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A crise financeira da Petrobrás
por : Leandro Lanfredi

25 Aug 2014 | Na grande mídia brasileira vemos uma enxurrada de artigos sobre uma crise geral da Petrobrás. Esta mídia, ligada a setores que defendem a privatização da empresa, exagera nos termos. Quer fazer parecer como se estivesse tudo parado. Há sim uma crise interminável de escândalos (ver "A crise da Petrobrás e as eleições: um alimenta o outro") e sua ligação (...)
A crise financeira da Petrobrás

Na grande mídia brasileira vemos uma enxurrada de artigos sobre uma crise geral da Petrobrás. Esta mídia, ligada a setores que defendem a privatização da empresa, exagera nos termos. Quer fazer parecer como se estivesse tudo parado. Há sim uma crise interminável de escândalos (ver "A crise da Petrobrás e as eleições: um alimenta o outro") e sua ligação com as eleições. E há também uma outra crise, financeira, da empresa ligada a seus planos de investimentos e como estes se relacionam com a política e com a produção. Esta crise financeira, criada pelo PT e seus planos na empresa significa um aumento na exploração dos trabalhadores e uma verdadeira onda de acidentes que tem recorrido as refinarias.

Um superinvestimento impagável

Desde Lula a Petrobrás adotou um agressivo plano de investimentos. Foram anunciadas a criação de quatro imensas refinarias. Duas delas estão prestes a começar a produzir: o COMPERJ, em Itaboraí, no Rio de Janeiro, e a Refinaria do Nordeste, em Suape, Pernambuco. Ambas consumiram muitos bilhões de dólares a mais do que o previsto. Fora isto, existem os planos, e já há gastos, para execução das refinarias Premium I e Premium II, e ainda o agressivo plano de investimentos no pré-sal.

Graça Foster, ao assumir a presidência da empresa, diminuiu bastante estes investimentos. Porém eles, mesmo menores, ainda são cifras gigantescas que colocam imensa pressão na empresa. Segundo o plano de negócios 2014-2018 da empresa, serão investidos entre 2014 e 2018, 220 bilhões de dólares [1] Uma cifra imensa que se concentra em 70% na área de exploração e produção de petróleo, sobretudo no pré-sal, para rapidamente colocar para produzir esta imensa área, que exige gastos descomunais por se tratar de poços a milhares de metros de profundidade e com grandes gastos logísticos para deslocar os trabalhadores e este petróleo e gás desde o alto-mar até o continente.

Esta cifra é ainda maior se levarmos em consideração o faturamento da empresa e sua produção. O faturamento da Petrobrás, segundo a revista Exame (que edita no Brasil a lista Forbes das 500 maiores) foi de 104 bilhões de dólares em 2013. Ou seja, a Petrobrás vai investir em quatro anos o equivalente a todas suas vendas em dois anos. Esta cifra em si impõe um grande endividamento da empresa, não há caixa para tanto investimento. E para piorar, há duas contas que também não fecham com este boom de investimentos. A curva de produção, ascendente, não está crescendo em um ritmo que permita visualizar um desendividamento gradual. A produção de petróleo e gás liquefeito no país passará neste mesmo período de 1,93 milhões de barris por dia a 3,2 milhões de barris. Um aumento importante, que resultará em aumento de caixa a partir da exportação de excedente de petróleo, mas não da ordem necessária para este investimento de duas Petrobrás em 4 anos.

A segunda conta que não fecha é a crise de importação de derivados. A produção nacional de derivados passará, de acordo com o mesmo plano de negócio, de cerca de dois milhões de barris a cerca de 2,75milhões de barris ao dia. Supondo que este aumento de fato aconteça, o que nem sempre é fato, ele ainda mal supera as expectativas do consumo nacional de derivados. Segundo a Reuters o Brasil só será autossuficiente em derivados em 2020 [2].

Para suprir esta demanda crescente de derivados a Petrobrás está importando grandes quantidades. Ou seja, a autossuficiência na produção de petróleo, declarada por Lula em 2006, só se converterá em autossuficiência nos derivados 14 anos depois. Nestes 14 anos o país deve exportar petróleo (menor valor) e importar derivados (maior valor), exigindo uma saída de recursos do país, o que pressiona ainda mais o caixa da empresa, já pressionado pelos imensos investimentos.

Aumento no ritmo de trabalho e nos riscos para fazer caixa

Desde que Graça Foster assumiu e revisou, para baixo, os planos de investimento, ela também adotou medidas de “controle de gastos” que tem tido um impacto negativo nas condições de trabalho e segurança na empresa.

Uma das medidas mais sintomáticas deste “controle” foi o Plano de Incentivo a Demissão Voluntária que teve adesão de 8 mil trabalhadores. Destes 8 mil, cerca de 5 mil já saíram ou sairão da empresa até dezembro deste ano. Para agravar a situação, somente 60% destes funcionários serão repostos. Uma das áreas com menor reposição será a manutenção. Ou seja, com uma manutenção precarizada e com menos funcionários em diversas áreas todos os trabalhadores que permanecerem precisam trabalhar mais e sob riscos crescentes. Não é coincidência o aumento nos acidentes em refinarias e estes planos de Graça. Até mesmo a oficialista Federação Única dos Petroleiros (FUP) associa este plano aos acidentes [3].

 

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