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Os salários dos deputados e os salários dos trabalhadores
por : Nicolás del Caño

31 Jan 2014 | Nos últimos dias foi publicada uma notícia na qual os deputados nacionais argentinos começaram a receber a partir do dia 1 de fevereiro, em torno de 50 mil pesos, quantia já descontados os encargos sociais e os impostos de renda.
Os salários dos deputados e os salários dos trabalhadores

Nos últimos dias foi publicada uma notícia na qual os deputados nacionais argentinos começaram a receber a partir do dia 1 de fevereiro, em torno de 50 mil pesos, quantia já descontados os encargos sociais e os impostos de renda.

Se levarmos em conta que hoje na Argentina a metade dos assalariados recebe menos de 4 mil pesos por mês, e que quase 80% dos aposentados ganha um salário mínimo de 2800,00, que as pensões por filho são de 460 pesos e que todos os que vivem de seu trabalho perderam nos últimos três meses em torno de 20% de seu poder de compra devido a uma inflação que não para de crescer, podemos dizer que os salários dos deputados é uma verdadeira provocação. Isto de se agrava porque o anúncio desse aumento ocorre nas vésperas do início das datas-base, para as quais tanto os empresários quanto o Governo buscam colocar um teto para cristalizar a perda de poder aquisitivo dos assalariados.

Uma das primeiras datas-base que está para vir é a da categoria de professores. Uma professora que tem a responsabilidade de educar nossos filhos na província de Buenos Aires, com nove anos de trabalho, recebe hoje, 3835 pesos de salário, por cargo, o que corresponde a 7,67% do que a partir de fevereiro vai ganhar um deputado. Por que um deputado, para não falarmos do restante dos funcionários públicos – recebem, por mês, treze vezes mais do que uma professora ? Um dos eixos de nossa campanha eleitoral na província de Mendoza foi “que todo funcionário público ganhe o mesmo que um professor”, e assim deve ser.

A explicação para tal absurdo é simples. Os políticos são recompensados para perpetuarem este sistema de exploração no qual, mais uma vez, querem a que crise seja paga pelos trabalhadores, agora com “tarifazos” (aumentos nas tarifas de serviços), inflação e contenção salarial (“cepo” salarial). Para garantir leis e sentenças favoráveis aos interesses dos grandes empresários, banqueiros, operadores da bolsa, latifundiários e multinacionais, é necessário um bom pagamento.

Como nos comprometemos publicamente, nossa remuneração é de 8500 pesos, que é hoje o que em média se calcula como preço da cesta básica familiar. O restante do pagamento é destinado ao um fundo para promover e apoiar as lutas dos trabalhadores e setores populares. Nas últimas semanas já contribuímos para a compra de várias passagens aéreas para a campanha pela absolvição dos petroleiros de Las Heras, província de Santa Cruz, condenados ã prisão perpétua em um julgamento corrompido e ilegal, por participarem de uma luta de seis anos contra os impostos aos salários. Dez mil pesos para apoiar a luta dos trabalhadores municipais do departamento de Lavalle, Mendoza, que conseguiram a efetivação de mais de 300 trabalhadores contratados sob condições precárias. Os jovens trabalhadores da fábrica de eletrodomésticos Liliana SRL receberam também uma contribuição no valor de outros 10 mil pesos. Periodicamente publicaremos na página de meu partido, o PTS ( Partidos dos Trabalhadores Socialistas), para onde investimos o restante da remuneração que não nos corresponde.

Também vamos lançar um projeto de lei para que todo funcionário político não possa receber mais do que ganha uma professora, reproduzindo a experiência que já teve a banca da FIT (Frente de Esquerda e dos Trabalhadores) na província de Neuquén por nosso companheiro Raul Godoy no ano passado junto aos sindicatos de professores. Como dissemos, o vultuoso dinheiro que recebem os funcionários políticos tem uma finalidade antioperária, antipopular e antinacional. A partir daí vemos a importância política deste projeto que esperamos ser tomado pelas organizações de trabalhadores e que estas possam impor este programa.

Entretanto, o que tem reivindicado a classe trabalhadora é a preparação de um plano de luta nacional para recuperar as perdas salariais e impor um salário mínimo de 8500 para todos, ajustado automaticamente trimestralmente conforme a inflação. As direções oficiais do movimento operário que não estão com o Governo buscam o apoio de outros políticos patronais como Massa ou Scioli que, paradoxalmente, compartilham o mesmo programa de teto salarial para os trabalhadores.

A esquerda classista, com seu crescimento eleitoral, vem avançando em sua inserção na classe trabalhadora. Por isso, a partir das várias comissões internas da indústria e dos serviços, sindicatos, corpos de delegados e seccionais de professores, serão promovidos encontros regionais e um grande encontro nacional para preparar esta luta, provavelmente em março. As bancas de deputados da Frente de Esquerda já estão atuando para fortalecer esta perspectiva.

 

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