Após os maiores protestos de massas que o país já viu desde o Fora Collor, o movimento conquista uma importante primeira vitória. Impôs nas ruas, enfrentando a repressão brutal da polícia, a revogação do aumento das tarifas do transporte coletivo em São Paulo, e no Rio de Janeiro. Com isso a tarifa do ônibus e metrô em São Paulo volta a custar R$3,00 e no Rio de Janeiro, R$2,75. Alckmin, governador de São Paulo, tenta se relocalizar dizendo que estaria fazendo um “grande esforço”, enquanto Haddad continua o discurso chantagista de que “investimentos serão comprometidos”. Sabemos muito bem que essas declarações são falsas, pois as máfias do transporte público continuarão lucrando horrores. Por isso nos juntamos ás centenas de milhares de pessoas, que por diversas cidades do Brasil saíram ás ruas, demonstrando a força que têm quando rompem as amarras do imobilismo, e que agora encaram este recuo dos governos do Rio e de SP como uma vitória sua!
Entretanto, como todos sabemos, nossa luta vai bem além dos vinte centavos! É preciso seguir a mobilização até que de fato conquistemos passe livre para os jovens, aposentados e trabalhadores desempregados! Para que estatizemos o transporte coletivo, sem indenização, e o coloquemos sob controle dos trabalhadores! A manifestação convocada para amanhã, dia 20/06, deve comemorar esta vitória, mas não apenas isso. Deve seguir a luta para responder efetivamente ás nossas demandas!
Não voltaremos ã normalidade! Vamos por mais!
A força das manifestações do dia 17 de junho
Após o dia 17 de junho de 2013 que marcou definitivamente um momento de inflexão para os governos de diversas cidades do país e do governo federal, e um salto na adesão aos atos que ocorrem desde o início de junho. As manifestações contra o aumento dos transportes se nacionalizaram definitivamente com atos em 12 capitais do país, e diversas cidades de vários estados, levando centenas de milhares de pessoas ás ruas também contra os absurdos gastos nas obras faraônicas para a Copa do Mundo e a Copa das Confederações, sendo as maiores desde o processo do Fora Collor em 1992. Isso levou a mídia burguesa a noticiar que estamos diante de “um país em protesto”. As estimativas oficiais variam entre 215 mil e 300 mil manifestantes por todo o país, porém é provável que meio milhão de pessoas tenham se mobilizado, contando ainda com um grande apoio passivo, que se expressa nas enquetes realizadas pela mídia, e também pelos aplausos que as marchas recebem por onde passam. Eram cerca de 120 mil pessoas só no Rio de Janeiro, enquanto em São Paulo eram aproximadamente 100 mil, ainda que a mídia burguesa afirme ter juntado 65 mil pessoas.
A importância da onda de manifestações que tomou o país na noite de ontem não se restringe ã sua amplitude, mas por assumir cada vez mais claramente um caráter político, ainda que até o momento seja também difuso. Esta feição difusa se concretiza na própria composição social do movimento, bastante policlassista, e com grande presença da classe média. Mas isso não significa que os setores populares e de trabalhadores estão se omitindo, pois também estão atuando no interior das manifestações e em todas as cidades apoiando massivamente, ainda que passivamente, as demandas do movimento. Mas mesmo essa feição difusa não impediu que o crescente descontentamento político se fizesse sentir de maneira clara, tendo as sedes de poder de cinco capitais do país sido o alvo das manifestações.
Em Brasília centenas ocuparam o teto do Congresso apoiados por milhares, enquanto no Rio de Janeiro parte dos manifestantes apedrejaram o prédio da Assembleia Legislativa e obrigaram a polícia a se refugiar; em São Paulo manifestantes foram reprimidos pela polícia quando tentavam chegar no Palácio dos Bandeirantes; em Curitiba manifestantes também ocuparam a sede do governo do Estado, bem como em Porto Alegre. Na noite de terça-feira mais de 50 mil pessoas estavam em ato, enquanto setores tentaram ocupar o prédio da prefeitura de São Paulo, e foram duramente reprimidos neste sexto ato, apenas um dia após o maior protesto, o que mostra a profundidade do processo que se abriu. Em Belo Horizonte as manifestações também assumem uma imensa proporção, com o ato cercando a prefeitura da cidade, mesmo sob a ameaça de dura repressão autorizada diretamente por Dilma. Hoje amanhecemos com bloqueios de avenidas e rodovias – rodovia Régis Bittencourt, Via Anchieta, Estrada do M’Boi Mirim – realizados por integrantes de movimentos sociais e sem-teto exigindo moradia e menores tarifas de transporte, o que confirma a tendência da entrada em cena de setores populares.
