A visita de Bush ao Brasil esteve marcada por acordos que apontam ã criação de um mercado mundial dos biocombustíveis (etanol e biodiesel). O Brasil é líder mundial na produção de etanol, combustível renovável que produz a partir da cana-de-açúcar. Os EUA produzem etanol do milho, mais caro e menos eficiente, e tem necessidade de explorá-lo para amenizar sua dependência dos países produtores de petróleo.
Para além dos incertos argumentos ecológicos do plano (nem sequer se substituiria os combustíveis atualmente em uso como a nafta), detrás do “boom” da “energia verde” há um grande negócio: “Segundo Eric Holt-Gimenez, coordenador da organização Food Firsr, “Três grandes empresas (ADM, Cargill e Monsanto) estão forjando seu império: engenharia genética, processamento e transporte, uma aliança que vai impulsionar a produção e a venda do etanol”. E acrescenta que outras empresas do agro-negócio como Bunge, Sygenta, Bayer e Dupont, aliadas ás transnacionais de petróleo como Shell, TOTAL e British Petroleum, e também ás automotrizes como Volkswagen, Peugeot, Citroen, Renault e SAAB formam uma sociedade inédita que espera grandes lucros com os biocombustíveis”. (ALAI, 13/03/2007)
O agrobusiness na Argentina se prepara. No Expoagro 2007 os biocombustíveis deram o que falar e o milho foi a grande estrela. Entretanto, a suposta oportunidade econômica para países produtores de recursos bioenergéticos oculta uma grande realidade dos países latino-americanos: a grande concentração da terra. Assim como o boom da soja e o mini-boom do trigo o uso de biocombustíveis promete disparar os preços do millho e da cana-de-açúcar. A renda agrária da qual se apropriam as multinacionais e os latifundiários por concentrar a propriedade da terra, promete se sustentar e inclusive se aprofundar.
Enquanto isso, o custo de alguns alimentos de consumo popular já disparou. O milho subiu no ano passado, elevando em 40% o preço da tortilha no México, alimento de consumo popular básico. Assim mesmo, o milho para forrajera pode elevar os custos da criação de gado.
Por outro lado, producir uma quantidade relativamente menor de biocombustível com respeito aos hidrocarburos (petróleo e gás) requer enormes quantidades de grãos. Segundo estimativas, todas as colheitas de milho e cana-de-açúcar cobririam apenas 20% da demanda mundial de combustível. Ante isso a burguesia tem sua resposta: converter cultivos para alimentos em cultivos para produção de biocombustíveis em grande escala.
Como vemos, a saída “verde” da burguesia permitiria que os empresários do agro-business “ecológico” ganhassem fortunas ã custa da comida e terra de nossos povos.
A conquista de mecanismos limpos de produção energética é uma necessidade imperiosa frente a crítica degradação ambiental ã que a burguesia tem levado ao planeta. Entretanto, os parâmetros de busca de “energia limpa” do capitalismo estão orientados por sua sede de lucro, que impede o uso racional e “sustentável” dos recursos naturais. Os que se lançam neste mega-negócio, como Lula ou Kirchner, ou o publicista das bondades da “energia verde” Al Gore, não vão tocar os interesses dos grandes jogadores deste negócio promissor. Inclusive Chávez, que critica a iniciativa em defesa de seu milionário negócio - os hidrocarburos - tem demonstrado que em seu “Socialismo do Século XXI” não se toca a concentração da terra (sua limitada reforma agrária outorga todo tipo de oportunidades aos latifundiários para conservar a propriedade das terras improdutivas) e sua produção hidrocarburífera se realiza em associação do Estado com vorazes empresas imperialistas. Portanto, só os trabalhadores, camponeses e setores populares (incluindo as organizações ecologistas) podem dar ã terra uma utilização equilibrada em função de suas necessidades e reverter a destruição do meio-ambiente. Em primeiro lugar, arrancando dos monopólios e dos latifundiários a propriedade da terra, impondo uma reforma agrária radical e nacionalizando sob seu controle os meios de produção energéticos, como os campos e as refinarias.
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