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O México que Peña Nieto e o imperialismo não esperavam
por : Mario Caballero

11 Nov 2014 | A terceira jornada nacional de 5/11 mostrou que o profundo descontentamento que vem se expressando no último mês deu um salto importante estimulado pela notória desconfiança nas instituições e o questionamento direto ao governo de Peña Nieto [presidente].
O México que Peña Nieto e o imperialismo não esperavam

A terceira jornada nacional de 5/11 mostrou que o profundo descontentamento que vem se expressando no último mês deu um salto importante estimulado pela notória desconfiança nas instituições e o questionamento direto ao governo de Peña Nieto [presidente].

Em poucos meses o estado de ânimo das massas sofreu uma grande mudança. Isso em meio a novas paralisações na Unam e outras universidades, ocupação de edifícios públicos, marchas, bloqueios de estradas, ocupação de pedágios etc., fatos que já são senso comum como forma de protesto em todo o país.

A conferência de imprensa da Procuradoria Geral da República (PGR) a respeito da suposta morte dos “43” – marcada por cinismo e intenções vergonhosas – ao contrário de atenuar a mobilização provocou mais indignação e mostrou que a política do governo – que aposta no desgaste e na divisão entre os pais dos estudantes, os professores e outras frauorganizações do Movimento Popular guerrerense – provoca mais polarização social.

Nunca o Partido Republicano Institucional (PRI) esteve tão na defensiva como nessa conjuntura: Peña Nieto é hoje o presidente mais contestado do planeta. Isso não se viu nem no massacre de 1968 nem na fraude contra Cardenas em 1988, nem em 1994 com o levante do EZLN, momentos chave de crises políticas.

Há um avanço na politização da sociedade que não era previsto pelos artífices do Pacto pelo México (PRI-PAN-PRD). No amplo movimento democrático que surgiu participa majoritariamente a juventude, mas também se integraram organizações de trabalhadores – educação, eletricistas, telefonistas, universitários –, sociais e rurais.

Por isso o governo não pode mitigar o descontentamento. Exatamente o contrário, pois o questionamento se multiplica com ações e expressões radicais que mostram a crise deste regime autoritário e de fome.

A cada dia se descobrem mais cumplicidades dos grupos políticos e do poder, que tem seu epicentro no PRD, mas atinge também Peña Nieto. Hoje já não é apenas Guerrero – evidente foco da ingovernabilidade – o foco da rebeldia, mas um país onde muitos rechaçam as formas de governar e o ataque ás conquistas mais elementares.

Cresce o descontentamento

Com a indignação pela barbárie contra os jovens normalistas aparece o descontentamento com as promessas de democracia, a corrupção governamental e dos partidos no Congresso, o desemprego, os baixos salários, as fraudes eleitorais, a subordinação da justiça ao poder presidencial, o repúdio ã entrega da Pemex etc.

A indignação se eleva contra a democracia selvagem que demonstra seu verdadeiro caráter ao desaparecer, encarcerar e assassinar os dissidentes políticos. Um péssimo balanço para os que alimentavam confiança no “avanço democrático” na última década.

As cumplicidades e relações com o narcotráfico do prefeito José Luis Abarca – já conhecidas antes pela justiça e serviços de inteligência federais – desnudam a descomposição do poder estatal e permite a muitos questionar o tipo de sociedade em que vive e a ilusão na “transição democrática”.

Expressões como “estado pistoleiro”, “narco-estado”, “crime de estado” e Fora Peña Nieto, que se alastram nas mobilizações, demonstram o enorme desgaste das instituições recicladas em 2000 e os partidos, incluindo o PRD, repudiado como assassino em Guerrero. Ou seja, avança a desilusão dos governados sobre seu futuro e suas expectativas nos partidos burgueses “democráticos”.

Uma situação quente difícil de encerrar

Nas ações espontâneas radicais, no processo de mobilização constante – com o movimento estudantil do Instituto Politécnico Nacional como uma pedra no sapato do governo – e nas consignas que questionam aspectos do Estado aparece o avanço na consciência de setores de massas em luta.

A apenas oito meses das eleições nacionais de 2015, o regime político enfrenta preocupante e enorme desgaste e essa democracia bárbara já não é aceita passivamente. Daí vem as pressões da Casa Branca para que Peña Nieto recomponha sua imagem.

A desconfiança nas instituições debilita o governo pró-imperialista do PRI – responsável por aplicar os planos de maior subordinação do país ao capital estrangeiro –, assim como mancha o exército, a PGR, a Suprema Corte de Justiça, a Comissão Nacional de Direitos Humanos, o Instituto Nacional Eleitoral, entre outras.

A situação reacionária que primava há pouco tempo foi superada por um fenômeno democrático nacional que pressiona ã esquerda as direções como do Morena que se opõem a uma saída radical para a crise política e social.

É uma situação na qual a estabilidade política está seriamente ameaçada e da qual dificilmente se possa regredir ã passividade de anos anteriores. Setores da população trabalhadora – e fundamentalmente da classe média – começam a expressar que não desejam mais viver como antes.

Entretanto, estamos longe de uma situação na qual “o Estado não existe”, como dizem alguns. Ao não se desenvolver uma perspectiva política para conquistar demandas como “Fora Peña Nieto” a classe dominante e suas instituições podem resolver a crise, seja por mecanismos “democráticos” – como eleições antecipadas – ou autoritários, barrando este despertar dos oprimidos e explorados.

Na situação atual surgem fortes elementos do que os marxistas denominam como crise de hegemonia, expressos na deslegitimação dos partidos tradicionais e no fato de que as saídas apontadas pela classe dominante dificilmente geram entusiasmo nas maiorias. Nesse contexto, se a crise econômica se desenvolve e se combina com a crise capitalista – um temor reconhecido pelo Banco do México, o secretário da Fazenda e o FMI – a situação se complicaria de uma maneira impensável para o governo.

A dinâmica crescente de mobilização, a impotência do governo para barra-la e o contexto mundial de crise capitalista que repercute inevitavelmente num país tão dependente dos Estados Unidos abre novos cenários na luta de classes nacional.

 

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