Entre a noite de sexta-feira, 26 de setembro, e a madrugada de sábado, 27, estudantes da escola normalista rural “Raúl Isidro Burgos”, no Ayotzinapa, no México, que saiam da cidade de Iguala foram perseguidos e baleados por policiais municipais e membros das organizações criminosas "Lo Rojos" e "Guerreiros Unidos", desprendimentos do cartel dos irmãos Beltrán Leyva. Em um terceiro ataque os grupos armados atiraram em um ônibus que transportava a equipe de futebol "Los Avispones", de Chilpancingo.
O saldo até agora é de 7 mortos, entre eles 4 estudantes normalistas, um jogador de futebol de 14 anos, o motorista do ônibus e uma passageira de um táxi. Além disso há dezenas de feridos e 43 alunos desaparecidos.
No sábado, 04 de outubro, levados por um suposto envolvido nos assassinatos, foram encontradas três valas clandestinas nos arredores de Iguala, mas ainda não foi possível confirmar se os corpos encontrados correspondem aos dos estudantes normalistas desaparecidos.
Junto ao caso de Tlatlaya, denunciamos este novo massacre ocorrido no governo de Enrique Peña Nieto, que mostra a decomposição de um estado associado ao narcotráfico, onde na guerra contra o crime organizado, iniciado por Calderón e continuado pelo PRI, os pistoleiros operam como braço armado e paramilitar para reprimir as lutas sociais e matar estudantes, enquanto se criminaliza e prendem dirigentes e integrantes da Coordenadoria Regional de Autoridades Comunitárias - Policia Comunitária (CRACPC), como Nestora Salgado por organizar e exercer o direito ã autodefesa frente a esta situação, como muitos outros ativistas sociais.
Embora estes sejam os executores, esse massacre é uma expressão e resultado da constante repressão e perseguição aos professores e alunos por parte do governo federal e dos governos estaduais e municipais.
O governo de EPN manteve e aprofundou ataques contras as escolas normalistas, buscando acabar com as escolas normalistas rurais e disciplinar com a repressão seus estudantes, que estão há décadas lutando contra o abandono sistemático de suas escolas, e que junto aos professores se tornaram parte da luta contra a nefasta Reforma Educacional do governo. São filhos e filhas dos camponeses e trabalhadores cuja única oportunidade de cursar o ensino superior são as escolas normalistas rurais, onde se formam para o árduo trabalho de ensinar nas regiões e comunidades mais distantes e marginalizadas do país.
Agora, os partidos dessa democracia dos ricos, tentam impor o terror sobre os estudantes normalistas, com o apoio e o poder de fogo dos narcotraficantes, que mais uma vez em Guerrero mostram servir aos interesses dos setores mais reacionários do estado.
Os assassinatos em Iguala somam-se a mais duas mortes de normalistas, também de Ayotzinapa, mortos durante a repressão policial a um bloqueio na Rodovia do Sol, em dezembro de 2011, ocorridos no atual governo perredista de Ángel Aguirre Rivero, que permanecem impunes.
Agora o governo, cinicamente defendido pelo PRD, quer apurar as responsabilidades e montou uma operação de buscas e esta oferecendo uma recompensa para encontrar os desaparecidos, com a intenção de salvar sua cabeça e desviar a atenção do papel repressor e pró-patronal deste partido ligado ao governo priísta de Peña Nieto (que tem respondido enviando a polícia), enquanto o prefeito de Iguala e também de Sol Azteca e o secretário de segurança local estão foragidos.
No entanto, mães e pais, juntos a estudantes normalistas, universitários, professores da CNTE e moradores (somados ã UPOEG), vem realizando buscas e diversas manifestações de repúdio a violência em Iguala, Chilpancingo, Acapulco e outras regiões de Guerrero, exigindo a aparição com vida dos estudantes e justiça e punição aos responsáveis.
A indignação esta alcançando escala nacional (e pode atuar como catalizador do descontentamento com a miséria e a falta de democracia), como se expressou nas mobilizações de 2 de outubro, na denúncia dos estudantes do Politécnico frente a Osorio Chong (Secretario de governo) e em chamado a solidariedade aos estudantes normalistas de Ayotzinapa, feito por Nestora Salgado, presa politica das policias comunitárias de Guerrero, cujo os integrantes em Tixtla estão guardando as instalações da escola normalista “Raúl Isidro Burgos”, além do anuncio do EZLN de uma marcha silenciosa em San Cristóbal, somando se a convocatória nacional do dia 8 de outubro.
A nível internacional, foram realizados manifestações em solidariedade em consulados e embaixadas, e o escândalo tem atraído a atenção de organizações como a CIDH e a ONU, preocupando o governo dos Estados Unidos.
Através do MTS expressamos nossa solidariedade aos familiares e companheiros dos estudantes normalistas assassinados e desaparecidos, nos somamos ao repúdio geral e exigimos justiça e punição a todos os responsáveis, inclusive políticos! Abaixo ao governo de Ángel Aguirre Rivero! Aparição imediata e com vida de todos os desaparecidos!
No entanto, consideramos que as instituições do regime como o governo federal, o governo estadual, a PGR, etc, são incapazes de levar até o final a investigação e punir os responsáveis, pois são parte do mesmo aparato estatal que, em aliança com o narcotráfico, criminaliza, persegue e assassina os lutadores, por isso é necessário uma Comissão de Investigação Independente, encabeçada pelos familiares e integrada por representantes dos organismos independentes de direitos humanos nacionais e internacionais, a FECSM, a CNTE e personalidades democráticas que exija plenos poderes para levar até o final as investigações sobre o massacre, que permita determinar os responsáveis materiais e políticos e exija suas punições.
Chamamos as organizações normalistas, o movimento estudantil e as organizações dos trabalhadores, camponeses, populares, de esquerda e de direitos humanos, a colocar de pé uma Coordenadoria Nacional Contra a Repressão, que junto a de Ayotzinapa, levante entre as suas principais demandas: Liberdade a Nestora Salagado e todos os presos de la CRAC-PC! Fora o exército de Guerrero! Desmilitarização imediata de todo o país!
Convocamos especialmente os sindicatos e centrais sindicais, como a NCT (Nova Central dos Trabalhadores) e as demais que se declaram da oposição a apoiar os normalistas e a não repetir a vergonhosa experiencia de 1994, quando as centrais de Salamanca, como a CTM deram as costas a EZLN, perdendo uma oportunidade histórica de enfrentar a este regime autoritário e antidemocrático.
Da mesma forma chamamos aos estudantes do Instituto Politécnico Nacional que decidiram continuar lutando a fazer parte ativa da solidariedade com Ayotzinapa.
É necessário impulsionar um Encontro Nacional Estudantil para discutir um plano de ação e uma politica nacional contra os ataques aos estudantes e contra a Reforma Educacional, onde podem somar-se as organizações de trabalhadores, de camponeses e populares, solidarias com o movimento estudantil.
De imediato chamamos ao movimento estudantil, aos estudantes normalistas do DF e todos os estados, as organizações sindicais, como a CNTE, a NCT e a UNT a se somarem as mobilizações nacionais deste 8 de outubro e impulsionar uma paralisação em solidariedade aos estudantes normalistas de Ayotzinapa e suas famílias.
Movimento dos Trabalhadores Socialistas
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