2014 começou quente no que diz respeito ás lutas operárias, e enquanto isso as pesquisas mostram a queda de popularidade do governo Dilma – o que por enquanto não altera a tendência principal de manutenção do governo petista. As jornadas de junho foram a “ante-sala” destes processos mais profundos na classe operária, que por enquanto parecem estar apenas em seus princípios. Estes processos já são expressão da experiência inicial de amplos setores da classe com a burocracia sindical dos anos de governo Lula e Dilma, o que abre espaço para avançar na construção de uma ampla organização revolucionária de trabalhadores.
Chega ao Brasil o “sindicalismo de base”?
Neste mês lançamos a Revista “Luta de Classes” que trará uma combinação de artigos e análises sobre os principais temas da situação nacional e as greves que trouxeram de volta o “sujeito perigoso” com entrevistas direto destas novas experiências, como a impressionante greve dos garis do Rio de Janeiro, a experiência de comissões independentes na greve dos garis do ABC e o que significou a greve rodoviária de Porto Alegre.
A importância a se dar a estes processos de luta é que expressam por um lado o levante dos setores mais precarizados da classe operaria de nosso país e a tendência ao surgimento do que Leon Trotsky chamava de “organismos ad-hoc”, ou seja, aqueles organismos que o regime sindical não comporta, justamente porque os sindicatos agregam apenas uma parcela minoritária da classe operária ou porque estão encastelados por burocratas sindicais que impedem que os sindicatos sejam ferramentas de luta – ao contrário, se transformam em agentes da patronal e do governo na classe operária.
Ao mesmo tempo, o que podemos apontar como tendência que já vem se comprovando há alguns anos (com as greves da construção civil no Norte e Nordeste do país) e que 2014 confirma é o início do desenvolvimento de um processo de ativismo operário em distintos setores que pode se configurar como um tipo de sindicalismo de base que irrompe com o “modo petista” de militar. As tendências apontam para um amplo espaço em que pode-se desenvolver militância ativa na classe operária, tanto porque junho “abriu corações e mentes” de milhares no país como porque a classe operária, desde seu “subsolo”, vem se exercitando. De Jirau aos garis, há uma classe operária se preparando para entrar em ação.
A experiência com um dos pilares estruturais do governo Lula
O jornal Valor Econômico (11/03/2014) trouxe uma interessante análise a partir da greve dos garis e da greve dos operários do Comperj. O jornal dizia “O movimento expôs, porém, a fragilidade do sindicato da categoria e a capacidade e mobilização de grupos independentes. Trata-se, de acordo com a procuradora do Ministério Público do Trabalho, Débora Félix, de uma tendência no movimento de trabalhadores”. O que retrata o Valor Econômico é apenas a constatação de que também a burguesia tira lições da luta de classes e começa a perceber que um dos pilares fundamentais da estabilidade e imobilismo social que trouxe os anos de lulismo foi o papel de contenção social que cumpriram os sindicatos vinculados ã CUT, CTB, Força Sindical e UGT.
O “lulismo” foi o período de contenção e imobilismo das massas que junho arrebentou, abrindo as portas para a construção de uma nova consciência de classe. Como fizeram os garis no Rio de Janeiro, os rodoviários em Porto Alegre e agora novamente os garis no ABC, vamos ter que com criatividade criar novas formas de se organizar para retomar o sindicatos como única maneira de fazer avançar as tendências mais profundas da poderosa classe operária brasileira.
Um programa operário para enfrentar as injustiças da Copa
Com todas estas tendências apontadas em relação ao movimento operário, o governo federal, a oposição e o regime burguês continuam demonstrando que deixarão a maioria da população sofrendo com enchentes, racionamento de águas, apagões, inflação, mortes por acidentes de trabalho – como vimos novamente no Itaquerão – e a precariedade dos serviços públicos como educação, moradia, saúde e transporte. Hoje, 42% do orçamento publicado é destinado aos grandes investidores financeiros, bilhões vão para os estádios da Copa, para subsídios fiscais aos grandes empresários e para o aparato de repressão do Estado.
