Na segunda-feira 23 de junho, J. Mathunjwa, presidente da AMCU (Associação de Mineiros e Sindicato da Construção, segundo sigla em inglês) anunciava a assinatura do acordo salarial que colocava fim ã greve mais longa do mineiros do cordão da platina na África do Sul. Quase 6 meses de paralisação foram necessários para que os trabalhadores dobrassem as patronais multinacionais das 3 principais minas (Lonmin, Anglo American Platinum e Impala Platinum) e conseguissem que o aumento salarial dos mineiros chegasse a 12.500 rand (aproximadamente 1.200 dólares) mediante aumentos mensais durante os próximos 3 anos. Desde o governo e setores empresariais, a vitória dos mineiros foi tomada com preocupação frente a possibilidade de que o exemplo de luta se estenda a outros setores de trabalhadores no país.
A greve de mais de 70.000 mineiros das principais minas de platina foi uma dura queda de braço entre os trabalhadores e as três multinacionais que extraem a platina na África do Sul, que buscavam fazer os trabalhadores pagarem pelas perdas produzidas pela redução nas exportações e dessa maneira manter seus fabulosos lucros. Durante os meses de greve os trabalhadores tiveram que enfrentar uma nefasta aliança entre a patronal imperialista, os representantes do governo do CNA (Congresso Nacional Africano que governa desde a queda do Apartheid) e setores da burocracia sindical, que em alguns casos organizaram diretamente grupos de fura-greve. Enquanto o presidente J. Zuma encabeçava a campanha do CNA para conseguir sua eleição, sob o slogan “Temos uma boa história pra contar”, os mineiros enfrentavam os bate-paus da burocracia sindical, realizavam piquetes contra os fura-greve enviados pela patronal e a burocracia sindical, e tentavam sobreviver, já que cada dia de greve era um dia a menos de salário. O ataque patronal foi tão duro que, como se a falta de pagamento do salário não bastasse, as empresas chegaram a cortar a ajuda médica (principalmente com medicamentos contra o HIV para os mineiros e suas famílias) e social que recebem os trabalhadores.
A greve foi atacada várias vezes pelos porta-vozes do governo e dos empresários, que acusavam os trabalhadores de atentar contra a economia sulafricana. A greve afetou 40% da produção mundial de platina e 60% da produção anual da África do Sul, de mais de 110 toneladas. A paralisação dos 70.000 trabalhadores da AMCU custou aos empresários mais de 2 bilhões de dólares.
As profundas razões da combatividade operária
A histórica greve dos mineiros não se explica somente pela justa reivindicação salarial. Os trabalhadores têm que deixar sua vida em condições precarizadas de trabalho nas minas para extrair o material que proporciona grandes lucros ás empresas, já que a platina é utilizada para os discos rígidos (HDs) de computadores, tablets ou cabos de fibra ótica para citar produtos de uso cotidiano. Em troca recebem um salário que dá apenas para manter sua família e têm de viver nos bairros montados pelas empresas nos arredores da mina com precárias condições sanitárias.
Para os mineiros e suas famílias, como para milhões de trabalhadores e para o povo pobre do país, as promessas de igualdade e melhoria social e econômica que traria o fim do Apartheid nunca chegaram. Enquanto isso, veem como os dirigentes e funcionários do governo da Tripla Aliança (CNA, Partido Comunista e a Central Sindical COSATU) se transformaram em milionários após se tornarem representantes dos interesses dos empresários e multinacionais.
Nos últimos anos os trabalhadores sulafricanos vêm protagonizando importantes greves em diferentes setores, mas não é coincidência que sejam os mineiros um dos setores mais combativos. Os trabalhadores que protagonizaram esta greve histórica são os mesmos que em 2012 protagonizaram a greve que foi brutalmente reprimida pelo governo do CNA e que deixou 34 mortos em Marikana que, como denunciaram organizações sociais e de direitos humanos, lembrou os tempos do Apartheid. A greve mineira se transformou, para os trabalhadores, em uma luta por conquistar seus direitos.
O impacto da greve
A vitória dos mineiros significou um grande golpe a favor dos trabalhadores no momento em que o governo prepara um plano de arrocho e flexibilização trabalhista como resposta ã desaceleração da economia sulafricana. O governo de J. Zuma esperava terminar a campanha eleitoral e conseguir estender seu mandato por um novo período, para começar a aplicar as reformas que vêm pedindo o FMI e as principais empresas multinacionais. Parte deste plano era manter os aumentos salariais abaixo da inflação que ronda os 11%.
O triunfo da greve demonstrou que a conquista do mais mínimo direito (no caso dos mineiros, um salário digno) está baseada na luta dos trabalhadores e do povo pobre, justo no momento em que a histórica direção política da maioria negra na África do Sul, o CNA, se encontra questionado por favorecer os empresários e poderosos enquanto milhões vivem na pobreza, mais de 25% não tem trabalho (número ainda maior entre os mais jovens) e não têm condições dignas nem de saúde nem de educação.
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