O fuzilamento de 22 supostos delinquentes em Tlataya, Estado do México, pelas mãos do exército em junho passado e o massacre de estudantes "normalistas" em Iguala, Guerrero, abriram uma crise institucional no México. Isto em um contexto de crescimento da impunidade com a qual atuam os grupos de narcotraficantes e sicários que enchem as ruas de mortos, onde a ingovernabilidade é evidente.
A crise institucional se deve ã violência estatal, a cumplicidade de funcionários com o crime organizado, a amizade cumplice do Presidente Peña Nieto (PRI) com o repressivo governador perredista de Guerrero (o ex priista Angel Aguierre Rivero), e o inexplicável apoio deste ao prefeito de Iguala apontado como assassino de opositores a seu governo e como responsável do massacre e desaparecimento dos normalistas de Ayotzinapan.
Há muita indignação pela facilidade com que o apontado como narco-prefeito de Iguala pôde fugir, sem que o governador tomasse medidas preventivas, ou que o governo federal interviesse imediatamente (10 dias depois tomou o controle da segurança estatal).
O governo de Obama está apressando Peña Nieto a resolver já esta crise que danifica a imagem de regresso ao poder do PRI, enquanto o Senado exige que se investigue a fundo - uma necessária hipocrisia imperialista para não ficarem tão "colados" em seu sócio menor.
No velho continente, onde os principais diários apontam ã justiça mexicana como selvagem, o Parlamento Europeu ameaça congelar "qualquer modernização dos acordos bilaterais" com o México. É que ã transição democrática aconselhada pelas grandes potências não convém este desprestígio das instituições.
O desaparecimento dos 43 normalistas, e a possibilidade de que os corpos encontrados em covas clandestinas sejam destes, incrementa o descontentamento a nível nacional e a mobilização popular - até setores empresariais marcharam contra a insegurança e o poder narcotraficante.
Na marcha do 8 de outubro em repúdio ao massacre dos normalistas se mobilizaram mais de 60.000 pessoas, houve ações em Guerrero e na maioria dos estados do país. Se ouvia fortemente: Governo assassino! que o presidente renuncie! punição ao governador Aguirre! não estão sós! Até Cuauhtémoc Cárdenas, o líder moral do PRD, foi apontado na marcha como cúmplice, por pertencer a este desprestigiado partido.
As mensagens em cadeia nacional do presidente não bastam para recompor sua imagem, como tão pouco a ordem de Los Pinos a suas principais embaixadas no mundo de difundir sua "condenação categórica" a estes assassinatos "indignantes". O descrédito internacional é tremendo a só dois anos do governo priista.
Isto levou a Luis Vedegay, o poderoso secretário da Fazenda, a declarar que provavelmente esta situação afete os investimentos estrangeiros no México, em um contexto de muito débil crescimento econômico.
É uma crise que toca também ao PRD, o partido que desde a centro esquerda serviu como apoio do regime de alternância que surgiu ante a crise terminal do priato.
E não somente mostra a este partido ligado aos cartéis da droga, que impõem ou cooptam candidatos a postos de governo, senão que debilita a este importante aliado do PRI que veio desviando o descontentamento popular contra o governo. Hoje se aprofunda a crítica a seu suposto caráter opositor.
Assim, as milionárias somas investidas para promover a imagem do governo a nível internacional não evitam o repúdio nacional e internacional ante a situação que atravessa o país e a sorte que sofrem os lutadores opositores. No sábado 11, durante um programa de rádio, dois sicários assassinaram na cabine o líder do movimento de desalojados da represa Picacho, no estado de Sinaloa.
O massacre de estudantes aprofundou a polarização e ativou a mobilização onde as demandas de estudantes, professores e comunidades camponesas mostram sua potencialidade ao exigir a renúncia do governador e desaparição de poderes na entidade.
Ao mesmo tempo começa a surgir um movimento democrático que já está convocando a outra marcha para a próxima semana exigindo a apresentação com vida dos estudantes normalistas de Ayotzinapa.
Surgiu um dilema para o PRI, que o ano que vem enfrentará eleições para governadores e câmaras estatais. Nestas eleições se renovará a totalidade das 500 vagas da Câmara de Deputados, 9 governadorias, 641 deputações em 17 entidades, 993 prefeituras em 16 estados e as 16 delegacias no Distrito Federal.
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