A luta dos operários de Lear já é conhecida por milhões. A simpatia é forte e não é casual. Eles enfrentaram as demissões, e o povo trabalhador sabe que se as empresas tem via livre para demitir, quanto mais avance a crise, esse grande flagelo dos anos ’90 que foi o desemprego pode voltar com força renovada.
Enfrentam inimigos poderosos: a multinacional Lear, que fatura, 16 bilhões de dólares ao ano e está aliada ã Ford, ao SMATA e ao governo nacional e provincial. Tem a Justiça, a Polícia e a Gendarmería do lado da patronal e demonstraram isso em cada tentativa de desalojamento e na repressão da Panamerica. Contudo, os companheiros de Lear, apoiados pela esquerda, os organismos da Direitos Humanos e as internas da zona, seguem com sua resistência tenaz. A semana que passou foi intensa para a luta dos companheiros.
Paralisação total e tentativa de despejo
A multinacional ianqui está decidida em seu ataque, por isso não havia deixado entrar os delegados, depois que uma assembleia havia votado paralisar. Após o golpe, os companheiros decidiram que tinham que dar uma nova resposta. Na sexta-feira se concentraram na porta de Lear desde as 5 da manhã todos os demitidos, suspensos e delegados da Comissão Interna, enquanto militantes do PTS e PO, comissões internas da zona e outras organizações fazíamos piquetes nas imediações. Explicaram aos trabalhadores não demitidos que a patronal havia violado todos os direitos e não permitia a entrada dos delegados, e que tínhamos que buscar medidas para garantir o votado na assembléia. A concentração foi um êxito e se realizou uma paralisação total, já que não entrou praticamente nenhum trabalhador. As 7 da manhã se realizou um ato e comemorou o passo dado.
Para a patronal isso não podia ficar sem resposta, e nesse mesmo dia a Justiça e a Bonaerense de Scioli quiseram voltar a atacar. As 17h, quando começava o jogo de Brasil – Colombia, se juntaram na Delegacia do Talar centenas de policiais, cavalos, cães e veículos de assalto e saíram a toda velocidade para Lear.
Levaram uma ordem de despejo escrita pelo Juiz Costa e que o Fiscal Molina Pico havia ordenado que se levasse adiante com a mesmíssima Bonaerense. Chegou o Delegado e o chefe da operação, leu aos presentes a ordem dando 20 minutos para o despejo. Os companheiros correram para o acampamento. A polícia dizia que não lhes importava que a empresa tivesse descumprido a lei na sua cara ao não deixar entrar os delegados. A justiça é de classe, está feita e posta a serviço dos empresários, sejam nacionais ou estrangeiros. A polícia também. Mas os trabalhadores fizeram assembleia e votaram como responder, e em pouco tempo um grupo de companheiros que estava no lugar foi correndo para o portão da fábrica frente ao olhar impotente dos “uniformizados”. Em pouco tempo chegaram os meios e depois os deputados Christian Castillo e Nicolás del Caño. A coisa ficou mais feia para a polícia que via como se enchia de militantes e trabalhadores que vinham apoiar. Ao mesmo tempo mais de 400 companheiros na Capital cortavam Callao e Corrientes [1] em repúdio ã tentativa de repressão. O chefe da operação nesse marco se comprometeu a retirar a polícia. A Bonaerense responde a Scioli e o candidato não quer deixar suas aspirações presidenciais no esquecimento, por isso que decidiram “se cuidar” e retirar frente a possibilidade de um choque com os companheiros. Os trabalhadores viram como as centenas de policiais se retiravam produto da determinação mostrada. A comemoração chegou e se expressou num ato onde os companheiros de Lear reivindicaram a luta desse dia e agradeceram a todos os companheiros que foram apoiá-los. A militância do PTS teve uma grande reação e decisão para ajudar em conseguir a retirada do operativo. Foi um passo, e em lutas como estas, cada passo conseguido pelos trabalhadores tem que ser valorizado. A polícia veio com seu enorme operativo, mas o que provocaram foi uma resposta que fez mais conhecido o conflito e elevou a moral dos operários.
Jornada nacional de luta por Lear e contra os demitidos
A tentativa de desalojamento postergou a reunião de solidariedade para o sábado. Ali se discutiu organizar a Jornada Nacional de Luta por Lear que haviam discutido os companheiros em sua assembleia, e incluía uma concentração na porta na terça-feira, dia 8, para fazer uma nova paralisação e cortes em várias províncias. Um plano ambicioso.
