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GRÉCIA

A “Unidade Popular” da esquerda do Syriza, uma nova ilusão reformista

30/08/2015

A “Unidade Popular” da esquerda do Syriza, uma nova ilusão reformista

Na sexta-feira, vinte e cinco deputados do Syriza anunciaram o lançamento de um novo partido político: a Unidade Popular. Propõe uma “frente anti austeridade” e sair do euro. Uma nova ilusão reformista.

Neste verão se viveu com tonturas na Grécia. Em meados de Julho, Tsipras marcou a hora final do Syriza como “partido anti austeridade” firmando o pacto neo colonial, conhecido como o “terceiro resgate”. Tsipras se converteu no novo aplicador das políticas neoliberais da Troika contra o povo grego. Recorreu ã trágica história do reformismo, como “médico de cabeceira” do capital, em um fugaz ato que durou seis meses.

As lições da histórica capitulação do Syriza, apresentada até pouco tempo por muitas organizações como exemplo de uma “nova esquerda ampla”, devem permitir uma profunda reflexão a milhares de trabalhadores e jovens em todo o mundo.

Frente ao estrondoso fracasso de Syriza e seu “governo de esquerdas”, os “críticos” de Syriza lançaram uma nova formação política, a Unidade Popular.

Entre os que impulsionam o novo partido se encontram Kostas Ysichos, ex componente dos muitos do ministério da defesa; Dimitris Stratulis, ex ministro de "segurança social"; o economista Kostas Lapavitsas; e seu principal porta vez, Panagiotis Lafazanis.

O lançamento de uma “Unidade Popular” chega um mês depois de firmado o “terceiro resgate”, sob a pressão da convocatória das eleições antecipadas. Tsipras busca uma maior estabilidade para seu governo, depurando do partido os setores “críticos”. Pretende também mais uma vez legitimar-se eleitoralmente antes que as consequências do “terceiro resgate” sejam sentidas nos bolsos da maioria da população.

Com este novo partido, os ex integrantes da Plataforma de Esquerda do Syriza buscam “voltar” ao “verdeiro Syriza” dos últimos anos, com um perfil “anti-austeridade” e também “anti-euro”.

Caminhar pela mesma trilha...

Os integrantes da Plataforma de Esquerda concretizaram na semana passada o que já era um fato, a ruptura do Syriza. Mas a nova formação política conta com o mesmo “DNA” reformista que o Syriza.

A ruptura do bloco parlamentar e o lançamento do novo partido se faz com a perspectiva de voltar ao “verdadeiro Syriza”, reivindicando o “Programa de Salónica” e a tradição do Syriza desde sua fundação.

Ou seja, voltar a caminhar pela mesma trilha que conduziu até aqui, sem a menor autocrítica sobre sua responsabilidade política, tendo sido parte da direção do Syriza e de seu governo até poucos dias atrás.

A enorme impotência da Plataforma de Esquerda do Syriza se mostrou de forma aguda nesses meses. Frentes as reiteradas concessões de Tsipras ã Troika, que levaram ã aprovação do terceiro resgate, os “críticos” não buscaram nem foram capazes de mobilizar uma força social que enfrentasse as chantagens da Troika. Apostaram tudo nas “manobras parlamentares” e nas disputas no interior do Syriza. Se mantiveram no governo até o último momento. Apesar de que com o pacto Syriza-Anel e com os primeiros anúncios do governos já fosse possível ver o que estava se gestando.

A Unidade Popular compartilha com o Syriza uma estratégia eleitoral-parlamentar, onde a chave está em conquistar posições nas instituições nos marcos do estado capitalista, enquanto cumpre um papel passivizante da mobilização social.

Uma saída do Euro... para um projeto burguês nacional

A proposta mais importante da “Unidade Popular”, diferente da política “europeísta” levada adiante pela direção do Syriza, é a saída “ordenada” do Euro, defendida por Lafazanis e Lapavitzas.

Essa proposta, como coloca Paula Bach em uma polêmica com o economista grego Lapavitsas e em outro artigo que aprofunda a questão, forma parte de uma opção burguesa em que a desvalorização aparece como uma estratégia para a recuperação da competitividade da economia, a custo da perda de poder aquisitivo por parte dos trabalhadores gregos.

A Unidade Popular defende, assim como o Syriza nos seus primórdios, um programa de conciliação de classes para conquistas um “pacto social keynesiano” nos marcos do capitalismo, mesmo que neste caso se trate de um “capitalismo nacional”. Mas tem sido esta a estratégia reformista – e não apenas o “europeísmo” de Tsipras - , que levaram a experiência do Syriza ao fracasso.

Debates de estratégias na esquerda grega

Os dirigentes da “Unidade Popular” apresentaram o novo partido como a expressão do “NÃO até o final”, como resposta ás aspirações de 62% dos que votaram NÃO no referendo de 5 de julho. Naquele momento se expressou um massivo rechaço ã Troika e seus planos de austeridade. Ainda assim, essa expressão eleitoral foi transformada poe Tsipras em um SIM ao novo resgate.

Desde então na esquerda grega se abriu um importante debate de estratégias.

O KKE (Partido Comunista da Grécia, de tradição stalinista), que tem uma importante influência em vários sindicatos através da corrente sindical PAME, se opõe ao terceiro resgate e ao governo de Syriza, mas a partir de uma posição auto-proclamatória e sectária, negando-se a desenvolver a frente única operária com outras organizações política e sindicais da esquerda.

No interior da Antarsya (coalizão da esquerda anticapitalista grega), um setor majoritário (ARAN, ARAS e a maioria do NAR) colocam a possibilidade de confluir com a esquerda do Syriza em uma frente político-eleitoral de tipo reformista “ampla”, enquanto uma importante minoria (SEK e OKDE-S) sustenta que deve-se manter uma perspectiva independente e um programa anticapitalista.

A relação entre a frente única para a luta e as coalizões ou frentes eleitorais; o desenvolvimento da mobilização operária e popular em contraposição a uma estratégia reformista e parlamentar; a necessidade de um programa anticapitalista e revolucionário; são alguns dos debates que atravessam hoje a esquerda na Grécia.

A “Unidade Popular” que propõe a esquerda do Syriza, é uma “frente eleitoral” com um programa reformista, uma repetição da falida experiência do Syriza, mesmo que de uma ótica “anti-euro”, soberanista de esquerda. Uma estratégia que ao invés de contribuir com a mobilização operária e popular e com a luta por um programa anticapitalista, se converte em um novo obstáculo para ela.

A luta contra os planos da Troika e o governo só poderá se desenvolver “até o final” por meio de uma massiva unidade operária e popular, uma frente única das organizações operárias e populares que coloque em movimento a força social dos trabalhadores nas ruas e questione os lucros capitalistas. Esta é uma questão estratégica chave para o próximo período.

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