Chile: Os mais explorados entre os explorados saem à luta
A greve dos trabalhadores terceirizados da Codelco, principal empresa mineira do Chile
30/04/2006
Cronologia da Luta
Sábado, 14 de Dezembro
O conselho provincial da Central Única dos Trabalhadores (CUT) em Calama, enviava ao Sr. Juan Vilarrzu, presidente executivo da Codelco, um comunicado declarando que “nos permitimos solicitar a Ud, em nome dos trabalhadores contratistas da Udelco Norte, e acreditamos que interpretamos o sentimento da imensa maioria dos trabalhadores e dos cidadãos, um Bônus Especial (...) ascendente a quantidade de $500.000”. Esta era uma justa demanda, pelos elevados preços do cobre, e por que um reconhecimento similar havia sido dado aos trabalhadores da fabrica.
Terça-Feira, 20 de Dezembro
Javier Rowe, dirigente de uma das empresas terceirizadas da Codelco, declarava no El Mercúrio que “é a primeira vez que os trabalhadores das empresas terceirizadas resolveram unir-se e pedir algo assim. E é totalmente justo. Nem sequer havíamos de pedir, a Codelco devia ter feito, simplesmente pelo trabalho que fazemos. Sabemos os trabalhadores que estamos desempenhando um papel direto da produção. Ou seja, nós, com nossas mãos, produzimos cerca de cem toneladas em Radomiro Tomic, por exemplo, onde aportamos ao total de toneladas que faz a Codelco”.
Quinta-Feira, 29 de Dezembro
Os trabalhadores realizam suas primeiras manifestações em Roncagua e em Los Andes. Não há registros nem de feridos nem de detidos. Porem, os trabalhadores omçam a dar mostras de sua disposição para a luta. O governo, diante da ameaça de greve e em meio ás eleições presidenciais, se mostra aberto ao dialogo.
Quarta-Feira, 4 de Janeiro
Declara-se greve por tempo indeterminado. Segundo El Mercúrio, a paralisação das quatro divisões da Codelco (El Tenente, Codelco Norte, Ventana e Andina) é total. Segundo Leiva, um dos dirigentes do conflito, “100% dos trabalhadores terceirizados paralisaram suas tarefas. (El Mostrador 05/01/06). Junto com a paralisação das atividades com a greve, se realizaram mobilizações durante todo o dia. 3000 trabalhadores em cada divisão bloqueiam os caminhos e não permitem a chegada dos ônibus até as minas. Esta jornada culminaria com quase meia centena de trabalhadores detidos e dois carabineiros feridos. Cristian Cuevas, dirigente da divisão Andina e porta-voz nacional do movimento, em uma entrevista publicada no El Mostrador, declarava “Queremos baixar os ânimos”; ao mesmo tempo que a CUT e o governo buscam estabelecer uma mesa de dialogo, que não se constitui pela negativa do governo, mas que exige que antes se restabeleça a ordem publica. O presidente Ricardo Lagos se nega contundentemente a entregar os bônus aos trabalhadores. Ao mesmo tempo, Danilo Jorquera, dirigente da CNTC e membro do PC, declarava confiança nas políticas do governo “confiamos que nesta instancia encontraremos solução”(La Tercera 04/01/06).
Quinta-Feira, 5 de Fevereiro
Leiva declara que “o governo suspendeu a mesa e com essa decisão a única coisa que conseguiu foi jogar mais gasolina no fogo. Isso criou muita moléstia entre os trabalhadores (El Mostrador 05/01/06). O Ministro da Fazenda Nicolas Eyzaguirre trata de “chantagistas” os trabalhadores que encontram-se em greve. Os terceirizados, indignados pela atitude do governo da Concertação continuam se utilizando dos seus métodos de luta: a greve. Realizam-se assembléias pelas quatro divisões da Codelco, assim como paralisações e piquetes afim de evitar a chegada dos ônibus nas minas, para manter paralisada a produção.
Sexta-Feira, 6 de Janeiro
Ao projeto de lei que regula (consagra na realidade) o problema da subcontratação que dormia no Congresso, há três anos, o governo lhe imprime o caráter de “discussão imediata”. Os Empresários, o Governo, a Concertação e a Direita se aliam todos por trás desta política, legislar sobre o problema da subcontratação para regularizar-la com a finalidade de consagrar-la, e também com a finalidade de adiantar-se tomando em suas mãos e evitando que os trabalhadores resolvam esses problemas por si próprios.
Sábado, 7 de Janeiro
O governo insiste em negar-se a entregar o bônus, uma vez que a mesa negociadora nunca consegue concretizar-se, já que para isso tanto a Codelco como o governo e os empresários intermediários pedem que cessem as mobilizações. Porém, os trabalhadores não estão dispostos a aceitar as condições do governo e dos empresários. Neste momento as mobilizações se concentram nas divisões de El Tenente e na divisão Andina.