Na quinta-feira a própria CGT Moyano exigiu num comunicado a reincorporação de todos os demitidos e que se permitisse a entrada dos delegados. Para além das intenções de cada um, este apoio deu novas forças à luta. Agora, tinha que dar outro salto, se nacionalizar, conseguir que milhões de pessoas a conheçam e conquistar o apoio popular. E conseguiram. Na terça-feira, dia 8, ás 5 da manhã se concentraram mais de 300 companheiros na porta. Fizeram-se presente Facundo Moyano com uma delegação do Sindicato de Caminhoneiros e do Pedágio, e os Deputados da FIT Christian Castillo do PTS e Nestor Pitrola do PO. A bonaerense trouxe outra vez cavalos, cachorros e posicionou a infantaria ao lado de toda a fábrica. Quando se armou o primeiro piquete a polícia quis desmontá-lo com escudos e gases, mas a decisão de levar adiante a medida a convenceu da conveniência de retroceder, e se bloqueou a marginal como os operários queriam. Quase ninguém entrou na planta apesar do operativo da polícia de Buenos Aires, que fracassou. Na Panamericana, ao mesmo tempo, estava cheia de Gendarmes que a vigiavam como uma joia com hidrantes e cachorros. Todos os meios de comunicação do país estavam presentes em Lear esperando o corte anunciado dentro da Jornada Nacional. A polícia informava aos meios de comunicação e estes repetiam que haviam frustado a tentativa de corte da Panamericana. Outra vez sorriram ingenuamente policiais e gerdames. Perto das 7 horas chega a notícia do corte na Ponte Pueyrredón, e em pouco tempo se nota que o trânsito começa a ficar mais lento na Panamericana. Logo conhecerão a razão: a 4km dali, mais de 400 companheiros haviam subido a Panamericana e a cortavam, como se havia votado. Havia trabalhadores de Donnelley, Kraft e outras empresas, militantes do PTS e alguns de outras correntes. Os caminhões de gendarmes começaram a sair para lá com a imaginável raiva. Assim chegaram ao KM 35, na Henry Ford e se encontraram com um forte corte de rua. Estava encabeçado por militantes do Pão e Rosas, companheiras do PTS e das Comissões de Mulheres, na primeira linha, orgulhosas e desafiantes. O Chefe da Operação, que havia fracassado em impedir a paralisação nacional do 10 de abril, não contava com nenhuma ordem judicial mas decidiu atuar da mesma forma. Se aproximou e avisou que iam avançar. De um lado um grupo de gendarmes com escudos e cacetetes, do outro uma nutrida concentração. Na frente Victoria Moyano e Charly Platowski, neta restituída e advogado do CePhoDH. A Gendarmeria avançou. Retrocederam pouco a pouco, aguentaram a repressão enquanto a Gendarmeria do Projeto X atirava jatos de água, balas de borracha e usava seus cacetetes. Tudo transmitido ao vivo para todo o país. Do lado dos trabalhadores ficaram vários feridos incluindo o companheiros Platkowski e 5 detidos, liberados depois de várias horas. Mas deste lado também ficou a moral de haver enfrentado a repressão. Por parte da Gendarmeria e o governo ficou o controle da Panamericana, mas sobretudo a frustração de não poder impedir o corte, e o rechaço generalizado da população ã repressão. Perseguiram um grupo de companheiros por muitas quadras pela marginal, onde a Gendarmeria não pode atuar, atirando balas de borracha. Muitos foram golpeados, mas a comemoração foi dos trabalhadores. Um pouco depois chegariam a Lear marchando todos os companheiros despejados, com suas bandeiras, ensopados de água mas orgulhosos. Fizeram um emocionante ato. Ali contaram que haviam cortado a Ponte Pueyrredón, que teve cortes em Córdoba em frente a Lear, em Rosario em frente a General Motors, em Tucumán, Mendoza, Jujuy, Bahia Blanca, Santa Cruz e outras cidades. Contra a repressão na Panamericana fizeram um corte na Callao e Corrientes que também foi reprimido. Organismos de Direitos Humanos não governamentais como o Serpaj de Perez Esquivel expressaram seu repúdio, mas este também chegou de importantes setores do kirchnerismo, como o próprio CELS de Horacio Verbitsky, que denunciou que a polícia usou armas regulamentária, e a condução de UTE (docentes), do Sindicato do metrô e da ATE Capital, abrindo uma crise neste coalizão que tinha como máxima “não reprimir os protestos sociais”. O fizeram em segunda-feira em EMFER e em quarta-feira em Lear. Mas abaixar uma bandeira não é tão sensato como baixar um quadro.
O impresentável de Berni saiu a atacar a esquerda e seus deputados. A Christian Castillo e Néstor Pitrola que haviam estado na jornada. Destilou raiva. A esquerda está apoiando a luta com todas suas forças e toma as bandeiras contra os demitidos e a repressão tão sentidas pelos próprios seguidores do K. Isso os colocam nervosos.
Os detidos, que atuaram muito bem frente ã repressão, recobraram sua liberdade na madrugada, aguardados por 60 companheiros do PTS. Saíram da delegacia com a moral alta e reivindicando a luta dada. Desta forma culminou a Jornada Nacional, um passo importante na luta dos trabalhadores de Lear.
A luta segue
Agora os companheiros discutem medidas para os próximos dias. Sabemos que é uma luta difícil porque do outro lado há uma Santa Aliança. Mas não há lutas impossíveis. Por isso os trabalhadores estão discutindo medidas de ação profundas, com novas mobilizações e jornadas de luta como a de quarta. Tem que buscar que as organizações operárias como a CGT Moyano tornem concreto o seu apoio à luta, impulsionar a mais ampla frente com os organismos de Direitos Humanos, políticos e sociais em repúdio ã repressão e ã cumplicidade do governo com o ataque da empresa, seguir impulsionando o fundo de greve e atividades de apoio no acampamento.
O PTS esteve na primeira fila, sendo a corrente que mais se joga para triunfar esta luta. Seguiremos como até agora, pondo todo nosso esforço para que seja uma grande batalha de classe, para que ganhem os operários de Lear.
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