultado de um revisionismo sobre o caráter da época, o programa, e o tipo de partido depois do fracasso da experiência stalinista no começo dos anos 90 – que os leva a ter como orientação a busca permanente de atalhos na construção do partido.
Hoje isso se expressa frente ao ascenso de correntes reformistas na Europa e França em copiar ou se adaptar ã política da FG para não ficarem marginalizados, arriscando a que sua aposta fracasse novamente, não tirando proveito da crise e gerando recorrentemente novas alas de direita que atuam da mesma forma, podendo decidir ir ã FG (a GA foi a ruptura mais importante do NPA, mas foi precedida por outras duas cisões, além de dezenas de militantes individuais que terminaram na FG).
A falta de audácia e a impotência da esquerda
Mas se esta frágil tentativa de recomposição pode ter uma maioria é em grande parte responsabilidade da esquerda do partido, agrupada em torno da Plataforma 2/Y dirigida por um setor proveniente da ex-JCR. Este setor, ainda que seja resistente aos giros mais oportunistas da maioria, tanto no plano nacional como internacional em que forma parte a ala esquerda do SU, é incapaz de apresentar uma alternativa de conjunto a este giro oportunista devido a que, ainda que haja avançado em elementos de delimitação com o reformismo em seus textos para este Congresso, compartilha com a maioria atual as bases teóricas e políticas dos partidos amplos anticapitalistas, isto é, de partidos sem uma clara delimitação estratégica de classe.
Ao ter abandonado o projeto de construção de um partido proletário, não põe toda sua energia na implantação nos setores estratégicos da classe operária – única força que, não por essência, mas pelo papel que tem na produção e reprodução do sistema capitalista pode articular de trás de si como tribuno do povo (e não de forma obrerista ao estilo da Lutte Ouvrière, a outra grande organização do movimento trotskista francês) aos interesses do conjunto dos setores explorados e oprimidos, os milhões de imigrantes, os jovens das periferias, a luta de gênero, contra o racismo e toda opressão assim como a questão ecológica. Mas para isso os revolucionários devemos nos fundir com o melhor da vanguarda operária para que o programa transicional socialista, que sintetiza a estratégia e a tática revolucionária do marxismo a partir de sua experiência histórica, se transforme em força material nos próximos combates, único programa que unido ã classe potencialmente revolucionária pode liquidar a exploração e a opressão.
Assim, a ausência de um projeto estratégico de partido oposto pelo vértice ao da maioria se expressa em uma permanente falta de audácia, que os leva a tentativa fracassadas de reconciliação sem princípios com a maioria e a uma atitude sectária com os que lutamos por uma política e orientação decididamente revolucionária no NPA. O resultado de seus zig-zags permanentes é a perda de peso desta corrente desde sua formação e inclusive com respeito ao último Congresso (retrocedendo em termos absolutos de cerca de 1000 a 500 votos), abrindo espaço para a direita pelos chamados ã unidade da maioria e a desmoralização de centenas de militantes, que viam neles a possibilidade de uma regeneração pela esquerda do NPA desde as primeiras pressões eleitoralistas com o FG.
O avanço da esquerda revolucionária
Neste marco, a única corrente que não só aumentou sua porcentagem, mas cresceu em termos absolutos no Congresso é a ex-P4, atual Plataforma Z, integrada pela Corrente Comunista Revolucionária (CCR). Assim, em 2011 a P4 obteve 120 votos (3,5%), e em 2013, apesar da queda brutal do número total de militantes, a PZ teve 145 votos (9%), expressão ainda pequena mas real de que há militantes que buscam uma saída revolucionária para a crise do NPA.
Em suas lutas políticas durante as assembleias previas e no congresso, a PZ não só foi o setor que se opôs ao giro oportunista da atual maioria, como também a que assinalava os desacordos estratégicos e os limites dos camaradas da P2/Y, os chamando a romper com todo compromisso com a maioria e todo o sectarismo em relação ã atual maioria. Lamentavelmente, este chamado não foi escutado e a P2/Y terminou se limitando a tarefas elementares e mínimas que nem sequer constituem uma orientação clara para os próximos meses, menos ainda um grito de guerra contra o giro ã direita que se impôs no recente Congresso.
Mas o crescimento da PZ e da CCR não é só expressão de um fenômeno no interior do partido. Sobretudo é a expressão decidida de construção de uma política revolucionária na realidade, como demonstram as atividades de reagrupamento da vanguarda em que colocamos nossas forças, ou da luta ideológica para colocar o trotskismo na ofensiva com o ciclo Por que Trotsky?.
Estas ações de defesa aberta das ideias revolucionárias, de intervenção decidida na luta de classes, permitiram a adesão de novos militantes ás ideias revolucionárias, em uma dinâmica inversa ã do conjunto do partido, militantes que hoje lutam pelas mesmas ideias no interior do NPA. Estes avanços são um pequeno exemplo do que a extrema-esquerda poderia fazer na França, começando pelos companheiros da P2/Y, caso se decidisse a romper ofensivamente com políticas como a da maioria que só podem levar o NPA ao fracasso. As tentativas de reagrupamentos da vanguarda operária e os grandes combates de classe por vir fazem com que a necessidade de uma política revolucionária e de um reagrupamento dos revolucionários sobre novas bases seja mais urgente que nunca.
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