Segunda-Feira, 9 de Janeiro
Se bem a política do governo é desviar a discussão para “regular” (consagrar na realidade) o problema da subcontratação, e se negar a ceder ã petição dos trabalhadores, o certo é que o povo começa a levantar-se sob o tema próprio da subcontratação no Chile. Os editoriais dos diários patronais têm refletido como a classe trabalhadora começa lenta e sustentadamente a se por sobre a mesa de discussão nacional. Para citar só um exemplo, Lá Nácion dizia “ A preocupação dos empresários não diz respeito a uma preocupação moral, senão dos problemas que pode gerar a irrupção social.” Como um projeto de lei não fará solucionar o problema da subcontratação, só os trabalhadores, com seus métodos de luta, com uma política de classe independente, poderão (e esta e nossa próxima tarefa) erradicar definitivamente as condições precárias de trabalho e exploração no Chile.
Terça-Feira, 10 de Janeiro
A Codelco envia uma proposta para melhorar as condições de trabalho dos trabalhadores terceirizados, porem negando contundentemente a entrega do bônus. A proposta é bem aceita pelos dirigentes sindicais.
Quarta-Feira, 11 de Janeiro
Realizam-se assembléias em todas as divisões do país, nas quais se rechaça categoricamente a proposta enviada pela Codelco, e é anunciada a radicalização das mobilizações.
Quinta-Feira, 12 de Janeiro
Apesar de tentar levar tudo ao terreno da discussão parlamentaria se intensificam as mobilizações na divisão de El Tentente e na divisão Andina, multiplicando-se os cortes de rua para evitar que os ônibus subam as minas. Cerca de 40 trabalhadores acabam feridos nas mãos da repressão policial, e 40 são detidos entre Rancagua e Los Andes. Ainda assim, Danilo Jorquera insisti em constituir uma mesa de negociação com governo.
Sexta-Feira, 13 de Janeiro
O governo insiste que o Bônus de $500.000 é inaceitável, mas na Codelco se diz que a produção não foi afetada. No entanto, Lagos indica a Yerko Ljubetic (segundo El Mercúrio na internet em 13/01/06) que convoque uma mesa negociadora para segunda ou terça-feira. A CUT declara que deixará de ser apenas uma mediadora do conflito e diz que se somará a greve dos trabalhadores (ainda que nada chegou a concretizar). Em El Teniente, cinco terceirizados iniciam uma greve de fome logo após tomar a Igreja La Merced.
Sábado, 14 de Janeiro
A Confederação de Trabalhadores do Cobre, que agrupa os mineiros contratados e da fábrica da Codelco anuncia que irá intervir na mediação do conflito. A força dos trabalhadores terceirizados da Codelco, que se expressou quando recorreram aos métodos próprios de luta da classe trabalhadora, como a paralisação da produção, neste caso mediante a greve, quis ser debilitada pelo Governo, a Concertação a Direita e os empresários, que tentaram dividi-la e fazer retroceder para derrotar-los. Para isso recorreram a repressão e a provocação patronal. Mandaram seus funcionários ministeriais as assembléias para apresentarem-se como amigos do povo, ocasião em que foram apresentados por dirigentes Sindicais do Pc como Danilo Jorquera. Propuseram mesas de dialogo que nunca se concretizavam para desgastar a luta. Chantagearam os trabalhadores opondo suas justas demandas a outras necessidades sociais (como a construção de acampamentos escolares para os filhos do povo trabalhador). Por sua vez, desde os dirigentes majoritários da luta no sindicato, se introduziram elementos de confusão, ao impulsionar e deixar correr , por exemplo, atividades de lutas vendidas, em lugar de discutir os métodos próprios da classe trabalhadora, a paralisação da produção, que é o que realmente afeta as empresas, sejam elas privadas ou publicas.
Terça-Feira, 17 de Janeiro
Se instala uma mesa tripartite entre o sindicato mineiro, o governo e a Codelco. As marchas continuam. Dois dias depois se chega a uma ata de pré-acordo.
Sábado, 21 de Janeiro
Ratifica-se a ata de pré-acordo. Os mineiros detém as mobilizações , no entanto o documento acordado não inclui as bonificações diretas, só promete a revisão do contrato de cada trabalhador, além de legislar em função do problema da sub-contratação; por onde as divisões de El Tenente e Andina rechaçam o acordo.
Quinta-Feira, 7 de Fevereiro
Apresentou-se uma contraproposta dos trabalhadores, em que a mesa tripartite chega a negociar um bônus mensal de $15.000 (30 dólares) e o beneficio da lavagem da roupa. O descontentamento por este acordo se fez sentir entre os trabalhadores, mas as manifestações não voltaram a acontecer e greve se deu por encerrada. O processo de acumulação de experiências e a maior disposição de luta se viu em poucos dias. Na quarta-feira, 1 de março, dois mineiros da divisão de El Tenetente morreram pelas péssimas condições de trabalho nas minas . No dia seguinte 800 mineiros bloquearam o acesso ao mineral em Los Maitenes. Os ônibus não conseguiam subir as minas e em quatro horas os trabalhadores mostraram a força da sua luta e sua solidariedade de classe.
