A eleição da FIT nos permitiu consagrar três deputados nacionais por Mendoza, Salta e a Província de Buenos Aires (e uma quarta que estamos lutando contra uma fraude em Córdoba) e legisladores provinciais em vários distritos como Buenos Aires, CABA e Mendoza. Obtivemos quase 1.200.000 votos a nível nacional, 300.000 mais que nas primárias, mais que 5% do total dos eleitores. Em Mendoza, em somente dois meses, os votos aumentaram 90%. Os meios nacionais que minimizaram a votação da FIT nas primárias e cobriram menos possível a campanha (ao ponto de não convidar nossos candidatos nem sequer aos debates) agora tiveram que dar conta do resultado obtido pela esquerda anti- -imperialista, anticapitalista e socialista. Vários meios internacionais fizeram eco de nosso reconhecimento.
Não foram poucos os “jornalistas” e “analistas” que nos colocaram embaixo nas pesquisas (sobretudo na província de Buenos Aires), e apenas depois de conhecidos os resultados, vieram reconhecer a votação da FIT. Até os governadores peronistas que visitaram La Gioja em San Juan discutiram o que significava a votação em Salta, onde a lista do PO saiu como segunda colocada com quase 20% e em Mendoza a lista encabeçada por Nicolás Del Caño (PTS) superou 14%, como comenta a Âmbito Financeiro (30/10). Nestas províncias, durante a campanha, como as pesquisas não puderam ocultar o crescimento, lançaram todo o aparato midiático para questionar os aspectos do programa da FIT, pois acreditavam que assim se “espantariam” os setores populares, como na questão do aborto ou o problema de segurança, transformando-os em eixo da discussão.
Na província de Buenos Aires, onde foi a eleição de maior significação nacional obtivemos 5% apesar da polarização entre Massa e a FPV. Em todo o conurbano superamos De Narváez que contou com o apoio do moyanismo. Chegamos na legislatura de Buenos Aires próximos dos 6% na 3ª seção, a mais populosa, que agrupa 19 municípios do oeste e sul da Grande Buenos Aires, como La Matanza e outros partidos.
Os analistas vinculados ao peronismo se iludem com que o voto da esquerda seja passageiro. Porém um voto com resultados tão importantes em numerosas províncias, para além das particularidades, expressa uma tendência nacional que poderíamos atribuir a combinação de distintos
fenômenos.
Primeiro, a inserção da esquerda entre os trabalhadores e a juventude, com intervenção nos movimentos de luta (de trabalhadores, direitos humanos, da mulher etc.) que cresceu durante todo o ciclo do kirchnerismo. Somos uma esquerda que não desaparece entre uma eleição e outra, mas que tem uma presença permanente na luta de classes e na política nacional. Em 2009 a soma de votos dos que compunham a FIT rondava os 400 mil votos. Naquele momento havíamos protagonizado alguns dos conflitos mais relevantes da classe operária sob o kirchnerismo (a grande luta de Kraft) algo que se repetiria na luta dos terceirizados ferroviários de Roca, na qual foi assassinado Mariano Ferreyra. Em particular o PTS foi conquistando comissões internas e corpos de delegados em numerosas fábricas e empresas, com grande peso no cordão industrial da zona norte da Grande Buenos Aires. A unidade eleitoral consagrada da FIT em 2011 deu maior visibilidade e impulso a essa presença, permitindo conquistar mais de 500 mil votos na fórmula presidencial e 660 mil a deputados nacionais.
À esquerda do kirchnerismo não havia uma pared como diziam o Carta Aberta, mas uma esquerda classista que batalhava na contracorrente, independentemente do governo e outras variantes patronais. Não é casual que nas fábricas onde a militância da Frente tem presença nos votaram 20, 30 e até 40% dos trabalhadores. E falamos de empresas “grandes”. Se em todo o ciclo kirchnerista se votava em companheiros da esquerda como delegados ou para as comissões internas, o novo é que este voto político ã esquerda, em alguns casos repetidos desde 2011 (já são quatro eleições) e em outros pela primeira vez, é acompanhado pela militância ativa de numerosos trabalhadores.
Há estabelecimentos onde dezenas de trabalhadores fiscalizaram e convenceram conhecidos, amigos, vizinhos e familiares a votar na FIT. O segundo aspecto tem a ver com a desilusão com o governo kirchnerista. Uma camada de quem os apoiava “pela esquerda”, com a ilusão de transformações progressivas, agora vota na FIT, dando-nos razão em nossa delimitação persistente em relação ao caráter do governo e sua política permanente de tomar causas justas para falsificá-las. Isto se mostrou ante o giro ã direita do oficialismo depois das PASO (eleições primárias). Aqui fica a experiência de que é uma quimera pretender transformações “de esquerda” por parte de uma coalizão com setores de direita, como o peronismo conservador que governa províncias e municípios ou a podre burocracia sindical.
Terceiro, há um fenômeno na juventude, um grande componente de votação para a FIT, tanto a juventude trabalhadora como estudantil. Este voto juvenil tem razões sociais e políticas. Para muitos jovens que entraram pela primeira vez no mercado de trabalho ou que estudam em colégios técnicos ou até em algumas matérias na universidade, o futuro parece frustrante. O trabalho é precário e na sua maioria paga menos de cinco mil pesos mensais. Essa geração sofre a desilusão da “promessa kirchnerista”, que se dá no marco de uma crise capitalista histórica que vai ao seu sexto ano, e todos os dias vê como os governos tanto conservadores como de “centro esquerda” aplicam as mesmas políticas de meter a mão no bolso dos trabalhadores para salvar os seus bancos e monopólios. A FIT é a única força nacional que denuncia estas políticas e pretende que a crise seja paga pelos patrões. Nesta eleição fomos os únicos que chamamos a votar contra o ajuste que pretendem aplicar os grandes empresários que sustentam em maior ou menor medida os políticos capitalistas.
Um voto politicamente consciente
O voto na FIT foi o mais consciente de toda a eleição. Difundimos aos milhares um manifesto eleitoral com nosso programa transicional diante da atual situação, onde colocamos nosso objetivo de lutar por um governo de trabalhadores. Agitamos criativamente pontos destacados de nosso programa nos espaços de rádio e televisão. Isso não significa que todos os nossos votantes compartilham do conjunto da nossa perspectiva revolucionária, porém que se identificam e apoiam parte importante de nosso programa.
Temos agora o desafio de pôr as bancadas a serviço de desenvolver e amplificar as lutas dos trabalhadores, de apontar ã consciência da classe e denunciar as negociatas que fazem os políticos patronais ás custas do povo trabalhador. Vamos articular os projetos que apresentamos no parlamento e nas legislaturas com organizações sindicais, estudantis, do movimento de mulheres, de luta por moradia. Não se trata de apresentar projetos para que fiquem engavetados, mas de iniciativas políticas que favoreçam a mobilização e a organização dos explorados e
oprimidos.
No imediato está colocado o crescimento da militância nas fábricas, estabelecimentos, escolas e universidades. Devemos colocar este apoio eleitoral em função de dar novos passos na construção do grande partido revolucionário que a classe trabalhadora necessita para vencer.
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