Estas demonstrações colocam em evidência que ainda que os reajustes nos preços das tarifas do transporte público não possam ser vistos como uma questão sem importância - pois efetivamente golpeiam o bolso dos trabalhadores e da juventude, sobretudo se considerarmos que a base do “quase pleno emprego” que vigorou no país sob o lulismo é a do trabalho precário (baixos salários e superexploração) - tornou-se óbvio que não se trata apenas disso. Inúmeros analistas burgueses internacionais embasbacados com os protestos caracterizam que o país estaria saindo da letargia. Esta caracterização parece ser válida para dar conta do crescimento das manifestações depois da dura repressão desferida em São Paulo por Alckmin em comum acordo com Haddad. O aumento das fileiras que compõem os atos desde então foi um golpe importante ao senso comum que vigorava, e alimentado pelo próprio PT no governo, de criminalizar todo e qualquer tipo de protesto social. Baseando-se numa hipócrita justificação de que os protestos “ameaçam o direito de ir e vir”, o governo da cidade de São Paulo hoje em mãos do PT, apoiou toda a truculência da PM (governo Alckmin) desferida contra as primeiras quatro manifestações ocorridas na cidade, espalhando a indignação pelos quatro cantos do país. Lançando a tropa de choque contra a juventude e os estudantes permitiu que toda a classe média paulista assistisse ao vivo e em cores como a polícia atua todos os dias nos bairros da periferia contra negros e pobres. Prenderam centenas de pessoas por portarem vinagre, e encarcerando estudantes em penitenciárias de segurança máxima como a de Tremembé. No Rio de Janeiro a PM usou balas de chumbo e em Belo Horizonte duas pessoas seguem gravemente feridas pela repressão do dia 17/06. Tudo isso demonstrou como a ditadura de ontem sobrevive na democracia dos ricos de hoje.
Como resposta, nacionalizou-se a raiva popular e os movimentos contra o aumento das tarifas do transporte público estão canalizando o descontentamento social com os governos, com a inflação, com a ineficiência dos serviços públicos de conjunto, com a precarização da vida contrastada com os imensos gastos do governo para a Copa do Mundo – responsáveis inclusive pelas vaias ã Dilma na abertura da Copa das Confederações – e com a corrupção legalizada aliada aos privilégios da casta política do país. Em Salvador, os trabalhadores dos hotéis que hospedarão seleções para os jogos da Copa das Confederações decretaram greve. Os trabalhadores da empresa de trânsito de São Paulo (CET) iniciam operação padrão em defesa de suas reivindicações.
O governador do estado de São Paulo, Geraldo Alckmin, que havia sido o que mais mantinha a linha dura em relação aos protestos, reivindicando a repressão da polícia nos atos anteriores, foi obrigado a declarar que proibiu o uso das balas de borracha, e na manifestação de 17/06 que fechou as grandes avenidas da cidade de São Paulo por mais de 5 horas, praticamente não se via polícia. Haddad teve que retroceder da reivindicação da repressão, e manobrar suas declarações de que não dialogaria com o movimento e teve que chamar o MPL - que tem se alçado frente ao governo como representante do movimento mesmo sem ter sido legitimado em nenhum fórum - para criar um grupo de diálogo comum para debater a “impossibilidade de rebaixar o aumento”, antes de anunciar a revogação. Dilma e Renan Calheiros deram declarações dizendo que são manifestações públicas e legítimas, desde que pacíficas. Lula foi quem mais buscou evitar bater de frente com o movimento, dizendo que a “democracia não é um pacto de silêncio”, e que “os movimentos sociais e as reivindicações não são caso de policia, mas de negociação” e que acredita na capacidade de negociação de Haddad. Enquanto a prefeitura de São Paulo estava sendo apedrejada pelos manifestantes, o prefeito se reunia em outro local com Dilma e Lula, que viajaram numa operação de emergência para “buscar uma saída” ã crise política e social aberta. Como a ação é a medida da verdade, e não as meras palavras, o governo de Dilma Roussef segue demonstrando de que matéria é feita. Enquanto cinicamente diz que o Brasil “acordou mais forte” pelas manifestações, o governo federal envia sem demora a Força Nacional para reprimir em Belo Horizonte, tal como antes fez com os operários da construção civil em Jirau, Santo Antônio e Belo Monte.
