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Mais de 200 trabalhadores fundam o Movimento Nossa Classe
por : LER-QI, Brasil

31 Mar 2014 | O Encontro de Trabalhadores, ocorrido no último sábado 29 de março, mostrou que os garis do Rio de Janeiro abriram uma nova fase no movimento operário brasileiro, para a qual nos preparamos fundando o Movimento Nossa Classe.
Mais de 200 trabalhadores fundam o Movimento Nossa Classe

O Encontro de Trabalhadores, ocorrido no último sábado 29 de março, mostrou que os garis do Rio de Janeiro abriram uma nova fase no movimento operário brasileiro, para a qual nos preparamos fundando o Movimento Nossa Classe. Com a presença de 350 pessoas, mais de 200 trabalhadores participaram de uma intensa e emotiva jornada de discussão que partiu das lições da greve dos garis e também das lições das jornadas de junho de 2013. Em novembro do ano passado, nós da Liga Estratégia Revolucionária convocamos um Encontro de trabalhadores, jovens, negros, mulheres e LGBTTI para debater as lições de junho para uma perspectiva revolucionária que reuniu 800 pessoas, onde uma das principais votações foi a proposta de construir uma agrupação nacional no movimento operário que envolvesse todas as categorias. Ao longo desse período debatemos essa questão nas categorias em que estamos e, com o momento novo que se abre com a greve dos garis, resolvemos convocar urgentemente esse Encontro de Trabalhadores para tirar as lições da luta dos garis e fundar o Movimento Nossa Classe.

A delegação dos garis deu o tom de todo o Encontro e emocionou os presentes desde a chegada, quando foram recebidos e cantaram juntos “o, o, o, o gari acordou”, “não vai ter arrego”, “e, e, e, nesse carnaval o prefeito vai varrer”. Estiveram na mesa de abertura 4 garis eleitos entre eles para representar a delegação, ao lado de Val Lisboa, fundador da LER-QI, e Jenifer Tristán, da Juventude ás Ruas do Rio de Janeiro, que estiveram ombro a ombro com eles desde o primeiro dia de luta. A mesa foi dirigida por Marília Rocha, operadora de trem do metrô paulista, militante da LER-QI, delegada sindical e dirigente do grupo Metroviários pela Base, e Pablito, trabalhador do Restaurante da USP, diretor do Sintusp e militante da LER-QI. Nos seus depoimentos, que podem ser vistos nos vídeos do Encontro, os garis relataram os momentos da heróica luta que travaram e todas as reflexões que a partir dela fizeram. Na mesa com os garis, foi muito importante a participação de Adailson Rodrigues, motorista da empresa Trevo, que foi membro eleito do Comando de Greve dos rodoviários de Porto Alegre, que contou como pararam a cidade por 15 dias e também se organizaram pela base contra a burocracia sindical e tiveram conquistas como o fim do banco de horas. O internacionalismo também foi uma marca do Encontro, com a participação desde a mesa de Alejandro Vilca, dirigente do Partido dos Trabalhadores Socialistas (PTS) da Argentina e delegado sindical dos garis de Jujuy (Argentina). Também interveio Julio, metalúrgico de Minas Gerais, que relatou o trabalho que estamos desenvolvendo nas fábricas contra a ditadura patronal e homenageou um companheiro químico que não pode estar presente porque estava no hospital devido a um acidente de trabalho na fábrica que chegou ã ameaça de perder o braço, mas que se recupera, lendo uma emocionante carta deste companheiro aos presentes no Encontro.

