FT-CI

Marcha e repressão em Santiago

A 36 anos do golpe militar antioperário no Chile

19/09/2009

No domingo 13 de setembro, aproximadamente 4000 pessoas se congregaram na Alameda–principal avenida do centro de Santiago–para marchar em direção ao Cemitério Geral, em memória aos presos desaparecidos e aos executados políticos da ditadura pinochetista. O ato foi composto principalmente por organizações de esquerda e organismos de direito humanos.

Em comparação com os anos anteriores, a convocatória e a presença foram menores: o clima repressivo que o governo “socialista” de Bechelet e a direita vem instaurando, certamente contribuiu para isto. Durante as ultimas semanas os estudantes universitários vem enfrentando o fechamento destas e violentas irrupções policiais; enquanto que o povo mapuche–que luta pela recuperação de suas terras e territórios—, é permanentemente criminalizado através dos meios de comunicação, tudo isto após o assassinato— por parte de um policial–do lutador mapuche Jaime Mendoza Collío, o quarto morto por motivos políticos sob o governo “progressista” de Michelle Bachelet. Alguns dirigentes sindicais, acusado de participar de “atentados” estão sofrento com a constante invasão policial de suas casas. E na preparação de futuras repressões, o governo e a direita acabam de aprovar uma lei contra as manifestações publicas, que sancionará com encarceramento e multas aqueles que as convocarem, em caso de destruição de bens. A direita, seguindo sua tradição pinochetista, pressiona para fortalecer a repressão. Para o passado dia 11 (aniversário do golpe militar de 1973), colocaram que o “toque de recolher” deveria ser implementado, para segundo eles, prevenir o “vandalismo”.

No entanto, o governo decidiu não se “exceder” com a repressão. Sem sombra de duvida as eleições presidenciais e parlamentares que aconteceram em dezembro incidiram nesta decisão. Em primeiro lugar porque aparecer como um governo repressor, poderia acarretar em problemas eleitorais para o candidato presidencial, o democrata cristão, Eduardo Frei. Em Segundo lugar, porque não podemos perder de vista que a Concertación–o conglomerado oficialista, composto pelo OS, a DC, o PPD e o PRSD–atravessa um processo de desgaste, o que os levou a pactuar com o Partido Comunista para soltar a lista de parlamentares em comum, em troca de que este vote em seu candidato presidencial no segundo turno, como todos prevêem que haverá. O Partido Comunista, como em todos os anos, esteve presente na marcha. Iriam gerar indignação de seus aliados? Foi por isso que diferentemente dos anos anteriores, o PC conseguiu organizar, fora do Cemitério Geral, na avenida La Paz, o ato oficial. Este ato sempre ficava relegado a u pequeno espaço dentro do cemitério. A policia concentrou a repressão em cima de algumas pequenas organizações e sob os jovens. Desta forma, foram 17 detidos e a policia metropolitana pode propagandear que este ano não foi tão violenta.

O rechaço ao golpe em Honduras

Uma questão que esteve ausenta da jornada, foi o repudio ao golpe de estado em Honduras. O imperialismo americano, em decadência, precisa de governos servis na America Latina, e por isso, legitimou os golpistas hondurenhos impulsionando o pacto de San José, que–além de reconhecer aos golpistas como um “interlocutor válido”–se bem que fala do retorno de Zelaya, assegura que não se realizará a Assembléia Constituinte que era repudiada pelos setores mais pró clives a égide imperialista, e também a impunidade dos golpistas através da anistia.A repressão dos militares já deixa centenas de mortos, e as mulheres em luta estão sofrendo estupros e humilhações de todos os tipos. O povo hondurenho, no entanto, continua sua resistência. Este processo e a instalação das tropas ianques em sete bases colombianas, nos lembram que o imperialismo, para defender seus interesses, não trepidará na hora de aplicar métodos violentos para defender seus interesses. Tal como o fez no Chile há 36 anos, através da mão da patronal nacional, sua policia e suas forças armadas.