Uma nova conjuntura nacional
As manifestações abriram uma nova conjuntura nacional, que por ora é transitória, e cujos resultados ainda estão em aberto, no marco de uma situação que segue sendo não revolucionária. Porém, com as manifestações o Brasil passa a integrar o ciclo do fim da etapa de restauração burguesa, que se encerrou internacionalmente com a crise capitalista e as primeiras respostas dadas pela juventude, por setores populares e pela classe trabalhadora em vários países ã tentativa das burguesias de descarregar a crise em suas costas. Ainda que as recentes manifestações brasileiras se deem em outro contexto, que não envolve hoje uma crise econômica aguda, o despertar de setores das massas, tendo ã frente a juventude, vem imbuída de um espírito de época inspirado nos levantamentos na Turquia, e em movimentos como o Occupy Wall Street e os indignados espanhóis - inspiração que se manifesta mais em relação ã reativação dos protestos como método, que em relação ás demandas daqueles movimentos.
Ainda que já viessem ocorrendo nacionalmente um aumento das greves, em sua maioria motivada por uma aspiração redistributiva e, portanto, de caráter econômico, o que primava no país até agora era uma estabilidade importante. Esta estabilidade combinava-se com uma altíssima popularidade do governo de Dilma, que ainda se mantém, apesar de ter sofrido uma queda de 65% para 57%. As manifestações que estão se espalhando trazem um ponto de inflexão para esta situação, tendo colocado na defensiva os prefeitos, governadores, e obrigando Dilma a ter que romper o silêncio de quase duas semanas. A depender de como se desenvolverá pode mudar completamente o cenário do país.
Se o movimento for desviado, questão para a qual já se preparam os governos como o de Haddad que têm na política burocrática do MPL um facilitador, este movimento terá minimamente assentado um precedente que é a volta das mobilizações sociais nas grandes capitais do país. Porém, a amplitude que alcançou demonstra que há possibilidades reais de ir por mais, e abrir uma nova situação mais favorável para o avanço da classe trabalhadora e da ampla maioria da população. Mas para isso é necessário elaborar uma estratégia e um programa para ampliar as demandas e vencer.
A necessidade de combater a divisão entre manifestantes legítimos e “vândalos”
Os governos, a burguesia e seus meios de comunicação ao serem obrigados a se render diante do apoio massivo ás mobilizações, estão agora se utilizando de uma nova forma de dividir o movimento. Esta prática, que é um meio recorrentemente utilizado pelos setores que querem restringir a raiva social que se expressa nas manifestações, separa os manifestantes em duas categorias: os legítimos, que seriam cidadãos pacíficos, e os “vândalos”. Durante as primeiras manifestações o governo justificou amplamente a ação da polícia, afirmando que ocorreu apenas por conta da ação dos setores mais radicalizados do movimento. Em São Paulo, principalmente, após a brutal repressão do dia 13 de junho, em que inclusive jornalistas foram alvejados por balas de borrachas nos olhos, sentindo em pequeno o que a juventude negra e os trabalhadores que vivem na periferia sentem na pele todos os dias, a opinião pública deu um giro e passou a apoiar as manifestações, pois se deram conta parcialmente do quão animalesca é a polícia brasileira.