A delegação paulista contou com dezenas de metroviários, com efetivos e uma importante delegação de terceirizados. Trabalhadores da USP, os diretores do Sintusp Diana Assunção, Bruno GIlga e Claudionor Brandão. Os professores de São Paulo, que vão agora lutar contra a burocracia sindical nas eleições da APEOESP, também estiveram em peso. Os bancários de São Paulo, do grupo Uma Classe, que vinham de uma importante participação na chapa 2 de oposição nas eleições do Sindicato de Bancários, e que agora vão concorrer na eleição da Associação da Caixa Econômica pela chapa 3, encabeçada pelo companheiro Messias, da oposição Avante, que também fez uma saudação. A indústria esteve representada por trabalhadores do ABC, Zona Oeste paulista, Campinas e Franca, da alimentação, metalúrgicos, químicos e sapateiros. Também estiveram presentes petroleiros, trabalhadores da saúde, carteiros, aeroviários e de outras diversas categorias de trabalhadores terceirizados. Além destes trabalhadores, o plenário se completava com a participação importante dos militantes do grupo de Mulheres Pão e Rosas e da Juventude ás Ruas, que vêm atuando ativamente em cada luta dos trabalhadores e que foram fundamentais em toda a organização do Encontro e se comprometeram a apoiar a construção do movimento aprofundando a experiência do apoio ã greve dos garis, começando pela campanha da Chapa Maré Laranja – para varrer a burocracia acadêmica e estudantil da USP – que estão organizando para concorrer ás eleições do DCE da USP.

Depois da mesa de abertura, foram organizados Grupos de Discussão (GD), nos quais se debateu os fundamentos, a partir das lições da greve dos garis, e com a riquíssima intervenção dos próprios garis, da fundação do Movimento Nossa Classe e as resoluções políticas de solidariedade ás lutas em curso e de organização que são as que foram aprovadas na Plenária Final por aclamação, depois de terem recebido vários aportes fruto das discussões nos GDs.

A primeira resolução foi a votação de “Impulsionar o Movimento Nossa Classe, partindo das lições das jornadas de junho e da greve dos garis tendo como fundamentos principais a luta contra o governo, os patrões e a burocracia sindical. Que os trabalhadores acreditem apenas em suas próprias forças se organizando a partir da mais ampla democracia operária. Que lute incansavelmente contra todas as formas de opressão ás mulheres, negros e LGBTTIs. Que lute contra a repressão ás greves e aos lutadores, contra o genocídio do povo negro e contra a militarização dos morros e favelas. Que este movimento tenha como um dos eixos organizar a mais ampla solidariedade ás lutas operárias em todo o país, partindo do exemplo que fizemos na luta dos garis, mas agora com um forte movimento de centenas organizado nacionalmente. Que lute pela defesa do emprego, salário e direitos da classe trabalhadora. Que lute para varrer a burocracia dos sindicatos e retomá-los para a luta.” Todo o plenário se mostrava convicto que vamos colocar de pé um movimento de centenas em todo o país que vai fazer a diferença na nova etapa da luta de classes que se abriu no país após as jornadas de junho e, principalmente agora com a entrada em cena do movimento operário, com grandes exemplos de luta.

Colocou-se muito peso na discussão de que a solidariedade de classe nacional e internacional que conseguimos expressar frente ã greve dos garis, com várias categorias se manifestando, deveria ser um eixo fundamental do Movimento Nossa Classe, numa perspectiva classista concreta, não deixando mais nenhuma luta importante nesse país isolada. Começamos a praticar isso já no Encontro, gravando um vídeo em apoio ã greve dos garis de Recife.

Deste movimento, farão parte uma série de trabalhadores independentes ali presentes de todas as categorias, além de militantes da Liga Estratégia Revolucionária e independentes que impulsionam conosco o Metroviários pela Base, o Professores pela base, os bancários de Uma Classe, as trabalhadoras e a juventude do Pão e Rosas e os que organizam conosco os diversos Boletim Classista que editamos em várias categorias. Votou-se também que cada categoria deveria eleger um representante para fazer parte de uma coordenação nacional, bem como fazer blog, Facebook, jornal e vídeos do Movimento Nossa Classe para impulsionar a sua construção em todas as fábricas, empresas, escolas e universidades onde possamos chegar. Também, a partir da discussão nos GD´s, se votou realizar cursos de formação para trabalhadores.

