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A crise do Ebola: Uma Herança do capitalismo e colonialismo.
12 Aug 2014 | No último mês tem sido freqüentes as informações acerca do pior surto de infecção pelo vírus Ebola já registrado e que assola a região Oeste do continente Africano. Localizado em nações extremamente pobres da região, como Serra Leoa, Libéria e Guiné com pontos também na Nigéria, o surto de infecção já matou mais de mil pessoas, infectou uma parcela ainda (...)
A crise do Ebola: Uma Herança do capitalismo e colonialismo.

Por André Bof

No último mês tem sido freqüentes as informações acerca do pior surto de infecção pelo vírus Ebola já registrado e que assola a região Oeste do continente Africano.

Localizado em nações extremamente pobres da região, como Serra Leoa, Libéria e Guiné com pontos também na Nigéria, o surto de infecção já matou mais de mil pessoas, infectou uma parcela ainda maior e levou a OMS (Organização mundial de Saúde) a declarar “estado de emergência de gravidade internacional” cujas repercussões levaram a restrições de vôos e viagens de pessoas para a região afetada.

Um vírus extremamente letal, considerado como possível “Arma biológica”, o Ebola leva a morte de até 90% dos infectados, não existindo um tratamento específico e não havendo vacinas que possam conter sua expansão. O Ebola surgiu em 1976 localizado entre humanos e, igualmente, presente em animais como gorilas e morcegos comedores de frutas, sendo um vírus resistente que persiste nos cadáveres mesmo após um período relativamente longo.

O surto ganhou ainda mais destaque após a infecção de médicos missionários e, inclusive, a morte de alguns, dentre eles um norte americano, o que evidenciou internacionalmente a gravidade da situação.

Uma verdadeira crise sem precedentes, o surto de Ebola, no entanto, tem raízes e explicações que vão para muito além de uma mera “fatalidade” que as grandes nações não esperavam. A gravidade das conseqüências, as dificuldades de conter o surto a velocidade da infecção tem suas razões na história de espoliação imposta a África de conjunto e aos países mais afetados em particular.

Serra Leoa e Libéria são hoje os que mais sofrem com o surto. Como quase todas as nações africanas, durante séculos foram Colônias de grandes potências como Inglaterra e Portugal, sendo fontes de recursos naturais e de tráfico de escravos. Em ambas se encontram grandes jazidas de diamantes, exploradas de maneira selvagem por mineradoras européias e norte-americanas, que impõe suas próprias leis e “segurança” nas minas. Em Serra Leoa, inclusive, se dá uma das maiores produções de titânio e bauxita, além de ouro.

Tal riqueza natural, no entanto, contrasta com a pobreza extrema de sua população.

Cálculos apontam que cerca de 70% da população de Serra Leoa vive na “extrema pobreza”, sendo este país o sétimo mais pobre do mundo e o 3° pior IDH (índice de desenvolvimento Humano). Na Libéria, não tendo índices tão distintos, além do atual surto “conjuntural” do Ebola, outra “epidemia” típica do capitalismo assola “estruturalmente” sua população: a fome, já que o país é incapaz de produzir e suprir a alimentação para sua população. Esta realidade cruel, resultado direto de séculos de exploração colonial e, posteriormente, capitalista, impõe condições de vida que facilitam o desenvolvimento de epidemias como o Ebola e questionam o discurso hipócrita oficial utilizado pela ONU para explicá-lo.

A exploração capitalista é a razão da “crise humanitária”

Com o objetivo de apontar as causas do rápido espalhamento, a ONU e OMS apontam, como a fonte de muitas contaminações, hábitos culturais como o embalsamamento de mortos e lavagem coletiva de cadáveres, calando completamente sobre o histórico de exploração destas nações e o colapso dos serviços mais básicos.

Se olharmos mais de perto, no entanto, veremos que as razões são muito mais profundas.

Postos de lado os hábitos culturais que envolvem estas práticas alimentares, existem diversos relatos de que frente a fome, é comum a caça de animais selvagens para comer, muitos dos quais são hospedeiros do ebola, como morcegos e primatas, consumidos e comercializados sem as mínimas condições de higiene nos pequenos centros e vilas.

Com a completa falta de moradias, escassez de cidades e precariedade completa dos serviços públicos como saneamento básico, serviços de saúde e de distribuição de medicamentos, hospitais, etc, grande parte da população destes países se encontra absolutamente indefesa frente a uma epidemia tão agressiva.

Como se trata de uma doença que precisa ser “gerida”, já que não há vacina ou tratamento específico, é enorme a demanda de antibióticos, curativos, seringas, aventais, antiinflamatórios, todos em enorme falta nos países afetados. A falta de materiais é comum nestes países e a expansão do Ebola pode estar intimamente ligada a reutilização de seringas, não utilização de luvas, o que leva aos profissionais a terem contato com secreções e sangue e a contaminação em massa de pacientes, etc.