Entretanto, ainda que seja progressista a condenação da violência policial, a contradição é que esta veio acompanhada de um grande pacifismo, que marcou a grande marcha de 17/06 em São Paulo, que gritava “sem violência” frente a cada gesto por mínimo que fosse dos setores mais combativos, e os caracterizava como “vandalismo”. Não compartilhamos dessa posição, que condena igualmente a violência policial – que é a violência de classe do Estado em defesa da burguesia contra a imensa maioria da população – e a raiva legítima expressada pelos setores mais radicalizados por conta da sua situação de vida e ã repressão a que são cotidianamente submetidos. Por sua vez, as organizações de esquerda se adaptam ao pacifismo reinante neste novo momento da luta não contribuindo para fazer avançar um setor da juventude mais radicalizado e combativo que rompa com esta política de “paz e amor” que está a serviço do desvio da luta. Esse discurso serve apenas ã criminalização da ação dos setores combativos que estão em luta. Temos que abrir um diálogo paciente com os setores que compõem o movimento, denunciando como esta é uma tática do governo e das direções conciliadoras para dividir e impor limites ás nossas demandas, e demonstrar como a raiva dos setores populares é justificada, enquanto a violência policial não. Não impulsionamos quebra-quebra e saques, atuamos em defesa dos métodos do movimento operário – greves, piquetes, organização da autodefesa, unidade e democracia operária para a luta –, porém consideramos que a raiva que os setores mal chamados “vândalos” demonstram contra a polícia, as instituições do Estado capitalista, as empresas e bancos etc., são expressão legítima de sua raiva frente ás péssimas condições de vida e da opressão e violência que sofrem diariamente, sem encontrar no movimento operário fortes organizações sindicais e políticas (partidos classistas e revolucionários) que mereçam a confiança para lutar seriamente contra esse estado de coisas. Exigimos a liberdade de todos os presos nessas condições e arquivamento de todos os processos.
As direções conciliadoras fazem coro com os governantes e estimulam a pressão “pacifista”, mas se vê indignação muito menor a respeito da infiltração de agentes policiais disfarçados para espionar os movimentos sociais e se infiltrar nas manifestações para até mesmo criar tumultos que possam ser utilizados para justificar a repressão. O próprio ministro da Justiça, do PT, “ofereceu” ao governo Alckmin os “serviços de inteligência” da Polícia Federal para “controlar” as manifestações. Nessa “democracia” dos ricos, sob governos tucanos e petistas, segue vigente não apenas a violência policial, mas também os serviços de perseguição da época da ditadura militar, pois todos os agentes e comandantes do regime militar continuam impunes e muitos ainda atuantes nas polícias e demais órgãos repressivos.
A burguesia e o governo se utilizarão dos acontecimentos do dia 18/06 em São Paulo para aprofundar a divisão entre os setores combativos e a massa que se manifesta. Rechaçamos esta política, e lutaremos contra a criminalização da radicalidade de métodos da classe trabalhadora e de outros setores da população, que a burguesia já começa a colocar em marcha. Lutamos para dotar a raiva que se expressa distorcidamente com uma estratégia revolucionária capaz de reverter as miseráveis condições que a engendra, começando por negar-nos a cair na divisão entre “pacíficos” e “vândalos” do qual o governo e a burguesia se utilizarão para enfraquecer o movimento de conjunto, criminalizando o setor mais radicalizado, como ensaio para justificar duras repressões ás lutas operárias que por certo virão no próximo período.
O caráter espontâneo do movimento e a necessidade de forjar uma direção ã altura
Evidentemente o movimento que explodiu há duas semanas tem um caráter espontâneo, e sua composição é profundamente heterogênea, com uma atuação bastante significativa da juventude, em especial dos estudantes de universidades públicas e privadas, e ainda de secundaristas. Mas o seu maior limite reside na questão das direções.
A organização que tem se colocado ã frente do movimento em São Paulo, e outras cidades, é o Movimento pelo Passe Livre, que segundo eles próprios congrega 40 militantes orgânicos, em sua maioria de estudantes universitários, que todos os anos convoca os atos pela redução das passagens, embora nenhum até hoje tenha alcançado a importância atual. As manifestações mostraram que estão muito para além do Movimento pelo Passe Livre, que está sendo legitimado como “direção” pelo governo justamente porque sua política já prepara um fechamento rápido da luta, objetivo também ambicionado pelo governo e pela burguesia.
Até o momento, as manifestações têm sido convocadas pelo facebook, e não conta com uma direção que possa organizá-lo, nem dotá-lo de um programa para vencer. Neste sentido, o Movimento Pelo Passe Livre se alça como uma direção burocrática, sem contar com o mandato de nenhuma instância do movimento. Questões básicas como a trajetória dos atos são definidas pelo MPL sem nenhuma consulta prévia com o movimento. Dizem defender um programa de Tarifa Zero, que em verdade é inspirado em um projeto que foi apresentado durante o governo de Luiza Erundina como prefeita de São Paulo, que busca subsidiar as empresas privadas de transporte. Se este programa tem o problema de não tocar um só dedo nos imensos lucros da máfia dos transportes públicos, hoje concretamente a política realmente executada pelo MPL é a mera revogação do aumento das tarifas.
