Depois das jornadas de junho, cada local de trabalho se transformou em ponto de debates como não se via há muitos anos. Os trabalhadores começam a se colocar a perspectiva de se organizar desde seus locais de trabalho para lutar por suas demandas. A entrada em cena da classe operária permite hoje que muitos trabalhadores passem a discutir alternativas a tantos casos de corrupção, de acidentes de trabalho, horas extra, repressão policial, entre tantos outros temas que atingem a vida da maior parte da população. Para responder a essas questões é fundamental um programa classista e uma organização desde a base que permita aos trabalhadores conquistarem suas demandas, independente dos governos e dos patrões.
Lições das jornadas de junho e do dia 11/7
O dia 11 de julho marcou a entrada em cena da classe operária. Paralisações, cortes de rodovias, entre outras ações, foram realizadas por parcela importante de trabalhadores. Porém, muitos trabalhadores não pararam porque a burocracia sindical ligada ao governo, como a CUT e CTB, não organizaram a paralisação e os atos a partir da base. Essa vontade de luta estava presente principalmente nos setores mais explorados. Apesar de todo o controle imposto pela burocracia, o dia 11/7 se transformou em um importante dia de luta nacionalmente, com dezenas de cortes de rodovia, paralisações em algumas categorias importantes e manifestações.
Este novo chamado de paralisação nacional feito pelas centrais sindicais (as governistas CUT, CTB, a patronal Força Sindical, e a antigovernista CSP-Conlutas) não deve ser uma data a mais de luta. Ele deve ser preparado para que o país pare a partir de paralisações nas fábricas, nas rodovias e nos transportes. Se as demandas são corretas, devemos sim paralisar por elas, independente se a convocação é chamada também por setores da burocracia sindical. Quando os trabalhadores colocam-se em movimento, com a organização a partir da base, com assembleias, etc, buscando ligar-se a outras categorias, é quando a burocracia sindical se sente ameaçada. Se ficamos passivos é que eles se fortalecem, pois conseguem fazer apenas algumas paralisações e atos controlados para aparecer na mídia. Os trabalhadores têm que assumir em suas mãos a tarefa de fazer diferente, juntando as forças de todos os setores que se reivindicam anti-governistas, anti-burocráticos e classistas para construir o dia 30/8 de fato pela base.
Alguns trabalhadores comparam as mobilizações massivas protagonizadas pela juventude com as pequenas manifestações do dia 11/7 e começam a questionar se os sindicatos ainda servem como ferramenta. Não podemos confundir o fato de que a burocracia transforma os sindicatos em instrumentos dos patrões e os utiliza burocraticamente para ter privilégios e impulsionar uma política favorável aos governos e partidos burgueses, como se isso fosse uma expressão da debilidade dos sindicatos como ferramenta de luta. O que devemos fazer é nos organizarmos para expulsar a burocracia dos sindicatos e retomá-los para as mãos dos trabalhadores. Se o país mudou os sindicatos tem que mudar! Podemos sim ter sindicatos de luta, como é o caso do Sintusp (Sindicato de Trabalhadores da USP, do qual compomos a minoria de sua direção) que no dia 11/07 organizou desde assembleias a paralisação na categoria e formou um bloco com suas reivindicações desmascarando a reforma política de Dilma e lutando por um programa de independência de classe.
Por qual 30/8 lutamos?
É importante que saiam fortes paralisações no dia 30/8. Em primeiro lugar, porque as demandas de junho e do 11/7 seguem pendentes devido a intransigência da patronal e dos governos, sejam eles do PT, do PSDB ou de qualquer outro partido. Mas também é fruto das debilidades que ainda estão colocadas para que a força da classe trabalhadora se coloque em cena em um patamar superior e possa obter de fato conquistas, ao lado da juventude. O principal obstáculo a ser enfrentado no dia 30 será, mais uma vez, o papel da burocracia sindical atrelada ao governo, como a CUT e a CTB, que seguem se colocando contra a organização desde a base e buscam atrelar o dia 30 ás negociações com Dilma a partir da defesa de uma reforma política. Mais uma vez essas direções querem desviar a luta dos trabalhadores para melhor negociar seus privilégios junto a um governo que já forneceu 7 bilhões de reais de lucro ao Itaú e cerca de 6 bilhões ao Bradesco. Esses burocratas já mostraram de qual lado estão!