Se faltam materiais para o tratamento de um lado, por outro com o fechamento de diversas clínicas e hospitais e a fuga de médicos e enfermeiros, despencou o já baixo número de profissionais da saúde, resultado da quase inexistência de instituições de ensino e elitização das poucas que existem.

Além desta situação de colapso dos serviços dos países afetados, somam-se uma sequência de golpes de estado e guerras civis que, durante quase duas décadas, assolaram o território tanto de Libéria quanto de Serra Leoa, aprofundando a crise social e levando a morte de milhares.

Tal situação é responsabilidade direta das grandes potências capitalistas que não apenas impõe uma submissão completa a tais nações, transformado-as antes em fontes de escravos e hoje de fontes de matérias primas, como, sempre trataram de salvaguardar seus interesses incentivando, armando e financiando as disputas fratricidas e guerras civis.

É o caso de grandes conglomerados como London Mining, protegido pela Inglaterra ou Arcelormittal, maior produtor de Aço do mundo com sede em Luxemburgo, duas das maiores exploradoras de minérios na Libéria e Serra Leoa que, mesmo em meio a frenéticas sucessões de governos e regimes, mantiveram ótimas relações com os “grupos no poder” e salvaguardaram a transferência de seus lucros para seus países de origem.

Sem dúvida, é uma lástima enorme o aparecimento freqüente de doenças como o Ebola que levam a morte milhares de pessoas, sobretudo trabalhadores e camponeses e a gravidade da situação está diretamente ligada ao sistema capitalista.

Num sistema em que a “busca pelo lucro” e a propriedade privada são o principal motor da produção, pesquisas, novas tecnologias, etc, há um beco sem saída para se obter recursos (que escorrem para as contas das grandes mineradoras multinacionais) e para o tratamento e a cura de doenças como estas. A indústria farmacêutica, que lucra bilhões com as doenças, demonstra uma hostilidade selvagem contra qualquer forma de cura definitiva e é o exemplo mais claro deste “beco sem saída” a que o capitalismo leva.

Num sistema no qual as necessidades da humanidade fossem o motor do desenvolvimento da história, por outro lado, estaríamos livres dos “freios” que o lucro e a propriedade privada impõem ao progresso da ciência, técnica e descobertas. Neste sistema, se daria a expropriação dos monopólios farmacêuticos que, colocados sob controle dos trabalhadores e organizações populares, poderiam centrar esforços e recursos nunca antes vistos para encontrar curas e tratamentos, muito mais rapidamente do que hoje.

Igualmente, num sistema como este, se daria a expropriação das grandes mineradoras o que colocaria os minerais sob controle da maioria do povo trabalhador, fornecendo recursos.

Assim, pela via de pesquisas revolucionárias financiadas seriamente, recursos voltados a tratamentos pioneiros, a formação de milhares de médicos com a universalização da educação, o investimento massivo na saúde e a produção e distribuição gratuita de todo medicamento a quem fosse necessário, poderíamos ter condições muito superiores de enfrentar e eliminar da história epidemias do tipo Ebola.

Esta inversão de “prioridades”, no entanto, demandaria uma alteração na dinâmica das relações entre os Estados que hoje resguarda aos países da África a condição de miséria e espoliação e só viria por uma Revolução socialista nestas nações e, igualmente, no espalhamento desta para as potências imperialistas como Inglaterra, França, EUA, etc.

Como solução de curto prazo, no entanto, é necessário, contra a hipocrisia destas grandes potências, exigir medidas emergenciais sérias:

Que os países da União européia e os EUA financiem massivamente em seus países pesquisas para garantir a cura do Ebola e enviem imediatamente dezenas de milhares de instrumentos médicos, seringas, antibióticos, aventais, alimentos e água para os países afetados!

Por outro lado, é necessário exigir que o lucro das grandes mineradoras seja confiscado e utilizado para garantir recursos para a construção de clínicas e hospitais emergenciais, organização da ida de voluntários e médicos as regiões afetadas e para as necessidades básicas da população atingida!

Sabemos que sob controle das corruptas instituições capitalistas os desvios de materiais são freqüentes, como já ocorreu em casos como Haiti e Palestina, logo, precisamos exigir que toda a ajuda humanitária e recursos estejam sob controle e sejam fiscalizados por organizações sindicais e populares destes países!

Igualmente, é central exigirmos que as grandes fortunas destes países, pertencentes a políticos e acionistas das mineradoras, paguem mais impostos e financiem, progressivamente, as necessidades de saúde, alimentação, moradia, etc.

 

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