Já a esquerda composta pelo PSTU convocou através da CSP-Conlutas e da ANEL em São Paulo, no último dia 15/05, uma plenária para “organizar o apoio à luta contra o aumento das tarifas”, da qual participaram o Juntos, juventude do PSOL, além do próprio MPL, ã qual nós participamos com uma posição crítica. Isso porque o verdadeiro intuito era compor uma “direção” para os atos com uma coordenação composta pelas organizações ali presentes. Em nossa concepção esta é uma via que segue sendo burocrática com o conjunto do movimento, sobretudo mediante sua crescente massificação, já que apenas um setor minoritário se referencia nestas organizações. Portanto, ao contrário de priorizar estes acordos entre correntes pelo alto, defendemos a necessidade de que o movimento se organize a partir de cada local de trabalho e estudo! É preciso que nas universidades, escolas, haja assembleias que discutam e organizem as posições políticas a serem levantadas pela mobilização, e seus métodos de ação, assim como decidam como organizar as manifestações inclusive nos aspectos de segurança e autodefesa. As concentrações que foram chamadas para o ato do dia 17/06 em diversas universidades como a USP, devem ser encaradas como um embrião desta organização, que deve ser aprofundada, e que a partir daí se elejam representantes mandatados e revogáveis para compor uma coordenação de todo o movimento.
A CSP-Conlutas, a ANEL e a Intersindical devem chamar fóruns democráticos para discutir e implementar um plano operário, popular e juvenil que inclua preparação de greves e paralisações em torno de um programa de reivindicações da juventude e dos trabalhadores, unificando os setores em luta para enfrentar os governos e a patronal em defesa dos interesses da maioria da população. Deve-se exigir que as centrais sindicais e a CUT, que limitou-se a declarar que há “um transporte público caro e ineficiente”, também mobilize suas bases de acordo com esses métodos e deixe de ser capacho dos governos petistas. Ao mesmo tempo, consideramos progressivo o chamado que tem feito setores da esquerda, como o PSTU, a conformar um “campo de unidade” da esquerda nestas manifestações, mas isso deve estar a serviço de contribuir no desenvolvimento da auto-organização das massas juvenis e trabalhadoras.
É dessa forma que conseguiremos compor uma direção legítima e que possa fortalecer as mobilizações. Isso também combaterá pela positiva o sentimento antipartidário, presente nas manifestações como parte do espírito de época vigente, que equivocadamente mescla o sentimento de rechaço aos políticos e instituições da burguesia com o rechaço ã política em geral, o que pode abrir espaço ã influência de setores reacionários. Estamos juntos na elementar defesa de todos partidos e organizações de esquerda, assim como os movimentos sociais, no direito de se expressarem com suas bandeiras e materiais nos atos, contra todos os ataques “espontâneos” ou de grupos de direita organizados. A maneira eficaz de combater este preconceito, que se faz sentir tanto em setores anarquistas como nos setores provenientes da classe média abastada das grandes cidades, é justamente demonstrar na prática que a política revolucionária nada tem a ver com a política burguesa. E isso se faz com os revolucionários sendo linha de frente em impulsionar organismos capazes de aportar ã auto-organização dos setores em luta com um programa de independência de classe que inclua o combate ã corrupção e as demandas democráticas sufocadas. Assim, ao contrário de artificialmente criarem coordenações não reconhecidas compostas apenas por organizações, devem impulsionar organismos de autodeterminação e lutar politicamente por sua estratégia em seu interior. Um programa para seguir a luta e responder ás demandas dos trabalhadores e da população
Desde a LER-QI e as agrupações que compomos com independentes estudantes e trabalhadores temos atuado com entusiasmo, e colocado nossas modestas forças para contribuir com o desenvolvimento das mobilizações. Portanto, o debate programático é de suma importância. O movimento em seu início teve como epicentro as manifestações da cidade de São Paulo, contra o aumento de 20 centavos nas tarifas de ônibus e metrô. Estivemos na primeira fileira da defesa da redução da tarifa sem subsídios, e esta conquista é uma primeira vitória do movimento. Porém, a partir da massividade que o movimento ganhou, acreditamos que é possível ir por mais. E que a demanda da redução deve se ligar a um programa que resolva efetivamente a crise dos transportes coletivos, que começa com barrar o aumento, mas que não pode se encerrar aí.