Os escândalos de corrupção continuam a todo vapor, agora com o caso da Petrobrás que atinge diretamente Dilma e se soma ao escândalo do Metrô de São Paulo. Tanto em um caso como em outro estão envolvidos os grandes monopólios que financiam as campanhas eleitorais do PT e do PSDB, que saíram publicamente a pressionar pela não instalação da CPI para não verem seus negócios prejudicados. A militarização dos bairros pobres e o acobertamento da corrupção estão a serviço de conter as explosivas contradições sociais inerentes a essa realidade de inflação enchentes, racionamentos e sucateamento de serviços públicos diante da Copa do Mundo.
Os trabalhadores e trabalhadoras que já estão demonstrando enorme disposição de luta por aumentos de salário devem levantar um programa que exija o salário mínimo calculado pelo DIEESE (R$ 2.992.19), a efetivação de todos os terceirizados sem necessidade de concurso público ou processo seletivo e, conforme aumente a inflação, exigir o reajuste salarial automático de acordo com o aumento do custo de vida. Ao mesmo tempo, devemos levantar a estatização de todos os serviços públicos sob controle dos trabalhadores e usuários sem indenização, garantindo a qualidade do atendimento através de impostos progressivos ás grandes fortunas e do não pagamento das dívidas externa e interna. Abaixo toda forma de repressão que atinge em especial a população negra, pelo fim da ocupação militar da Maré e de todas as favelas e bairros do país. Basta de corrupção. Punição e confisco a todos os corruptos e que os deputados e todos os funcionários públicos de alto escalào (membros do executivo, legislativo, juízes, etc.) ganhem o mesmo que uma professora não precária.
Por um plano de luta efetivo que unifique as campanhas salariais rumo a uma paralisação nacional
Frente a esta situação onde o governo se encontra debilitado, é fundamental que as organizações sindicais da esquerda lutem por um plano de luta efetivo (greves, piquetes, paralisações) que possa colocar a classe trabalhadora em cena exigindo das centrais sindicais a convocação de uma paralisação nacional – como fizeram nossos irmãos argentinos – que combine as campanhas salariais em curso com as demandas mais sentidas da população que se expressaram em junho e que podem questionar firmemente os gastos exorbitantes com a Copa do Mundo. No Metrô de São Paulo, por exemplo, lutaremos para que a campanha salarial levante a demanda da redução da tarifa.
Acreditamos ser insuficiente o plano que se encaminhou através do chamado “Espaço Unidade de Ação” onde está atuando a CSP-Conlutas uma vez que não se propõe organizar os trabalhadores desde as bases para colocar de pé greves que liguem as demandas de cada categoria com as demandas de junho, permitindo que a classe trabalhadora atue com centralidade nas manifestações contra a Copa; e tampouco se dirige ás bases dos bastiões operários que integram a CUT, a CTB e a Força Sindical para disputá-la em combate contra a política de contenção de suas direções e avançar na luta pela retomada dos sindicatos. Não basta concentrar as forças em uma manifestação no dia 12 de junho (que diga-se de passagem é feriado) se isso não estiver ligado a um combate prévio para colocar os bastiões da classe trabalhadora e os métodos proletários de luta no centro do cenário político do país.
Neste artigo apresentamos o programa e a política pela qual lutamos no Encontro nacional do Espaço Unidade de Ação e que votamos na fundação do Movimento Nossa Classe. Chamamos os setores de vanguarda da classe trabalhadora a lutarem junto conosco em cada local de trabalho, levando esta perspectiva nos atos do 1° de maio, ao mesmo em que lutamos para colocar de pé a ferramenta que a classe operária necessita diante da miséria e opressão capitalista, que só pode ser um partido revolucionário de toda a nossa classe.
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