Classe contra Classe, assim como o conjunto de organizações que integram a Fração Trotskista- Quarta Internacional, vem realizando uma forte campanha de rechaço ao golpe em Honduras. Nesta marcha, após 36 anos do golpe no Chile, não podíamos silenciar esta saída reacionária da patronal. Nossos gritos internacionalistas fizeram-se sentir fortemente no trajeto de três horas da Alameda ao Cemitério Geral. Junto ás companheiras da agrupação Pan y Rosas–Teresa Flores e aos companheiros da corrente estudantil Las Armas de La Crítica, enrouquecemos nossas gargantas com as seguintes consignas: “Em Honduras, patrões e padres, são os que mantêm esta ditadura”, “sim podemos, sim podemos, com greves e piquetes os golpistas retrocedem”. No final do ato, em memória aos detidos desaparecidos, em um pequeno ato, manifestamos nosso mais profundo rechaço ao golpe e ás eleições dos golpistas, e chamamos ã CUT–principal multi-sindical chilena- a impulsionar fortes mobilizações em solidariedade ao povo hondurenho.

Juztiça e castigo aos repressores de ontem e de hoje

Recentemente tornou-se publico que o exército mantinha contratados a “honarários” membros da DINA, um dos organismos de inteligência da ditadura. O governo bacheletista colocou que se deveria atuar sob o principio de “presunção de inocência” e dessa forma, justificou que estes repressores mantenham-se dentro da maquinaria do exército. A direita apoiou o governo. Após o repudio que a decisão gerou, no interior das próprias fileiras do exército, o governo viu-se obrigado a pressionar o exército para que os repressores sejam despedidos de seus trabalhos... No entanto, continuaram nas ruas, e com bons salários! Pior ainda, o debate que a Igreja abriu, de indultar alguns destes genocidas que foram presos, matem-se aberto. Tudo isto é apresentado como avanços em direção a uma “conciliação nacional”. Os governos concertacionistas, se bem prenderam alguns casos “emblemáticos”, mantem a impunidade da maioria dos agentes da ditadura. O próprio Pinochet morreu na total impunidade. A pose “allendista” que Bachelet fez no dia 11 de setembro, citando palavras do presidente da UP, não tampam o fato de que ele mantêm–das mesma forma que seus antecessores–livres a maioria dos milicos genocidas.

É por isso que Classe contra Classe, junto a outras organizações e assistentes ã marcha, gritou com forças: “Não esquecemos, tampouco perdoamos, e ainda que tenha morrido, não nos reconciliamos”. No ato que realizamos no final da marcha, chamamos à luta pela mais ampla mobilização até prender e castigar os repressores de ontem e de hoje. Esta briga é parte da luta pelo fim de toda a obra pinochetista, com a privatização dos recursos naturais e dos serviços básicos; com a proibição dos dirigentes sindicais para se candidatar para cargos parlamentares, com o anti-democrático sistema bi-nomal. Como organização não deixamos de nos pronunciar em relação a estas questões. Chamamos também para que se impulsione uma forte campanha contra a repressão. Uma política operária independente.

Cada 11 de setembro, transversalmente, os políticos da patronal fazem um chamado para “que os erros do passado não se repitam” e que se “evite a polarização política” que segundo eles foi o que acarretou no golpe. Em base nisso colocam a necessidade da “reconciliação nacional”. Tudo isso enquanto mantêm na miséria milhões de trabalhadores, como estão fazendo agora com sua crise, com demissões e o aumento dos níveis de exploração em cada lugar de trabalho.

A herança pinochetista vive na realidade diária. Nosso chamado é em direção a recuperação da tradição dos cordões industriais, que em 1972, surgiram questionando a propriedade o poder dos capitalistas, demonstrando que a classe operária pode oferecer aos oprimidos uma sociedade libertada da opressão e da miséria. Para esta luta, é necessário levantar um partido dos trabalhadores que lute por uma estratégia independente de toda e qualquer variante patronal, não depositando nenhuma confiança nos políticos patronais, ainda que pareçam progressistas, como o PC como democratismo de Frei.

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