O informe, a cargo de Fredy Lizarrague, partiu de reafirmar que do ponto de vista do objetivo do PTS de construir um partido revolucionário da vanguarda operária, se encontrava na transição “de 1.000 a 10.000” [1] militantes, onde o próprio desenvolvimento já não depende só da atividade propagandística (como em grupos menores), senão essencialmente de acertar ou não na política mais geral e dos triunfos e derrotas na luta de classes. Os avanços na inserção no movimento operário e estudantil, na conquista de presença política nacional com deputados nacional e provincial, e o desenvolvimento como força militante, nos localizam nessa transição. Para ilustrar, tomou a discussão que faz Trotsky na Alemanha nos anos ‘30 com o Partido Comunista: esse ano a Internacional Comunista de conjunto discutia o problema da “desproporção”, no sentido de que os PC haviam crescido eleitoralmente na França e na Alemanha, mas não como força militante. Na Alemanha o PC crescia 1,3 milhão de votos, enquanto os fascistas cresciam 5,6 milhões. Trotsky discute primeiro que o balanço eleitoral em si não era pra festejar, como fazem os stalinistas, e depois o problema da “desproporção” entre a influência política e o desenvolvimento militante. Assinala que o stalinismo alemão vai tentar resolver a ‘desproporção’ com medidas organizativas: “temos influencia eleitoral, temos que nos construir, então vamos meter gente no partido aos montes”. É uma interpretação burocrática, administrativa, do problema. Há um problema político, dizia Trotsky. Na Alemanha, os operários não têm confiança no PC. Votam nele porque representa a Revolução de Outubro na Rússia, por suas bandeiras, não pelas políticas da direção. Nesse momento tiveram a política desastrosa do “Terceiro período”, ou seja, a caracterização dos socialdemocratas como “social-fascistas”, em lugar da frente única operária contra os nazistas. Não podem gerar entusiasmo e confiança nos operários para militar no partido. Embora os socialdemocratas tirem 8,6 milhões de votos e o Partido Comunista 4,6 milhões, esses votos socialdemocratas tampouco são muito fanáticos de seu próprio partido. O PC tão é desastroso que poderia ter crescido muito mais eleitoralmente.
Hoje, obviamente a situação não tem nada a ver. “O PC era um partido que havia dirigido o movimento operário alemão na revolução de 1923. Nós viemos de uma longa experiência no movimento operário com o peronismo, que marginalizou a esquerda classista. O 1.200.000 votos significa uma experiência nova. O que me parece que é valido deste exemplo histórico é a forma de refletir o problema. A relação que há entre a influência eleitoral e a força militante que podemos organizar é um problema político.” Assinalou que “o Congresso tem que ser consciente que o primeiro problema de construção é se a política é correta, na luta de classes e na luta política mais geral. Se nossa política gera entusiasmo, se dá gana de militar aos trabalhadores e jovens. Não pode ser uma tarefa administrativa, não é só ‘trabalhar o padrão’. Primeiramente , há que ver se a política entusiasma, no grêmio, fábrica, universidade e sobretudo como partido de conjunto, se os trabalhadores e jovens entendem e compartilham o que queremos fazer. E essa é a responsabilidade dos dirigentes nacionais, regionais e de cada núcleo do PTS”. Acrescentou que, nessa situação política, quando os trabalhadores veem o giro ã direita do governo e que as alternativas patronais que se preparam são iguais ou piores, temos que dizer com toda clareza que os trabalhadores necessitam por em pé um grande partido de trabalhadores que levante um programa operário e socialista, de luta para que os capitalistas paguem pela crise, contra o sentimento que nos impõe o imperialismo e a grande patronal, que lute pela frente única operária e se jogue em cada conflito, para recuperar os sindicatos derrubando a burocracia e para coordenar os setores antiburocráticos e combativos, assim como por em pé uma grande juventude revolucionária que organize milhares de jovens trabalhadores e estudantes, batalhando por centros acadêmicos militantes.