Nesse dia 30/8, devemos parar, mas nos delimitando claramente da política de setores das centrais sindicais governistas que seguem colocando a reforma política e o plebiscito que o governo federal está propondo (como insiste em fazer, por exemplo, a APEOESP, no dia 30), como uma demanda importante. Não podemos aceitar ser massa de manobra de uma política de desviar a mobilização das ruas com uma reforma cosmética, sem responder, por exemplo, ao problema dos serviços públicos de qualidade.
A CSP-Conlutas, central da qual compomos uma minoria, é uma das entidades que convocam o dia 30 de agosto. Apesar de ser uma entidade antigovernista a direção desta central levanta a política da mudança da política econômica, como se fosse possível o governo de Lula e Dilma romper seus acordos com as grandes multinacionais, banqueiros e patrões Brasil afora. A CSP-CONLUTAS deve ser motor para que setores de vanguarda da classe trabalhadora possam se organizar desde as bases buscando lutar por um programa de independência de classe e independente dos governos. Porém, não devemos esconder que grande parte dos trabalhadores estão nas bases de sindicatos controlados por pelegos e governistas, e que estes burocratas seguem sendo obstáculos para a organização e luta dos trabalhadores. Esses burocratas já escolheram seu lado! Apenas a organização independente e a exigência de assembleias de base é que pode fazer deste chamado unitário um dia para a verdadeira organização dos trabalhadores!
As paralisações devem expressar com toda força as demandas que surgiram das mobilizações nas ruas, como a luta pela estatização e maiores investimentos nos serviços públicos e a luta contra a repressão (Cadê o Amarildo?). Devemos lutar por mais verbas públicas nos serviços públicos, pela estatização dos transportes sob controle operário e popular. Chega de horas extras nas empresas: trabalhar todos para trabalhar menos! Pelo salário mínimo do Dieese! Nós trabalhadores também temos que responder ao problema da corrupção e da crise de legitimidade do regime, mas com uma política independente do governo e que toque na raiz do problema. Isso passa por levantar o fim do senado e que todos os parlamentares, juízes e funcionários de alto escalào ganhem o salário de um professor e que seus mandatos sejam revogáveis por aqueles que os elegeram. Além disso, devemos lutar pelo definitivo arquivamento do PL 4330, que permite terceirizar atividades fim, mas avançando no questionamento ã terceirização também das chamadas “atividade meio”, que hoje já divide enormemente a nossa classe, batalhando pela contratação imediata dos terceirizados nas empresas privadas e efetivação sem concurso público nas instituições públicas.
Não pode haver contradição entre levantar essas demandas e aquelas que vem sendo motoras das lutas em várias categorias, como as demandas por melhores condições de trabalho e salário. No dia 30/8, cada categoria deve ampliar suas lutas ligando suas demandas específicas ás gerais da nossa classe. Nós da LER-QI queremos debater com os trabalhadores que é necessário, num momento onde o país está mudando rapidamente, que encaremos essas mobilizações como parte da tarefa de questionar as bases do sistema capitalista, que submete milhões ã miséria, enquanto enche um punhado de empresários e políticos de privilégios.
Nos unifiquemos pela base no combate aos patrões, aos governos e ã burocracia sindical.
No sábado dia 24, participe da atividade unificada de trabalhadores
Para debater essas questões, nós da LER-QI e do Boletim Classista estamos organizando uma atividade unificada das categorias em que estamos inseridos, onde queremos debater essas ideias que aqui colocamos e outras. Chamamos a todos os trabalhadores e trabalhadoras que atuamos em comum na USP, metroviários de São Paulo, professores, bancários, carteiros, metalúrgicos, da indústria da alimentação e das outras categorias para uma discussão no dia 24/8, ás 15:00, na Casa Socialista em São Paulo, e todos os que queiram participar do churrasco que faremos a partir das 18:00.
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