Em discursos nos últimos meses, Chavez vem atacando duramente a autonomia dos sindicatos em relação ao governo e ao Estado: “os sindicatos não devem ser autônomos, [...] havia que acabar com isso”, afirmou. Seu violento argumento está no contexto do chamado ã construção do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) e perante a proposta de autonomia sindical colocada por diversos dirigentes sindicais, entre eles os da Corrente Classista Unitária Revolucionária e Autônoma (C-Cura-UNT) , cujo dirigente principal é Orlando Chirino. Inclusive os chamou de “contra-revolucioná rios” e “social-patriotas” , numa ofensiva contra as organizações sindicais para subordiná-las a suas políticas governamentais.
Destaca-se que as dinâmicas sociais e políticas mais importantes que se marcam hoje a Venezuela se dá em setores importantes do movimento operário. Isso se refletiu, sobretudo, desde meados de 2006 com a “rebelião antiburocrática” no II Congresso da União Nacional de Trabalhadores (UNT), na substituição de velhas direções burocráticas dos sindicatos, assim como em importantes lutas por reivindicações sociais e trabalhistas que, mesmo quando não apareçam com destaque nos jornais burgueses ou do governo, constituem um interessante processo de reorganização. Um exemplo emblemático é a luta travada pelos trabalhadores da fábrica Sanitários Maracay, que desbancaram os velhos dirigentes sindicais e, há quatro meses, a mantêm ocupada e em produção sob gestão operária, enquanto exigem do governo a expropriação sem indenização.
Ao calor deste fenômeno surgiu a C-Cura, que aglutina a maior parte desta importante vanguarda. Isso, mesmo quando seus principais dirigentes não sejam conseqüentes com uma política de coordenação nacional das lutas desde as bases, lutando por um encontro nacional no qual se vote um plano de luta unificado, o que daria um grande impulso ás lutas e ã unidade operária. E o que é ainda pior, tampouco denunciam decidida e abertamente a responsabilidade de Chavez pela situação dos trabalhadores e até mesmo resolveram, em janeiro deste ano, incorporar-se como corrente sindical ao PSUV.
Entretanto, o surgimento destas tendências preocupa particularmente o governo e os burocratas da “V República”, que pretendem se impor na UNT e nos sindicatos a todo custo, inclusive patrocinando a divisão e o debilitamento da central sindical. Ao não poderem controlá-la a seu bel prazer, se lançam abertamente contra a autonomia dos sindicatos. Do nosso ponto de vista, todas essas políticas do governo têm o objetivo de melhor controlar o movimento operário e limitar suas lutas aos interesses do “desenvolvimento nacional” com os empresários “nacionalistas” e as empresas transnacionais.
Hoje, com a mentira de “superar o marco reivindicativo” , buscam com os chamados “Conselhos Trabalhistas” atar os trabalhadores numa relação orgânica com o governo, para poder sufocar ou marginalizar as tendências combativas e classistas que possam surgir no movimento operário. E isso é parte da política central de Chavez, como bem deixou claro no primeiro encontro com os impulsionadores do PSUV, onde proclamou que os sindicatos não devem ser autônomos em relação ao PSUV e ao governo. O objetivo é combater a independência de classe do movimento operário para que suas lutas não atrapalhem o “socialismo com empresários”.
Por uma grande campanha nacional em defesa da autonomia dos sindicatos
Diante desta política anti-sindical do governo Chavez é fundamental a mais ampla unidade dos trabalhadores e dos dirigentes que se reivindicam classistas e combativos em defesa das organizações sindicais e pela autonomia e independência perante os patrões, o governo e o Estado.
A corrente sindical C-Cura deve colocar-se ã frente deste importante movimento, avançando para uma grande campanha nacional que lute por estas bandeiras até o final. Esta luta pela autonomia dos sindicatos é parte essencial para encarar a luta pela verdadeira nacionalização sem indenização e sob gestão operária do petróleo e do gás, a expropriação sem indenização alguma e sob controle dos trabalhadores e dos usuários de todas as empresas privatizadas, no caminho de expropriar todas as grandes empresas, os bancos e as indústrias estratégicas, como a de aço, assim como para lutar conseqüentemente por uma profunda revolução agrária e uma verdadeira reforma urbana estrutural para resolver o problema de moradia que aflige milhões de trabalhadores e pobres; pela distribuição das horas de trabalho para terminar com o desemprego e por um salário mínimo equivalente ao custo de sustento familiar.
Os trabalhadores da Sidor vêm realizando ações pela nacionalização da empresa, enquanto o governo de Chavez convoca o dono dessa transnacional, Paolo Rocca, para discutir, em vez de responder ás demandas fundamentais dos trabalhadores. A nacionalização da Sidor não pode depender das negociações do governo com os Rocca nem com o governo argentino; os trabalhadores têm que lutar por ela, sem indenização e sob gestão operária. Fica claro que para batalhar por estas demandas é imprescindível a luta pela independência política das organizações sindicais, pois depois de oito anos de governo elas não estão solucionadas porque Chavez em todo momento garantiu as propriedades e lucros capitalistas, pois seu projeto é um “socialismo com empresários”.
Dessa forma, consideramos como um grave erro político que os dirigentes da C-Cura tenham votado há uns meses a entrada da corrente sindical no PSUV, porque isso vai no sentido oposto da luta pela autonomia dos sindicatos. Recentemente, o companheiro Orlando Chirino, junto com outros importantes dirigentes, vem manifestando que a resolução de que a C-Cura ingresse no PSUV e discuta ali seu programa teria o objetivo de demonstrar que o PSUV não seria um partido de trabalhadores, mas um partido de empresários e políticos antipopulares. Nós nunca compartilhamos essa política, como vimos expressando publicamente. Como hoje o próprio Chirino reconhece em entrevista em Aporrea, de 10 de abril [1], essa experiência está esgotada já que Chavez redobrou o ataque contra a autonomia dos sindicatos em relação ao Estado e ao governo. Demonstrando isso, o governo convocou um burocrata corrupto, Osvaldo Vera, para falar no ato de lançamento do PSUV em nome do movimento operário.
Portanto, propomos realizar uma forte campanha nos sindicatos da C-Cura, e a partir deles em todo o movimento operário, reivindicado a autonomia absoluta das organizações sindicais com respeito aos patrões, ao governo e ao Estado.Isso, em primeiro lugar, significa rechaçar todo tipo de disciplinamento ao governo e reverter a votação da C-Cura de participar do processo de fundação do PSUV.
Uma política verdadeiramente classista pela autonomia dos sindicatos, como a que propomos, ligada a um programa transicional, não pode deixar de culminar na luta por uma ferramenta política própria dos trabalhadores. A luta pela autonomia dos sindicatos em relação ao Estado, aos patrões e ao governo e a luta por um programa operário e popular criarão as bases desde as quais se abrirá a discussão em amplos setores dos trabalhadores sobre a ferramenta política necessária para construir, em função da luta de classes que vem se desenvolvendo.
Nós defendemos que é necessário um partido operário independente que levante um programa verdadeiramente anticapitalista, antiimperialista e revolucionário que se proponha ser a força dirigente dos milhões de explorados.
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