Por Celeste Murillo, PTS
Del Blog: Do the evolution, do the revolution
Publicado originalmente no dia 14/8
Após 4 dias de protestos, dezenas de prisões e duas pessoas feridas pela polícia (uma em estado crítico), o descontetamento continua nas ruas de Ferguson, uma pequena cidade no estado de Missouri, nos Estados Unidos. “Se não há paz, não há justiça”. “Mãos ao alto, não atire”, “Onde está Mike? Em todos os lugares” são algumas das consignas das mobilizações e protestos pelo assassinato de Mike Brown.
No sábado, dia 9, na cidade de Ferguson, um policial assassinou o adolescente afroamericano Mike Brown, de 18 anos. A princípio a polícia declarou que Brown havia atacado o policial, porém todas as testemunhas garantem que o rapaz estava desarmado e que foi vítima de disparos quando estava com as mãos levantadas (sinal universal para demonstrar que se está desarmado). Mike era recém formado no colegial e se preparava para começar a faculdade na segunda-feira, dia 12.
Desde o domingo, dia 10, há protestos na cidade. A polícia reprimiu a passeata dos familiares e amigos e prendeu várias pessoas. Isso somente causou mais revolta, e na segunda-feira os protestos recomeçaram e a polícia reprimiu com ainda mais vigor. O FBI anunciou que investigará o assassinato e o prefeito foi obrigado a solicitar uma investigação independente.
Há um ano a justiça absolveu o assassino do também afroamericano Trayvon Martin, um vigia de bairro branco do estado da Florida. Em 2013, milhares de pessoas se mobilizaram contra essa decisão escandalosa. O impacto foi tão grande que o próprio Obama se referiu ao caso: “se eu tivesse um filho, ele se pareceria com Trayvon”. A cidade de Ferguson tem uma longa tragetória racista: em 2013, de um total de 521 prisões, 483 foram de pessoas afroamericanas (92%), enquanto a comunidade negra representa 63% da população local. Apesar dos afroamericanos serem maioria na cidade, tanto o prefeito quanto o chefe de polícia são brancos, assim como 5 dos 6 representantes do conselho local. Na segunda-feira ã noite a polícia reprimiu as manifestações, estabeleceu um toque de recolher virtual e exigiu que os jornalistas saíssem da cidade.
O assassinato de Brown volta a realçar a realidade de uma sociedade profundamente racista. Um exemplo foi a forma como os meios de comunicação trataram o caso: escolheram uma fotografia estigmatizadora na qual Brown faz um gesto associado a imagens negativas (também produzidas e reproduzidas por esses próprios meios) e nenhuma foto de sua recente formatura no ensino médio. Isso desencadeou uma onda de repúdio, especialmente entre a juventude negra, que criou o hasthtag #IfTheyHadGunnedMeDown (se eles me matassem a tiros, em português) e se perguntam, que foto utilizariam? Apesar dos avanços que a conquista dos direitos civis na década de 60 significou, a comunidade afroamericana é a mais pobre, a maioria nas prisões e seus jovens são sem dúvida a esmagadora maioria das vítimas da violência policial. Em um momento em que a ferida de Trayvon Martin ainda está aberta, e a ilusão de uma sociedade “pós-racial” na era Obama se dissipou, mais um jovem é assassinado para lembrar o mundo que os Estados Unidos são uma sociedade profundamente racista.
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