Um diário da esquerda: massas e setores avançados
Para avançar nesse caminho, analisou que a atividade do PTS tem “um nível mais de massas que o espaço eleitoral atual ao qual chegamos com agitação política em determinadas circunstâncias, pelos espaços gratuitos do estado que temos a cada dois anos quando há eleições. São dezenas de milhares de spots em rádio e TV, que chegam a milhões. Esse nível de agitação é restrita pelo regime ás campanhas eleitorais. Entre essa agitação para as massas e a propaganda partidária cotidiana dos militantes que chega só a milhares de pessoas, estão os centenas de milhares de setores, a maioria dos votantes da FIT, a quem queremos nos dirigir com um diário digital, com edições todos os dias e opiniões de todos os temas nacionais e internacionais para criar uma corrente de opinião própria da esquerda. O diário, o novo desafio mais importante que nós refletimos nesse Congresso, tem o objetivo de desenvolver ideias para influir politicamente” [2]. “Nos propomos fazer uma grande campanha de difusão quando lançarmos o diário, fazendo um grande esforço financeiro para chegar a essa centena de milhares”.
“Queremos conquistar assim um segundo nível, um auditório de influencia política que nos escute e veja simultaneamente, mensalmente e tenha um maior grau de compromisso. A esse nível também aponta o periódico impresso, La Verdad Obrera, quando o distribuímos massivamente, a cada 15 dias, nas fábricas e estabelecimentos, apostando que chegue a 20%, 30% dos trabalhadores de cada lugar. Quer dizer, a um setor muito mais amplo que o que organizamos. Por exemplo, nos piquetes da Volkswagen em Pacheco se vendem 150, 200 em um turno. Ou seja, se o fazemos sistematicamente podemos chegar a 300 periódicos a cada 15 dias. Há anedotas que são muito interessantes: contavam que em uma grande empresa, onde não há delegados e não existe legalidade, deixam o periódico no banheiro para que outros trabalhadores o vejam, usam-no como ferramenta contra a patronal. Quando piqueteamos fora da fábrica, dizem-nos que os passam a outros companheiros. Isso tem a ver com que quando há conflitos de classe, nosso periódico se toma como um boletim de luta ligado também ás ideias de esquerda. A combinação das edições massivas em papel e o diário digital na internet que lançaremos, são dois instrumentos de influencia política qualitativamente mais ampla que a que podemos organizar.
Por sua vez, La Verdad Obrera será um instrumento de militância para todos os companheiros e companheiras que se aproximam do PTS, para distribuir entre seus companheiros de trabalho, amigos e familiares.
Militância de partido
“O ultimo nível, fundamental, é o da organização de militantes, não só os militantes partidários, mas das agrupações que militam conosco, e todos os trabalhadores e jovens com quem temos relação mais cotidiana. O que mudou a respeito do Congresso anterior é que nossas agrupações constituem a ala classista do Encontro Sindical de Atlanta, são parte de um polo nacional combativo que teve um papel destacado na paralisação nacional do 10 de abril, como ala classista consequente, diferenciada de “Pollo” Sobrero [3] e de “Perro” Santillán. No movimento estudantil nossas agrupações são a ala pró-operária, por centros acadêmicos militantes, contra o regime universitário e de luta ideológica a partir do marxismo, de um espaço mais amplo de esquerda referenciado na FIT. Na luta pelos direitos de nossas mulheres, a agrupação Pão e Rodas foi motor de militância de centenas de companheiras”.
Remarcou que é uma batalha permanente ganhar novas camadas de militantes do PTS e da juventude do PTS, para o qual a propaganda é muito importante. Destacou as novas formas que estamos experimentando, como os vídeos “Marx voltou” que tiveram grande difusão chegando a centenas de milhares. Em fábricas como Donnelley uns 80 companheiros viram o vídeo e vários pediam o livro do Manifesto Comunista. E esse é o objetivo: gerar interesse para entrar no texto. O outro instrumento criativo destacado de propaganda é a revista Ideas de Izquierda, elaborada em comum com intelectuais de esquerda não partidários, dirigida a um setor específico mais intelectualizado, mas que para a universidade é muito importante. Por último, fazer assembleias, reuniões, conversar com parlamentares e outras referências partidárias. Lugares onde se pode convencer cara a cara, onde os trabalhadores e jovens colocam suas dúvidas e posições. Fizemos isso na campanha eleitoral e é uma boa ideia para fazer cada vez que haja uma campanha política. Colocou como exemplo que, em lugares onde não há conflito, podem-se fazer assembleias pela consulta popular para ir testando que animo há de mobilizar ou não.
