No último dia 12 de abril, foi fundado no país o Movimento Revolucionário de Trabalhadores (MRT), uma nova organização que luta pela revolução socialista, contra o sistema de exploração que vivemos hoje no capitalismo e busca uma sociedade sem classes, sem opressões e violência social, sem a soberania do capital: uma sociedade de fraternidade entre os trabalhadores livremente associados. Uma sociedade comunista.
O MRT surgiu a partir do Congresso da Liga Estratégia Revolucionária – Quarta Internacional, que votou em sessão extraordinária do seu V Congresso a mudança de seu nome. Quem presidiu o Congresso foi Pablito Santos, diretor do Sintusp. O debate teve início com abertura de Diana Assunção e Marcelo Tupinambá, e com a presença de Val Lisboa, dirigente e fundador da LER-QI.
O Congresso teve como mesa honorária a memória de Leon Trotsky, os lutadores da IV Internacional e o povo grego na luta contra os ajustes. Também começou, entre outras, com saudações ã greve de professores (principal luta em curso no país) e ao camarada Gaëtan, militante francês que se encontra na ameaça de ser preso por se mobilizar na França.
A alteração de nome e formação de uma nova organização expressa uma mudança decisiva: o fortalecimento da organização com novos trabalhadores, na USP, no metrô de São Paulo, em professores em greve, nos correios, em bancários, nas indústrias e em muitas outras categorias, de outros estados como Rio de Janeiro e Minas Gerais, que foram parte ativa da discussão congressual da LER-QI. Essa nova composição exige uma nova organização, que corresponda aos objetivos e necessidades da nova etapa.
Além disso, tem relação com o enorme avanço que a organização pode oferecer aos trabalhadores com o lançamento do portal Esquerda Diário no Brasil, um instrumento latino-americano de notícias e ideias que viemos impulsionando internacionalmente com o intuito de forjar as bases para o desenvolvimento de alternativa política, inicialmente no caso nacional frente ã crise do PT e mais desenvolvido em outros países, como na Argentina frente ã crise do kirchnerismo. Um forte instrumento de opinião que tem chegado a centenas de milhares (com perspectiva de ultrapassar a casa do milhão nos próximos meses).
O objetivo de criar um partido orientado para a revolução socialista, que parecia distante em décadas passadas, se reatualiza com toda força no mundo a partir da grande crise capitalista iniciada em 2008 e, no nosso país, com as massivas jornadas de junho, que levaram massas ás ruas e modificaram em poucas semanas a história política do país.
Abriu-se uma nova etapa da luta dos trabalhadores e a juventude, que gerou em 2014 a maior onda de greves operárias das últimas décadas no país e já começaram a dar sinais para todos da força do verdadeiro sujeito da transformação social: a classe trabalhadora.
No entanto, essas lutas na nova etapa evidenciam um importante limite dos trabalhadores na sua luta pela revolução social: a necessidade de criar um instrumento político, um partido revolucionário, que seja verdadeiramente enraizado na classe e que possa ter capacidade de enfrentar o ódio das classes dominantes e as elites do país na defesa da população oprimida e o desenvolvimento da revolução socialista.
Acreditamos que um partido como esse deveria se basear na interação verdadeira das ideias da revolução social com a massa trabalhadora. Alguns partidos na esquerda internacional têm crescido em sua influência, como o Syriza grego ou Podemos espanhol, sendo muito conhecidos midiaticamente (por cima), mas sem ter uma militância verdadeira entre os trabalhadores (por baixo). Esse projeto não poderá realmente estar ã altura de uma revolução, mas sim da ilusão e de novas derrotas dos trabalhadores.
Uma alternativa internacional que aponta para esse tipo de partido revolucionário que necessitamos tem surgido na Argentina, com a atuação do Partido de Trabalhadores Socialistas (PTS) no movimento operário e na luta de classes e a composição da Frente de Esquerda dos Trabalhadores (FIT), uma frente de organizações que reivindicam a revolução socialista e tem oferecido uma alternativa política aos trabalhadores.
Nesse sentido, o movimento se orienta para confluir com jovens e trabalhadores que avançam no combate ã crise capitalista na perspectiva de construir um Partido Revolucionário dos Trabalhadores como solução classista e revolucionária ã crise de direção no movimento operário diante da confirmação, para nós, da passagem do PT para o lado dos capitalistas e a impotência da esquerda existente, que, apesar de muitos anos atuando em sindicatos (como o PSTU) e no parlamento (como o PSOL), fracassou em constituir para milhões de trabalhadores e jovens uma alternativa revolucionária ao PT e ao reformismo.
Justamente por isso consideramos que o novo momento da classe operária brasileira coloca o desafio de organizar uma unidade na ação com todos os setores anti-governistas e classistas para barrar os ataques em curso, sendo esta a base para debater o programa e a estratégia para a construção de um partido revolucionário dos trabalhadores verdadeiramente internacionalista, partindo das lições da experiência com o PT em nosso país.
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Ao final do congresso, o Esquerda Diário entrevistou Pablito Santos, diretor do Sintusp, que expressou que "essa nova organização tem o desafio de lutar para que a tradição de auto-organização que existe entre os trabalhadores da USP se expanda para outras categorias e de desenvolva como uma nova tradição do movimento operário em todo o país"
Já Francielton Bananeira, delegado sindical do metro de São Paulo, afirmou que "necessidade de estender em nível nacional a batalha por um movimento sindical não corporativo, como hoje fazemos no metrô ligando as lutas econômicas dessa categoria estratégica com a luta pela estatização dos transportes sob controle dos trabalhadores e usuários como forma de responder ao que foi a principal demanda das jornadas de junho de 2013"
Por fim, Val Lisboa, histórico militante operário que participou da fundação do PT, expressou que "o MRT deve estar a serviço de construir um partido que tire até o final as lições do que foi a experiência como PT, tarefa que nem o PSOL nem o PSTU foram capazes de realizar, já que vêm mostrando sua impotência para expressar politicamente a onda de lutas operárias que tem sacudido o país nos últimos anos".
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