A crise econômica já está sendo descarregada sobre os ombros dos trabalhadores e trabalhadoras. E onde estão as organizações de luta para colocar a classe trabalhadora em pé de guerra? No país há várias centrais sindicais nacionais que agrupam centenas de milhares de trabalhadores; todas as suas direções falam em nome da classe operária. Mas o que ocorre que a força dos trabalhadores não se expressa com contundência?
Diante da aguda crise econômica que golpeia o povo trabalhador, uma grande pergunta surge: por que a classe trabalhadora não emerge na cena nacional em defesa de suas demandas fundamentais e interesses.
Uma parte da resposta reside no papel que desempenham as direções das centrais sindicais do país, fundamentalmente as ligadas ao governo, mas também a burocracia sindical vinculada aos partidos da oposição direitista. Vemos que a alta galopante do custo de vida, sobretudo dos alimentos, está golpeando tanto as condições de vida da classe trabalhadora que tem obrigado as famílias a debater como fazer para que a comida renda mais. O bolívar, o salário, valem cada vez menos. O recente aumento do salário mínimo anunciado pelo governo no 1° de maio, de 30%, não chega a cobrir os níveis de uma inflação galopante, e uma alta porcentagem dos trabalhadores não chegam ganhar nem o salário mínimo. Além disso, existe a negativa de renovar os acordos coletivos nas fábricas e em muitas repartições governamentais ou aumentos salariais totalmente insuficientes, demissões em alguns setores e perseguição ou criminalização dos que se organizam e lutam.
A crise econômica já está sendo descarregada sobre os ombros dos trabalhadores e trabalhadoras. E onde estão as organizações de luta para colocar a classe trabalhadora em pé de guerra? No país há várias centrais sindicais nacionais que agrupam centenas de milhares de trabalhadores; todas as suas direções falam em nome da classe operária. Mas o que ocorre que a força dos trabalhadores não se expressa com contundência?
É verdade que a classe operária do país tem uma grande debilidade para enfrentar a atual situação com uma perspectiva própria. Em primeiro lugar, sofre uma grande fragmentação sindical, maior do que quando Chavez assumiu o governo. Mesmo existindo uma infinidade de sindicatos por empresas, esta grande dispersão debilita suas forças, na medida em que não se desenvolvem alas combativas, a não ser pequenas tentativas regionais de reorganização sindical que podem abrir novas perspectivas. Porém, o papel das burocracias sindicais das centrais existentes aprofunda esta dispersão e freio ás lutas.
A burocracia da Central Bolivariana “Socialista” (CBST) se mantém servil a tudo que exige o governo, incluindo a desvalorização, o atraso ou a paralisação de acordos coletivos, os acordos com os empresários para aumentar os preços, autorizar suspensões e demissões e a perseguição e repressão nas fábricas e instituições do Estado. Por sua vez, a Central de Trabalhadores da Venezuela (CTV) e outras correntes subordinadas ã direitista Mesa de Unidade Democrática (MUD) são cascas vazias, agrupamentos que querem utilizar o mal-estar dos trabalhadores em função dos planos de algumas alas da direita e, por isso, não desenvolvem nenhuma política para que a classe trabalhadora se eleve com força como um ator efetivo na situação nacional.
É necessário coordenar a partir das bases, superar a política das burocracias sindicais
Contudo, não é possível ficar de braços cruzados, é fundamental superar esta situação imposta pelas burocracias sindicais. É necessário desenvolver a coordenação a partir das bases em luta, construir instâncias permanentes de coordenação por zonas industriais, ramos de produção ou setor, impulsionar encontros regionais que votem planos de mobilização com a perspectiva de um grande encontro nacional de trabalhadores e trabalhadoras em luta que possa preparar grandes ações nacionais.
Superar os métodos burocráticos nos quais apenas um grupo de dirigentes decida tudo, ampliar a participação das bases mediante assembleias que discutam as medidas de luta, elejam delegados que formem instâncias mais democráticas que as direções sindicais. Encontros não apenas de dirigentes sindicais, mas das bases, preparados previamente em cada lugar de trabalho para que os trabalhadores saibam do que se trata, conheçam suas propostas, discutam os objetivos para participar e escolher delegados e delegadas.
Trata-se de poder começar a mostrar a possibilidade de que os trabalhadores enfrentem a crise de forma unida e organizada. Mas isso só pode ser feito com métodos que rompam a atual política das burocracias sindicais, que as obrigue a colocar-se ã frente de verdadeiros planos de luta ou que diretamente cheguem a substitui-las na direção das organizações, conquistando novas direções combativas, democráticas e verdadeiramente classistas.
Nesse sentido foi um passo interessante a realização em março do Encontro na cidade de Valencia, região de grande concentração industrial do país, convocado pela Federação Unitária de Sindicatos Bolivarianos do Estado Carabobo (Fusbec), que reuniu dirigentes sindicais e trabalhadores de várias empresas em luta e instituições públicas da região. Acima dos limites existentes, a ideia central que atravessou os debates nesse encontro foi como fazer para coordenar as forças em luta dos trabalhadores, avançando numa frente única. É uma tentativa de coordenação das lutas e de reorganização sindical que, se avançar no caminho da independência de classe, poderia permitir dar passos concretos para superar a dispersão e a atitude contemplativa que nos condenam as burocracias das centrais nacionais.
Se a classe trabalhadora não deseja pagar a crise que já se descarrega sobre suas costas, é essencial que na situação atual emerja na cena nacional com um programa operário de saída para a crise, para que sejam os capitalistas que paguem. Nesta batalha a luta contra a burocracia sindical, seja a disciplinada ao governo ou aos partidos da direita, assume um papel preponderante.
(Trad.: Val Lisboa)
|