Qualidade
Outro aspecto central colocado no informe foi o objetivo permanente de conquistar uma qualidade de partido de acordo com os nossos objetivos, quer dizer, com uma composição predominantemente operária, que demonstre na luta de classes seu caráter revolucionário e com uma formação teórico-política de acordo com o programa e a estratégia que defendemos. Os informes apresentados ã Comissão de Poderes do Congresso, dão conta de uma militância partidária que cresceu 40% em relação ao Congresso anterior, composta de 56% de trabalhadores (27% industrial e serviço, 24% professores, estatais e saúde e 5% juventude trabalhadora) y 38,5% de estudantes. 1000 companheiros e companheiras, em sua enorme maioria novos, fizeram os cursos do Manifesto Comunista nos últimos meses, com 40 cursistas, segundo informou a Secretaria de Propaganda. Ademais, no próprio congresso foi destacada a intervenção das e dos dirigentes operários nos debates sobre política nacional, internacional e sobre a construção partidária, mostrando um notável avanço a respeito de congressos anteriores na formação de uma ampla camada de novos e jovens dirigentes revolucionários de sua classe.
Por sua vez, analisou-se que a prática do PTS na luta de classes demonstrou, na medida dos desafios que nos tocou enfrentar, que estamos dispostos a romper os limites que nos impõe o regime quando as circunstancias da luta o requerem: assim foi na jornada do 27F e na paralisação do 10 de abril frente ã repressão da Gendarmería (polícia), com nossos parlamentares a frente, ou na luta de Gestamp sendo parte dos trabalhadores que subiram a grua, para colocar apenas os últimos exemplos mais conhecidos. Somos conscientes de que enfrentamos a pressão de construir um partido que seja um “aparato” a serviço de conquistar parlamentares ou cargos sindicais, e não que esses estejam a serviço de construir um partido a serviço da luta consequente contra a patronal, a burocracia e o estado capitalista.
Debates
Dezenas de delegados e delegadas tomaram a palavra, assinalando diversos problemas e possibilidade da atividade no movimento operário, na juventude trabalhadora e estudantil, no movimento de mulheres. Muitos apoiaram a iniciativa de um diário digital, assim como o desafio que significava para nosso partido. Delegadas assinalaram a necessidade de ser mais audaz na extensão “geográfico-estrutural” (quer dizer, priorizando em cada cidade ou município as “estruturas” de trabalhadores e estudantes), ou a importância da formação ideológica. Emilio Albamonte desenvolveu a ideia do diário como desafio porque implica respostas políticas cotidianas e como preparação para quando tivermos força militante para imprimir nosso próprio diário em papel, junto ás mudanças que propomos em La Verdad Obrera para que seja um periódico bem adequado para o movimento operário e as mudanças que implica tudo isso na direção do PTS. Por sua vez, assinalou as particularidades do “trabalho legal e ilegal” que nos impõe o regime nesta época, sobretudo pelas perseguições nas fábricas onde as patronais e a burocracia “castigam” despedindo os ativistas e militantes de esquerda, comparando com outras épocas mais revolucionárias (e contrarrevolucionárias).
Vários delegados expressaram sua preocupação para que o lançamento do diário digital não ocorra em detrimento do esforço de nos propor ganhar milhares de novos militantes operários e jovens. Em relação a isso, no encerramento insistimos na necessidade de ser conscientes que o convencimento de novas gerações de militantes segue sendo “contra a corrente”, e portanto os ritmos da atividade política dos militantes devem estar determinados pelos grandes acontecimentos da luta de classes, pelo trabalho com LVO e pelas necessidades de organização das agrupações e dos novos militantes, sendo o diário digital um instrumento para potencializar a influencia política e melhorar o nível de análises e respostas aos acontecimento nacionais e internacionais, que não necessariamente significa que toda a militância deve seguir seu ritmo diário.
O congresso finalizou com a eleição da nova direção do PTS, por voto secreto dos delegados plenos, como fazemos em cada Congresso de acordo com o nosso estatuto, com a incorporação de novos companheiros e companheiras, sobretudo trabalhadores.
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