Ontem, dia 13 de outubro, ocorreu o Congresso da CUT. A foto que ilustra esta matéria, tirada lá, vale mais do que mil palavras. Apenas alguns dias depois do lançamento da Frente Povo Sem Medo, a mesma CUT estava de mãos dadas com Dilma e Lula, que estão atuando cada vez mais como "um só" presidente do Brasil, e dando muita centralidade em orientar este Congresso da CUT. No palanque, também estava Guilherme Boulos, liderança do MTST e grande articulador do "povo sem medo". Nessa foto, para completar os principais articuladores da Frente Povo Sem Medo só faltam Luciana Genro, os parlamentares e as principais correntes do PSOL.
Atuando numa tentativa de reverter a crise política do governo de Dilma, Lula tentou vender a falaciosa ideia de que o governo do PT, que está descarregando a crise criada pelos ricos nas costas dos trabalhadores com pesados ajustes, poderia mudar. Foi um verdadeiro chamado de Lula para que a burocracia sindical vá as bases para defender o governo do PT, confirmando a definição de que a burocracia sindical é o guardião dos interesses da burguesia no interior do movimento operário.
Mas a falácia dos discursos de Lula e Dilma não foi a única questão que o Congresso da CUT explicitou. Com a demagogia de que seria possível, mediante apoio das entidades sindicais a Dilma, adotar uma política de estímulo ao crédito, Lula buscava reorientar a própria burocracia sindical cutista. Seu objetivo era rearmar o discurso que essa deveria ter frente ás suas bases, para que o descontentamento dos trabalhadores com o governo do PT e seus ataques não se transferisse ainda mais para as direções sindicais da CUT.
A burocracia sindical vem sendo um valioso aliado no que se remete a aplicação dos ajustes, que tanto atacam os trabalhadores, como por exemplo, na questão do Programa de Proteção ao Emprego. Na semana passada foi lançada a Frente Povo Sem Medo e desde então nos posicionamos claramente contrários a esta Frente junto com CUT, UNE e outros agentes do governo e do PT. Entretanto, o que mais o PSOL e outros setores da esquerda necessitam para enxergar tamanha capitulação que é manter uma frente junto com a CUT?
O 12a Congresso da CUT não deixa nenhuma sombra de dúvida. Ninguém menos que o presidente da Central hegemonizada pelo PT, Wagner Freitas, o Wagnão, saudou efusivamente a Frente Povo Sem Medo afirmando que essa seria, ao lado da Frente Brasil Popular, “Frentes que servem para defender a democracia e lutar por políticas públicas na Educação, Saúde”. Isso num momento em que emerge o debate sobre as manobras de Dilma, e Lula, ao alegarem que as pedaladas fiscais teriam sido uma via de “garantir os programas sociais”, mascarando que uma imensa parte do orçamento obtido aí escoou pelo ralo do superávit primário. Um discurso que visa enganar e confundir os trabalhadores,bem como comprometer os movimentos sociais, em meio a situação de piora dos níveis desemprego, inflação e todas as consequências dos ajustes, que visam garantir os lucros dos ricos.
Se alguém tinha dúvidas, Wagnão aclara no mesmo discurso “vamos fazer as críticas...mas no fim estamos juntos(...) Já fomos, estamos e voltaremos as ruas para defender o mandato da presidente Dilma". Será este o conteúdo do ato em pleno domingo de 8 de novembro? Mais um ato folclórico, que não serve para atacar empresários e governos, o que envolveria paralisar a produção e a circulação de mercadorias e fluxos de capitais. Por isso o "ato" dessa frente será num domingo, para impedir que a massa trabalhadora da base dos sindicatos da CUT e CTB possam ser sujeito ativo contra os ajustes, pois se saíssem ás ruas verdadeiramente nessa perspectiva a burocracia sindical se veria diante de uma situação incontrolável.
Frente a isso há que perguntar como o PSOL acha que pode combinar estar uma Frente com os aliados do governo e auxiliares na aplicação dos ajustes, que é a burocracia sindical cutista, com uma política de “esquerda”. É possível combater consequentemente os ajustes dessa forma? É possível ser de esquerda assim? Evidentemente não.
O MTST de Guilherme Boulos tampouco pode ser uma referência para uma política de independência do governo. Apesar de discursivamente colocar críticas a política econômica do governo petista sua prática demonstra que em verdade defende uma orientação de meramente pressionar o governo no intuito de obter concessões, como a retomada do Minha Casa, Minha Vida. O MTST não se organiza a partir dos trabalhadores, única classe que pode golpear estrategicamente os interesses da patronal e dos governos, e dar uma saída de fundo ás demandas dos setores populares e oprimidos.
Politicamente o MTST cada vez mais é funcional aos interesses do governo. Hoje em pleno congresso da CUT declarou que havia divergências na esquerda mas o importante eram os pontos comuns tanto da Frente Brasil Popular como da Frente Povo sem Medo, disse ele segundo o site da CUT: os três pontos que são comuns aos movimentos: a luta contra o golpismo, a luta contra o ajuste fiscal e a busca por saídas que impeçam que a conta da crise seja debitada dos trabalhadores, transferindo a conta para o "andar de cima"".Boulos está se oferecendo de elo para unificar estas duas frente, e colocar ambas como linha de apoio ao PT contra a direita e pressão sob um ministro (Levy) e não na denuncia implacável de um governo ajustador, que corta até mesmo no Minha Casa Minha Vida, caro a seu MTST.
Com isso tudo a única conclusão coerente é que se o PSOL seguir na Frente Povo Sem Medo estará optando por aproximar-se do petismo, e do governo aplicador dos ajustes, e se distanciar de qualquer perspectiva de dar uma resposta de fundo, que só pode se dar por uma clara estratégia dos trabalhadores, ás crises econômicas e políticas. É urgente que o PSOL rompa com essa política, se retirando imediatamente desta Frente, que é uma barreira para a mobilização de massas em um verdadeiro plano contra os ajustes de Dilma e do PT. É urgente assumir uma perspectiva oposta a dessa Frente, e constituir um polo realmente classista, que se una e coordene com setores como a CSP-Conlutas, e não a CUT e sua política governista. É dessa forma que poderemos combater na luta de classes os ajustes do governo do PT e assim oferecer uma força real de combate ao desemprego, ao corte de salários como é o PPE e erguer uma força política independente do governismo e da direita.
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