Entrevista a Marília Rocha, metroviária e dirigente da LER-QI
Como começou e como está a greve dos trabalhadores do metrô?
Nessa quinta começou a greve após a assembleia que realizamos. Há semanas estamos nos mobilizando e tentando negociar, mas a empresa só estava disposta a dar um aumento de 7,8% que sequer cobre a inflação do país. Depois de várias negociações, a empresa ofereceu só o 8,7% e quase nenhuma das outras reivindicações, como o plano de carreira, o pagamento de periculosidade para os trabalhadores das estações, equiparação salarial, semana de 36hs, reincorporação dos demitidos de 2007, ou seja, um conjunto de reivindicações importantes que a empresa se nega a negociar, oferecendo um aumento muito baixo.
Assim, a disposição dos trabalhadores de iniciar uma grande luta se fez enorme, com 2500 trabalhadores em uma enorme assembleia, votando a greve. Um movimento dessa magnitude só se compara ás greves de anos atrás, pelo menos desde 2007 (os trabalhadores mais antigos do metrô comparam essa greve com a de 1988). Houve greves menores, como em 2012, mas essa durou apenas 12h e não tinha a mesma força.
Também é preciso dizer que essa decisão de luta terá consequências nos métodos, ao menos junto a uma vanguarda ampla de trabalhadores que participam nos piquetes e nas estações mais importantes, o que pode fazer com que o impacto da greve se faça sentir e afete esse serviço estratégico em toda a capital.
Em que contexto se dá essa greve?
A greve se desenvolve em um contexto muito interessante para os trabalhadores, dando continuidade ã recomposição das lutas operárias do último período, sob o estímulo da triunfante greve dos garis do Rio de Janeiro durante o carnaval, e muitos setores começaram a lutar pelas suas demandas, configurando a maior onda de greves nos últimos anos, quiçá décadas – combinada com ações de massas dos Sem Terra e dos povos indígenas, juntamente com os protestos de setores de vanguarda da juventude.
Paralelamente, estamos vendo explosões sociais na periferia das grandes cidades, pela questão das inundações, pela repressão policial ou pela precarização dos serviços públicos.
A greve dos motoristas de São Paulo ao parar a cidade por dois dias reproduzindo os métodos de organização desde as bases contra a direção do sindicato (como ocorreu em outras categorias, como os motoristas de outros estados, garis, trabalhadores da construção civil, etc), instalou o debate sobre “as greves selvagens” em todos os meios, que evidenciam uma “crise do regime sindical”. Principalmente porque se dão em sua maioria contra as direções sindicais, e ao ocorrerem em serviços estratégicos para o funcionamento das grades cidades, colocam a classe trabalhadora e suas reivindicações no centro da política nacional, com o poder efetivo de gerar crise durante a próxima Copa.
Essa é uma grande preocupação para o governo de Dilma Roussef, já que o evento não está gerando o entusiasmo de outras Copas, sem conseguir promover um envolvimento de “massas” com o evento; que tem sua contrapartida no aumento da militarização desses serviços estratégicos, com a polícia e o exército tentando de todas as formas possíveis intimidar e manter o movimento operário inativo. Nesse contexto se dá a greve do metro, em um dos setores fundamentais dos serviços, e disso deriva a importância de sua greve no contexto nacional.
Que política é preciso para que os trabalhadores do metrô triunfem?
Devemos partir de que existem ainda alguns conflitos em curso, sendo um dos mais importantes em São Paulo a greve das universidades estaduais paulistas (USP, Unicamp, UNESP) e setores como os motoristas que vem de realizar greves.
A greve dos trabalhadores da USP (com o Sindicato de Trabalhadores da USP adiante) é um exemplo de organização das bases, com um comando de greve com delegados, que devemos implementar aqui também para fortalecer nossa greve.
Além disso, devemos ligar nossas demandas específicas com uma solução de fundo para o conflito, como a campanha que viemos fazendo pela estatização do transporte sob controle dos trabalhadores em aliança com os usuários, que são os mais afetados hoje pelo caos no transporte e pelas condições precárias que as empresas oferecem tanto aos trabalhadores como ao conjunto da população.
Nesse sentido há duas questões chave para o conflito: pensar as distintas formas de impulsionar uma grande campanha de solidariedade com os trabalhadores do metrô, com as distintas ações do movimento operário e a juventude nos meios e redes sociais, moções, atos, etc. No mesmo sentido, buscar as formas de unificar as lutas em curso que estão fortes como as universidades estaduais e convocar as centrais governamentais como a Conlutas a que ponha todas as suas forças para que este conflito triunfe, utilizando a próxima reunião desta quinta-feira para votar uma exigência ás centrais de massas por um dia de paralisação nacional, para que essa greve possa ser um impulsionador dos distintos conflitos que a burocracia sindical vem freando. Sabemos que existe a mesma disposição de luta em outras categorias, portanto o triunfo dos trabalhadores do metrô fortalecerá a onda de greves no Brasil.
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