Por isso, acreditamos que este movimento pode tomar desde já para si a bandeira de passe livre já para estudantes, jovens, desempregados e aposentados, rumo a estatização sem indenização do sistema de transporte. O programa de passe livre já para estudantes, jovens, desempregado e aposentados, ao contrário de “romantismo”, é um programa perfeitamente possível sem que para isso se tenha que tirar do orçamento da saúde e educação. Basta levar adiante uma política de aumento progressivo dos impostos sobre as grandes fortunas, e não pagamento da dívida aos bancos, grandes empresas e especuladores, que se efetuados podem não só manter os serviços existentes, como aprimorá-los qualitativamente.
Para que estas demandas sejam conquistadas é preciso em primeiro lugar combater como uma questão de princípio a repressão aos que lutam, exigindo fim da ofensiva da polícia contra os manifestantes, bem como liberdade imediata de todos os presos sem exceção e arquivamento de todos os inquéritos policiais. Com isso defendemos a constituição de comissões independentes que envolvam sindicatos, organizações sociais, da juventude, direitos humanos e da esquerda, que apurem e punam a polícia e os efeitos de sua repressão, como os recentes feridos do Rio de Janeiro e de Belo Horizonte.
A alegação do governo para o reajuste foi a alta da inflação. No entanto, omite descaradamente em primeiro lugar que a tarifa cobrada pela cidade em relação ao salário mínimo pago é uma das mais caras do mundo. Um cálculo realizado pela Folha de São Paulo atesta que cada trabalhador brasileiro precisa trabalhar cerca de 14 minutos para arcar com a condução diária, enquanto em outros países esse tempo cai para 1,5 minutos. E enquanto cada trabalhador gasta um terço do salário mínimo para arcar com o transporte, as máfias das empresas de transporte público ainda têm garantido 20% de seus gastos com dinheiro vindo dos cofres públicos, enquanto 70% vêm do valor das passagens, e os capitalistas arcam com apenas 10%. A burguesia tenta lançar um setor popular contra o outro afirmando que para obter o passe livre seria necessário aumentar o IPTU, ou cortar gastos em saúde e educação. Enquanto isso, a máfia dos transportes coletivos diz que “sente” a inflação e não tem condições de arcar com os custos da manutenção do serviço sem um aumento das tarifas, no que é completamente apoiada pelo governo. O prefeito Haddad mente para esconder a enorme roubalheira que vai para os cofres capitalistas! Se a tarifa de transporte fosse calculada pelos índices inflacionários desde o Plano Real (1994) deveria ser, hoje, R$ 2,16 e não R$ 3,20. Ou seja, cada trabalhador entrega aos capitalistas R$ 1,04 acima da inflação por cada passagem que paga! Isso é o verdadeiro roubo! O prefeito diz que os manifestantes “exigem o impossível”, para continuar sustentando os capitalistas ás nossas custas. Como mínimo, para se falar em “justiça social”, a passagem deveria ser reduzida para o real valor: R$ 2,16!
Porém, os trabalhadores dos transportes coletivos estão com os salários defasados, com cobradores, quando existem, ganhando pouco mais de mil reais. Os políticos patronais mentem, os empresários mentem, a imprensa mente, a justiça mente. A sociedade não tem controle algum dos “custos” dos serviços, o que demonstra não haver democracia alguma. Portanto, em primeiro lugar, exigimos que as empresas de transporte e a SPTrans, Fetranspor (do Rio) e similares de outras cidades abram seus livros de contabilidade! Estamos seguros que desta forma se provará que estão longe de não terem condições de arcar com os custos do serviço, como na verdade mantêm lucros astronômicos!
