Por Iuri Tonelo, professor da rede pública em Campinas-SP
Aquele que escreve essas palavras está entre os milhões da “população” que não é trabalhador metroviário e utiliza o transporte público. Na aparência, nós somos essa enorme massa que a imprensa e o governo dizem que é passiva e apenas “sofre” com a greve. Somos a “população”.
Desde já, portanto, antecipo uma opinião: essa greve não é como as outras. Pois, em meio ã intransigência da empresa e o governo e a luta dos metroviários, nós não podemos ficar indiferentes. A cidade paralisou e convidou a todos nós a pensar e se expressar.
Então, de que lado estar?
Vejamos o que pensar sobre esta greve:
1) os que estão contra a greve dizem que ela prejudica a população. Pois bem, ainda que defendamos o direito de greve (que valeria outra discussão), no caso concreto os metroviários contornaram isso e propuseram a “catraca livre”, ou seja, propuseram que a população entrasse de graça no metrô sem ser prejudicada, enquanto ocorria a negociação de sua pauta.
O governo e o metrô rejeitaram.
2) Os que estão contra a greve disseram que 8,7% já estava bom para os metroviários, que não precisavam de mais nenhuma pauta (e disseram inclusive que os metroviários já ganham demais). Os metroviários negociaram, estiveram inclinados a reduzir a porcentagem pedida e avaliar os elementos de sua pauta que se manteriam, tendo em vista que o metrô tem sido um dos grandes focos de corrupção, e que sabemos todos na sociedade que muito desse dinheiro pode muito bem pagar melhor os trabalhadores para o melhor atendimento da população.
O governo e o metrô rejeitaram qualquer proposta e a justiça aumentou a punição, cortando o salário dos dias parados e aumentando a multa por dia para meio milhão ao sindicato. Mais uma vez foram intransigentes.
3) O governo de Geraldo Alckmin está argumentando que a greve é “política” e por isso não podemos apoiar: convenhamos todos nós, os que são da dita “população”, que a juventude já veio lutando desde o ano passado para abaixar a tarifa (que os governos nunca mais tiveram coragem de aumentar) e frente ao total descaso na saúde, educação e transporte por esses governos não é mais que legitimo que a resposta não venha deles, mas de nós. Desvalorização que passam nossos profissionais da saúde, professores da rede pública e trabalhadores do transporte é um primeiro sintoma claro disso, ou seja, a melhoria das condições dos trabalhadores é o começo de nossa resposta política contra esse projeto (de país capitalista e semicolonial). Se é no sentido de que a greve trás melhorias para toda a população e que uma categoria metroviária mais forte é melhor pra toda a classe, “ahh sim, a greve é política”, ou pelo menos trás uma política diferente dos governos e as empresas.
Governos de um país que gasta bilhões e bilhões com uma Copa que só tem a servir aos empresários, que nadam na corrupção, que gasta bilhões para pagar dívidas “públicas” intermináveis e deixam a população todos os dias no sufoco em direitos elementares, sem falar as necessidades de moradia e questões candentes em nosso país, tem direito de criticar a greve como “política”?
Ou seja, devemos entender o que está em jogo: colocar a “população” contra a greve, massacrar os grevistas, acabar com suas reivindicações e ensinar que os que lutam para melhorar nossos serviços e direitos elementares estão errados.
Pois bem, temos que mostrar então, que por trás de uma “população” estão os corações e mentes dos jovens de junho que dobraram o governo e reduziram a passagem, estão dezenas de categorias de trabalhadores que aos milhares começaram distintas lutas para mudar suas condições de vida e sinalizar aos governos que não aceitaremos mais essa situação, e ainda estão setores como os garis do Rio de Janeiro que impuseram 37% de aumento salarial e não tiveram nenhum demitido, ensinando a classe trabalhadora como se luta.
Hoje eu estive na assembleia dos metroviários e vi mais de 80% da categoria defender com muita força a greve e se organizar para os piquetes, retomando métodos históricos dos trabalhadores para fazer o governo ter que negociar.
Nesse sentido, quero te convencer a apoiar a greve dos metroviários.
O que está em jogo agora é se os trabalhadores e a juventude vão ter voz para mudar os rumos desse país em um outro projeto, ou se manteremos essas empresas e máfias, que sugam nosso sangue e suar, deitar e rolar em cima de todos nós.
A luta dos metroviários, nesse momento, encarna os anseios e as necessidades de todos os trabalhadores do país. Não somos uma população alheia ã greve: somos todos metroviários.
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