por LER-QI, ABCDMR
A vitória dos Garis do Rio contagiou a categoria em todo o país. No ABCDMR não foi diferente. A greve de 8 dias dos Garis do ABC Paulista comprovou as tendências, ao menos neste setor precário e de maioria negra, presente em todo o país, de um novo e forte movimento operário, que rompe os limites impostos por suas direções e deixam como o exemplo para o conjunto dos trabalhadores de que para lutar consequentemente é necessário superar as burocráticas direções sindicais.
No berço de um bastião operário reconhecido pela imensa força, os varredores e coletores unidos recuperaram uma lição apagada pelos anos de lulismo e transformação dos sindicatos em instrumentos dos patrões e dos governos. Recuperaram a lição de que se organizando desde as bases de maneira independente, não só podem arrancar acordos melhores do que propõem os sindicatos pelegos, mas também garante que não se puna nenhum trabalhador com desconto ou reposição dos dias parados e/ou demissões. Nenhuma punição é a pré-condição para uma luta séria e a categoria sair de cabeça alta e seguir se organizando. Tal como no Rio que não caiu na chantagem das demissões, no ABC também foi derrotada esta ameaça e os descontos, e também como fizeram os garis do Rio, os garis do ABC não se curvaram perante a justiça e sua tentativa de derrotar a greve.
A vitória dos Garis do ABCDMR desde o começo demonstrava-se possível, apesar de serem trabalhadores terceirizados que faziam pela primeira vez uma experiência mais profunda com suas direções sindicais, ao contrário dos garis do Rio, que vinham se organizando e mobilizando previamente. Com sua influencia e demonstração da poderosa força dos trabalhadores unidos os garis do ABCDMR também arrancaram conquistas e mesmo com postos mais precarizados, do que no Rio, com uma imensa divisão de categorias, empresas e cidades distintas, os garis mostraram que é possível lutar, é possível vencer. Sua vitória deixa um exemplo para setores precários, terceirizados.
A formação das comissões e da democracia operária para derrotar as prefeituras, a justiça e o sindicato
Na sexta-feira 04 de abril, o sindicato já demonstrava que greve de fachada tem dia e hora para acabar. Enquanto o Tribunal Regional do Trabalho (TRT) cumpria seu papel de julgar as lutas operárias ilegais, os prefeitos das seis cidades paradas se faziam de descompromissados com aquela situação, colocando no lugar dos garis em greve, trabalhadores ainda mais precarizados.
Os trabalhadores que nesses poucos dias avançavam sua consciência rapidamente percebiam que o sindicato os entregava de bandeja aos patrões, impondo o castigo educativo aos grevistas e ameaçando os trabalhadores se eles levassem sua luta a frente, dizendo que ficariam sem emprego e consequentemente sem ter o que comer. Sem estabilidade e sem a principal reivindicação de aumento salarial (15,39% como pedia a categoria).
Com o exemplo do Rio sendo debatido entre os trabalhadores ficou claro que não só era possível e atual, mas como somente por essa via os trabalhadores arrancariam suas demandas. Foi então que alguns trabalhadores tomaram a linha de frente para organizar uma assembleia que votasse uma comissão com membros revogáveis para que não perdesse seu objetivo de defesa das demandas do conjunto dos trabalhadores. Dividiram-se em grupos e foram nos aterros Peralta e Lara para propagandear sua auto-organização e unificar suas pautas, porque a lição da união dos trabalhadores era não só clara como uma questão decisiva para os rumos da Assembleia que ocorreria a tarde e a luta que tomavam em suas próprias mãos.
O avanço que deram em sua organização, criando esta comissão, fazendo assembleias, tendo representantes revogáveis teve que ser reconhecida pelas empresas. O reconhecimento de sua comissão é um passo a frente para legitimar outras categorias a se organizar e também dentro dos próprios garis do ABCDMR. O ódio que tiveram do sindicato que lhes abandonou agora segue com vários trabalhadores discutindo como fazer para recuperar o sindicato para a luta dos trabalhadores. A estabilidade de 6 meses para todos grevistas acordada com a patronal pela comissão, tem que estar a serviço desta batalha, organizar democraticamente e desde a base a categoria para suas reivindicações e para dar passos para retirar os pelegos do sindicato e recuperá-lo para a luta de classes.
O movimento Nossa Classe na greve dos garis do ABCDMR
Jovens da Juventude ás Ruas da Fundação Santo André e da USP, junto a professores e metalúrgicos do Movimento Nossa Classe estivemos desde o primeiro dia nas manifestações e piquetes dos trabalhadores. Nos orgulhamos de ter contribuído moralmente com sua vitória, colocando esta aliança como força para confiarem em suas forças mesmo quando o sindicato lhes traía. Estivemos em sua luta não como pequenos grupos que querem dar aulas aos trabalhadores, mas para apoiar sua organização, sua tomada de decisões. Nestas greves estão se forjando dirigentes operários, vamos a elas para aprender e, ao mesmo tempo, desde a experiência histórica e de outras categorias, como os garis do Rio, contribuir para que os trabalhadores avancem em sua consciência e organização.
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