Também não defendemos que a saída para a crise dos transportes seja aumentar o subsídio do estado para o transporte público, como propõe o MPL, pois isso seria simplesmente manter o lucro da máfia dos transportes intocado, fazendo com que a população arque com os lucros destes capitalistas por outras vias, como os cortes em saúde e educação que os governos colocam como “indispensáveis” para tal. Defendemos que o transporte coletivo seja estatizado, sem indenizações e posto sob controle de comitês de trabalhadores e usuários, que são os mais interessados em oferecer um serviço de qualidade e acessível a toda população. Bem como aos que já têm parte de suas linhas em mãos do estado, como é o caso do metrô, que defendemos que sejam controlados pelos trabalhadores.
Que cada político ganhe o mesmo que um operário
Este amplo movimento também mostra um enorme descontentamento com a corrupção e a farra dos políticos patronais. Por isso, é tarefa dos setores de esquerda apresentar uma política que possa desmascarar esta casta privilegiada. Ao contrário de um “país de classe média” se sabe que 72% da população brasileira ganha de 0 a dois salários mínimos, enquanto 4,8 milhões de pessoas estão imersas em uma pobreza absoluta. Esses números demonstram que o “Brasil potência” é para apenas alguns. As manifestações podem marcar o começo do fim do sonho de consumo a crédito e da progressiva e pacífica melhora das condições de vida, que o governo petista tanto insuflou, mas jamais garantiu as condições estruturais para realizar.
Toda a gritaria da burguesia de que é impossível reduzir as tarifas em algumas dezenas de centavos esbarra na realidade de uma simples conta, que cada vez mais setores começam a fazer. Como por exemplo, os custos da Copa, ou os custos com a corrupção e desvios dos cofres públicos tão comuns em nosso país, que levam anualmente R$ 59 bilhões. Ou ainda que para além dos salários dos senadores que alcançam o teto de 26,7 mil reais, superado pelas inúmeras bonificações, além do fato de que cada senador dispõe de uma média de 322 salários mínimos para arcar com os custos de seu gabinete, num montante de R$218.316 reais mensais. O salário dos deputados federais alcança a mesma margem, mas contando os benefícios, podem atingir o marco de mais de 40 mil reais. Portanto, a atividade legal dos parlamentares está estimada em mais de 20 bilhões de reais, com salários e bonificações, enquanto o Congresso Nacional custa ao país R$ 23 milhões por dia. Com os desvios, corrupção e superfaturamentos religiosamente praticados pela casta política nacional, somam-se 79 bilhões de reais de custo. O Sindicato dos Procuradores da Fazenda Nacional (Sinprofaz) estima que a sonegação de impostos pode chegar a 415 bilhões de reais em 2013 – quase 10% do PIB brasileiro (toda a riqueza produzida). O prefeito Haddad disse, cinicamente, que se reduzisse os R$ 0,20 deixaria de construir 200 mil casas, pois a prefeitura teria o custo de R$ 400 milhões. Até agora não construiu nenhuma. Se é verdade, apenas cobrando os grandes sonegadores seria possível construir mais de 20 milhões de casas! Que os sonegadores paguem suas dívidas, sob pena de confisco de seus bens e fortunas! Tudo isso retirado do suor dos trabalhadores para a manutenção desses verdadeiros parasitas, que atuam somente em benefício de si próprios, e da classe a qual defendem: a burguesia.
Frente a essa democracia burguesa decadente, que é democrática apenas para os ricos e seus agentes, que rouba o suor dos que trabalham e vivem como “reis” num país de pobres, defendemos pôr abaixo toda essa casta de políticos corrompidos pelo capital financeiro e seus funcionários, e acabar de uma vez com todos os privilégios roubados do trabalho da imensa maioria da população! Que cada funcionário público, do executivo, bem como todos os deputados, senadores e juízes ganhem o mesmo que todo trabalhador deveria ganhar, isso é um salário mínimo do Dieese (R$ 2.873,56).
Aumento geral dos salários que reponha as perdas inflacionárias! Que o piso salarial e da aposentadoria seja o Salário mínimo do Dieese (R$ 2.873,56) para todos! Que todos os trabalhadores precarizados sejam legalizados, com carteira assinada e todos os direitos trabalhistas e sociais! Há dinheiro para tudo isso. Está nos cofres dos grandes capitalistas e dos políticos patronais!
Partamos da vitória conquistada no dia 19 de junho para ir por mais!
Atualizado no dia 19/06 ás 23h45
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