Significado e importância da luta na Codelco
Os mineiros terceirizados do Cobre, reccorendo aos seus métodos próprios de luta como classe, a paralização de suas atividades neste caso com a greve, mostram o imenso poder objetivo da classe trabalhadora. Mostram que são a única classe produtiva da sociedade. E mostram quem são os que os patrões mais temem, porque os afetam onde mais dói: o equiparamento dos lucros. Mostra também que a classe trabalhadora vem recorrendo a um caminho de recomposição, lento porem persistente, política organizativa e de luta no Chile. Desde o paro nacional em agosto de 2003 até a greve dos trabalhadores terceirizados de hoje, desde o paro dos tripulantes pesqueiros de Iquique, até a greve dos trabalhadores da indústria privada. Um processo de recomposição lento e persistente, que vem avançando em toda América Latina..Um processo de recomposição das forças operarias, que é também o resultado do esgotamento lento e controlado do neoliberalismo no Chile, e de tendências ao declive nos partidos políticos patronais.
De uma greve tão importante como a do cobre, é necessário destacar alguns elementos. Um que a classe trabalhadora esta avançando em recuperar seus métodos de luta, com a paralisação das atividades através da greve, e em um setor decisivo da economia nacional, dando-lhe mais peso objetivo. Outro que avança com suas lutas e organizações, um dos setores mais explorados da classe trabalhadora (ainda que a classe patronal os constituísse para dividir suas fileiras). Também que começam a tentar colocar-se na discussão nacional algumas das demandas da classe trabalhadora.
Devemos destacar ademais alguns limites. Quando tentam debilitar os métodos próprios dos trabalhadores, com a paralisação de atividades, substituindo-as por atividades de luta por fora dos centros de produção. Quando se mantém divididas as fileiras da classe operaria alem de esgotar todos os esforços para unir-las, deixando que os trabalhadores terceirizados, um dos setores mais explorados da classe trabalhadora, se dividam dos trabalhadores da fabrica (ao menos por que o trabalhador da fabrica deve mirar-se no trabalhador terceirizado como seu mais provável futuro, ou ao menos porque o patrão usa do trabalhador terceirizado para tirar direitos do trabalhador da fabrica). Quando as mesas de negociação se transformam em mesas de dialogo, quer dizer, quando se fazem as costas dos trabalhadores e para dialogar sobre “largas” agenda que propõe a patronal e que buscam fazer crer ao trabalhador, que se deve confiar nos patrões e nos políticos patronais a solução de seus direitos e interesses.
Porém, como potencializar esta força da classe trabalhadora e preparar-se para solucionar estes limites? Colocar em pratica os métodos da classe trabalhadora é o primeiro passo para avançar em fortalecer suas organizações, como por exemplo os sindicatos, ou outras formas de organização que o trabalhador construa. Porem é necessário que forjem uma nova política sindical. É necessário fazer ferramentas para a defesa de nossos direitos e interesses. Que deixem de ser ferramentas de dialogo social, da confiança nos patrões e políticos patronais que se apresentam falsamente como amigos do povo. Que, recuperando as melhores tradições da classe trabalhadora, com a Declaração de Princípios da CUT de 53, e da FOCH de 18, se coloque atuar sob os princípios da luta de classes.
Porque é necessário uma CUT classista e combativa, que agrupe tanto os trabalhadores das fabricas que conseguiram conquistar com suas lutas um trabalho mais estável e digno, como aos trabalhadores precarizados e terceirizados que conseguirão conquistar, somente com suas lutas, estas mesmas condições. Aos empregados e desempregados, superando todas as divisões que os patrões nos impõem a força para a classe trabalhadora. Por que para combater o problema da sub-contratação é necessário uma CUT classista e combativa, e todos os organismos que a classe trabalhadora vai construindo em suas lutas, para avançar em erradicar essa forma de exploração da classe trabalhadora, para avançar em recuperar o direito efetivo da Greve no Chile, sem as represálias que “os demitidos por necessidade da empresa” permitem depois de uma paralisação ou greve, para que não existam os substitutos.
Para recuperar uma CUT assim, ferramenta de defesa e de luta dos interesses dos trabalhadores como classe, sob os princípios da luta de classes; para construção, desenvolvimento e impulsionamento de todos os organismos que a classe trabalhadora vá construindo em suas lutas, sob o método da democracia direta da classe trabalhadora; para mudar os métodos próprios de luta da classe trabalhadora. Para todas essas lutas é necessário organizar-se e preparar-se para construir um partido revolucionário dos trabalhadores marxista e internacionalista, com uma política de classe independente de toda variante patronal, que não chame os trabalhadores a confiar nos políticos patronais que se apresentam falsamente como amigos do povo, que se prepare para avançar na luta pelos interesses históricos da classe trabalhadora.