Nem as ameaças de repressão, nem a campanha reacionária da burguesia na mídia, nem a pressão da reitora conseguiram desarmar a ocupação da Reitoria impulsionada pelos estudantes na greve da Universidade de São Paulo (USP). Desde o dia 3 de maio o prédio da Reitoria se transformou no centro do que parece ser a mobilização estudantil mais importante em muito tempo. Os estudantes da USP são hoje a vanguarda de uma luta política contra o governo estadual de José Serra (PSDB) que se iniciou com a resistência aos decretos que acabam com a autonomia política e financeira da universidade, e logo se ampliou por demandas como moradia estudantil, contra a perseguição política e outras reivindicações. Vem se realizando assembléias com a participação de mais de 2 mil estudantes que ganharam a simpatia e o apoio efetivo dos trabalhadores que também estão em greve. Cerca de 400 professores, que em geral são os setores mais conservadores e contrários ã greve, acabaram de votar em assembléia seu apoio ã greve e a ocupação dos estudantes e em uma resolução histórica, que na noite anterior foi aprovada na assembléia estudantil: a convocatória a uma estatuinte para discutir a estrutura de poder na universidade.
O conflito da USP é o mais importante de uma situação nacional marcada por uma combinação de greves em setores do funcionalismo público federal e estadual de Sâo Paulo. Ainda que essa luta seja em primeiro lugar contra o governo de Serra, não podemos nos esquecer que também se da no marco do desgaste do segundo mandato do governo Lula - que compartilha dos planos de ataque ã universidade do Serra - e das pressões burguesas para que avance o ataque ao movimento operário.
Isto se combina com uma tentativa de demonstração de forças das burocracias das centrais sindicais (CUT e Força Sindical) que convocaram uma paralisação no último dia 23. Ainda que tenha um conteúdo de apoio ao veto do governo ã medida anti-operária chamada "emenda 3", a paralisação foi utilizada pelos estudantes em luta para somar suas demandas ã greve dos trabalhadores.
Neste contexto, a greve estudantil se transformou em um fato da política nacional, com a mídia burguesa falando sobre ela dia a dia e obrigando o governo Serra a discutir diretamente com e contra a ocupação, e abriu uma crise na burocracia acadêmica, com setores mais abertamente reacionários que defendem terminar o conflito com a repressão policial e outro que busca desviá-la com o diálogo e míseras concessões, ainda que nenhuma das duas alas tenha conseguido até agora deter o avanço do conflito. Pelo contrário, hoje a maioria dos cursos da USP assim como as outras duas estaduais paulistas (UNESP e UNICAMP) estão em greve. Frente a cada ameaça de repressão do Serra e da reitora se confirma a disposição de luta dos estudantes, que recém começam a discutir como transformar mais profundamente a universidade cujo regime é totalmente elitista e racista, pensado para defender os interesses do capital.
Cabe perguntar-se se esta luta dura e política pode estar antecipando processos mais avançados e inclusive a entrada em cena do movimento operário. Como dizem os estudantes da USP: "Sejamos realistas, exijamos o impossível".
A intervenção da esquerda
O PSOL, com o PSTU a reboque, que tinham uma localização dirigente no início da ocupação, fizeram de tudo para levantá-la, já que sua política se limitava a um mero ato. Não esperavam que o descontentamento dos estudantes fosse explodir como explodiu. Estas tentativas se aprofundaram principalmente depois que começaram as ameaças de repressão. Na plenária da ocupação do dia 21, segunda-feira, o PSTU propôs levantar a ocupação justamente no momento em que os estudantes ganharam mais apoio e sem que a reitora tivesse atendido a nenhuma reivindicação de fundo. Sua proposta perdeu em várias oportunidades e para tentarem se relocalizar fizeram um balanço público dizendo que foi um erro. Apesar de nós reivindicarmos o método dos balanços frente ã vanguarda, dissemos que não se tratou de um "erro" e sim de uma tentativa de acabar com as expressoes mais radicais e progressivas da vanguarda, ficando ã direita dos setores mais combativos. Inacreditavelmente, enquanto tentavam levantar a ocupação estudantil, chamavam apoio incondicional a greve da polícia no estado de Santa Catarina, dizendo que "se trata de uma luta dos funcionários públicos da segurança contra a precarização trabalhista".
Desde o Movimento A Plenos Pulmões, que reúne militantes da LER-QI e independentes, constituímos um bloco junto ao setor combativo do movimento que foi ganhando cada vez mais uma localização de direção. Discutimos a necessidade e legitimidade de resistir frente a uma possível repressão, de acordo com o que foi votado pelos trabalhadores da universidade. Colocamos a necessidade de massificar o movimento pondo de pé um corpo de delegados combativos a partir da eleição de representantes revogáveis em assembléias de curso, que constituam um comando de greve, como foi o CGH na heróica luta dos estudantes da Universidade Autônoma do México (UNAM). Cada vez foi ficando mais claro que para impôr nossas demandas temos que lutar pela queda da reitora e do secretário do ensino superior, Pinotti, e eleger uma estatuinte que arranque o poder da universidade das mãos da burocracia acadêmica e o coloque nas mãos dos estudantes, professores e funcionários, com maioria estudantil, para colocar a universidade a serviço dos interesses dos trabalhadores e do povo.
– Os reacionários decretos do governador Serra
– Decreto n° 51.460: altera a administração de algumas entidades, vinculando-as a distintos setores do governo estadual;
Os funcionários e alunos das universidades colocam que a medida fragmenta ainda mais a área educacional, colocando algumas entidades sob a administração de distintas secretarias.
– Decreto n° 51.461: organiza a Secretaria do Ensino Superior.
A medida ataca a autonomia universitária e não prevê a articulação do ensino superior com o ensino básico.
– Decreto N° 51.471: “ficam vedadas a admissão ou contratação de pessoal no âmbito da administração pública direta e indireta";
Para alunos e funcionários, implica a precarização dos serviços oferecidos ã população e estimula a terceirização. Além disso, fere a autonomia universitária de contratar professores e funcionários de acordo com seus recursos e necessidades.
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