A outra resolução aprovada foi em relação ã orientação do Movimento Nossa Classe de “Seguir o exemplo dos garis, organizando uma grande luta em cada uma das categorias que estamos, organizando assembleias, reuniões pela base, chamando as organizações de esquerda a impulsionar essa organização de base conjuntamente. Nessas luta, temos que fazer pesar as demandas estruturais de cada categoria, construindo fortes greves que superem as meras mobilizações de pressão por 1% ou 2% de aumento. Assim como os garis aproveitaram o Carnaval, devemos aproveitar a conjuntura da Copa do Mundo para arrancar essas conquistas em cada categoria, mas lutar por unificar o conjunto da classe trabalhadora para arrancarmos as demandas que o povo brasileiro levantou nas ruas em junho do ano passado, como transporte, saúde e educação públicos e de qualidade. Impulsionar no Movimento o debate sobre a campanha que a agrupação Metroviários pela Base de São Paulo vem realizando pela Estatização dos Transportes sob controle de trabalhadores e usuários. Também queremos unificar todas as categorias na luta contra a precarização, contra a exaustão e acidentes de trabalho e impulsionar uma forte campanha pela efetivação de todos os terceirizados e precarizados sem necessidade de concurso ou processo seletivo, chegando nos setores mais explorados da classe operaria.”

Nessa discussão de orientação, cumpriu um papel importante a discussão de que para que nosso movimento impacte nacionalmente, temos que participar ativamente das iniciativas que sejam politicamente corretas convocadas pelas organizações e centrais sindicais de esquerda, como a CSP-Conlutas ou as mobilizações convocadas pelo Espaço de Unidade de Ação, como as ligadas ã Copa do Mundo, bem como em cada categoria tentar construir frentes únicas ao redor das batalhas a partir das lições da greve dos garis, mas tendo claro que isso será uma luta política para que essa esquerda rompa com a forma como atuam no movimento operário, pois essas correntes sempre tendem a não colocar peso no trabalho de base, não batalham para superar o corporativismo nas mobilizações concretas de cada categoria, se adaptam ã justiça burguesa, retrocedem frente ás primeiras ameaças etc. (ver balanço do Encontro do Espaço Unidade de Ação nesse site).

A terceira resolução foi internacionalista: “A classe trabalhadora não tem fronteiras, e por isso nosso movimento deve praticar o internacionalismo ativo, levantando as bandeiras dos trabalhadores em todo o mundo. Neste Encontro votamos como campanhas hierárquicas a solidariedade à luta dos operários e operárias da fabrica Panrico no Estado Espanhol, em greve há mais de 5 meses, à luta dos professores da Argentina e a luta pela Absolvição dos Petroleiros de Las Heras (Argentina), aderindo ás campanhas internacionais já em curso”. Já no final do Encontro tiramos fotos e fizemos vídeos em apoio a essas lutas.

Fizemos questão de aprovar somente três resoluções centrais, que pudessem ser discutidas profundamente nos GD´s e que ficassem claras como orientação central para todos os presentes, diferentemente do que são os Encontros que a esquerda organiza, que ou votam mil resoluções que são uma formalidade, incorporando tudo para não debater nada, ou diretamente se incorpora “por consenso” para um caderno de resoluções que não serve efetivamente para nada. Na plenária final houve outros momentos emocionantes, como foi a saudação de Jorge Luiz Souto Maior, professor de direito da USP e juiz do trabalho, que foi homenageado pelos garis que utilizaram em sua luta os argumentos jurídicos do texto de Souto Maior. Depois, os garis espontaneamente homenagearam os companheiros da LER-QI do Rio de Janeiro, particularmente Val Lisboa, Rita Frau e Jenifer Tristan, que estiveram todos os dias ombro a ombro com eles.

O Encontro terminou com todos muito entusiasmados e convictos das perspectivas que se abrem no movimento operário e da construção do Movimento Nossa Classe nas fábricas, empresas, escolas e universidades para recolocar a classe trabalhadora na linha de frente da luta contra a exploração e opressão capitalista, começando por cercar de solidariedade todas as greves para que sejam vitoriosas, defendendo a organização pela base, a união e a coordenação em torno de planos de luta preparados conscientemente para derrotar os patrões, os governos, os políticos burgueses e os burocratas sindicais e arrancar as legítimas e justas reivindicações para os trabalhadores e do povo pobre. Finalizamos o Encontro com uma roda de samba de raiz durante a noite, que teve entre os cantores uma voz especial de um gari do Rio de Janeiro, de Irajá.

 

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