Represálias anunciadas pela polícia e milicianos aterrorizaram moradores dos bairros da região metropolitana de Belém do Pará. A ação conjunta da polícia e de grupos armados teve início nesta madrugada. A ação foi orquestrada em resposta ã morte de um policial membro da R.O.T.A.M. (Ronda Ostensiva Tática Metropolitana), uma tropa especializada em reprimir rebeliões em presídios, controlar multidões e conflitos com o tráfico.
Na madrugada do desta quarta-feira (05), uma mensagem de voz circulava pelo aplicativo whatsApp, alertando ã população que não passasse pelos bairros do Guamá, Canudos e Terra Firme, sendo Guamá o local aonde residia e aonde teria sido morto o Cabo Antônio Figueiredo na noite anterior: “Senhores, sério, por favor, façam o que for preciso, mas não vão para o Guamá nem para Canudos nem para o Terra Firme hoje ã noite. É uma questão de segurança dos senhores, tá? Mataram um policial nosso, e vai ter uma limpeza na área. Ninguém segura ninguém, nem o coronel das galáxias”. Além disso, perfis policiais no Facebook convocavam a chacina.
Este tipo de represália, que ocorre regularmente nas regiões pobres e segregadas das capitais brasileiras, ganhou destaque pelo uso das redes sociais, tanto por parte dos policiais para a convocação da chacina quanto por parte da população que denunciou o terror e as execuções. Durante a madrugada, moradores denunciaram a chacina nas redes sociais, com vídeos mostrando bandos armados de motoqueiros rondando os bairros. Depoimentos da situação nos bairros lotam a rede sob a hashtag #chacinaembelém, um dos destaques junto com #guaná e #belem, transformando o caso num dos mais comentados nacionalmente.
A Polícia Militar anunciou pela manhã que eram em 7 o número de mortos. Antes do meio-dia, o secretário de segurança pública anunciou que a contagem subiu para nove em seis bairros da cidade. Nas redes, durante a madrugada e toda a manhã, moradores desmentem as informações oficiais, anunciando números que variavam em dezenas. Segundo os peritos, pelo menos seis destas mortes têm característica de execução.
A marcha fúnebre contra o povo negro prossegue
Os bairros afetados pela onda de homicídio na região metropolitana são pobres e seus moradores são na maioria negros.
Em momentos como esse, de guerra declarada entre crime e policia, a principal vítima é a juventude negra periférica que acaba estando muito mais exposta ã violência social. Essa é uma dura realidade que mata cotidianamente milhares de negros moradores de favelas e periferias. De tempos em tempos se aprofunda essa política, como nos processos de pacificação dos morros do Rio de Janeiro com as UPPs ou com a guerra entre PCC e polícia que marcou maio de 2006 em São Paulo e outras inumes chacinas.
O fato de esse crime ocorrer logo após o encerramento do 3° Encontro da ONU, que discutiu sobre Prevenção ao Crime e Justiça em Belém (dias 3 e 4 de novembro), deve servir como uma ilustração de que o Estado burguês e todas as instituições criadas e geridas pela classe dominante e seus representantes são incapazes de resolver os problemas dos oprimidos pelo simples fato de possuírem interesses de classe contrários. A única forma de garantir a segurança dos oprimidos e explorados é através da auto-organização independente contra os que oprimem e exploram.
Basta de impunidade
O governador do estado do Pará, Simão Jatene do PSDB, até então não se pronunciou. Eleito para o segundo mandato, um dos motes de sua campanha era o investimento nas forças polícias para combater o narcotráfico. A guerra ás drogas, ou o combate a grupos do narcotráfico, são parte da demagogia dos diversos partidos da ordem (PSDB, PT, PMDB) como justificativa para o investimento e a expansão aparato policial, das ocupações militares nas favelas e periferias. Assim como é utilizada para justificar, por parte do próprio aparato policial, brutalidades e chacinas como esta.
Exigimos a mais imediata punição dos responsáveis e a responsabilização do governador e do secretário de segurança pública pelo ocorrido. Para isso é preciso organizar uma luta pela apuração, investigação e punição imediata dos assassinatos cometidos pela policia através de uma comissão de investigação independente formada por trabalhadores, sindicatos, moradores, organizações de Direitos Humanos e centros acadêmicos. Os julgamentos dos assassinatos devem ser feitos por júris populares com juízes eleitos pelo povo.
É preciso levantar um programa que seja capaz de organizar os oprimidos ao lado dos trabalhadores para combater a violência Estatal e o genocídio. Essa luta deve auxiliar o questionamento do Estado capitalista e seu aparato repressivo, dissolvendo todas as forças especiais de repressão, que são herdeiras diretas da ditadura militar, como é o caso da ROTAM.
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