Crise Aérea no Brasil
A ganância capitalista causa tragédias e mortes
25/07/2007
Mais uma vez a ganância capitalista é a causa de tragédias e mortes
O acidente com o Airbus 320 da TAM, na última terça-feira, que matou mais de 200, dentre trabalhadores e usuários, em pleno aeroporto de Congonhas em São Paulo - o mais movimentado da América Latina - é o segundo acidente de proporções trágicas que ocorreram este ano na cidade de São Paulo, centro nervoso do capitalismo brasileiro. O primeiro deles, no inicio do ano, foi o desabamento das obras de uma nova linha do metro, que acabou matando 9 pessoas. Ambas tragédias, somadas a outro grave acidente aéreo a apenas 10 meses que foi o estopim da chamada crise aérea, respondem ás mesmas causas de fundo. A aliança do governo federal e dos governos estaduais com os grandes capitalistas para desrespeitar as normas de segurança mais elementares em função do lucro de empresas aéreas num caso, e das construtoras no outro (essa obra do metrô foi a primeira a funcionar no regime chamado de Parceria público-privada, uma das formas de privatização da era Lula). No caso do acidente com o Airbus 320 da TAM, esse desrespeito está ligado ás quase duas décadas sem investimentos adequados em infra-estrutura dos aeroportos, enquanto o número de vôos cresceu sem parar.
Nos dias que se seguiram ao acidente os podres da aviação brasileira saíam a tona e apontando suas múltiplas causas: as obras inacabadas na pista de Congonhas, que foi liberada por pressão das empresas aéreas, o aeroporto Congonhas operava 20% acima de sua capacidade máxima, um dos freios de segurança do avião não estava funcionando e os pilotos suportam jornadas de trabalho extenuantes... O governo federal se ausentou das responsabilidades e nos primeiros dias não se pronunciou sobre o acidente de Congonhas sequer para negar essas informações.
Lula rompeu o silêncio numa tentativa de evitar que a crise aberta dentro do seu governo se aprofundasse. Crise que aumentou as pressões pela demissão do ministro da defesa (responsável pelo sistema de aviação), Waldir Pires (PT) que apresentou sua renúncia em 25/07 produto dos arranhões na sua imagem, principalmente junto ã classe média. Em rede nacional anunciou medidas que são essencialmente de diminuição do número de vôos em Congonhas, liberação de verbas para a infra-estrutura dos aeroportos e até a promessa da construção de um novo aeroporto em São Paulo (através das famigeradas Parcerias), medidas que são na pratica um reconhecimento por parte do governo que o sistema aéreo brasileiro funciona acima da sua capacidade. Logo em seguida, declarou que as ações da INFRAERO estarão a venda. Na prática, será o ponta pé inicial para a privatização do controle dos aeroportos, demonstrando que o governo petista de Lula avança na retomada do curso privatista da era de Fernando Henrique Cardoso.
Os controladores de Vôo estavam com a razão
Esta crise ganhou novo patamar em 30 de março deste ano, a partir da greve dos controladores que parou os todos aeroportos brasileiros. O levantamento grevístico dos controladores de vôos, a grande maioria submetidos ã hierarquia militar e por isso proibidos de se manifestar, organizar sindicalmente e fazer greves que são consideradas "motins", expôs as condições de sobre carga em que trabalham (por falta de equipamentos e trabalhadores), comprometedoras diretas da segurança de milhões de passageiros e milhares de trabalhadores do setor aéreo.
Uma das principais reivindicações é a desmilitarização do setor que por seu caráter político fundamental, tem levado a uma dinâmica mais permanente de organização e a utilização de métodos avançados de luta dos controladores.
A resposta de Lula se consolidou com um alinhamento completo com a alta cúpula militar, centralizada na figura de Junitir Saito, comandante chefe da Aeronáutica, determinando a sentença contra os controladores, primeiro por meio do parecer da CPI do "apagão aéreo" que determinou a causa fundamental do acidente com o Boeing da GOL - que matou 154 pessoas - em setembro passado como falha dos controladores, e depois, numa ação de caráter mais bonapartista, há pouco menos de 1 mês assinou a ordem de prisão dos dois principais dirigentes da Associação dos Controladores de Vôo assim como o afastamento de mais 20 operadores dos postos de trabalho.
Nas tragédias da crise aérea brasileira quem pagam são os trabalhadores e usuários
Desde o caso das antigas gigantes, Vasp e Transbrasil, e a mais recente falência/venda da Varig, o que tem se consolidado no setor aéreo brasileiro é um novo duopólio, entre a TAM e a Gol. Essas duas enormes corporações se forjaram na última década respondendo aos ditames da onda neoliberal, implacável com os velhos modelos de tipo "semi-estatal" (a exemplo da Varig). Essas grandes companhias de novo tipo, implantaram nos aeroportos brasileiros o "baixo-custo", modelo que a principio vende o peixe da "democratização da aviação", mas logo deixam claro que por trás das promoções de passagens está a super-exploração dos trabalhadores e sistemáticos ataques que temos sofrido em nossas condições de trabalho, com terceirizações, precarização, redução dos salários e direitos, demissões em massa, além da pressão psicológica no cotidiano cada dia mais conturbado dos aeroportos. E o que é pior essa redução dos custos para os capitalistas é para os trabalhadores e usuários a redução das elementares condições de segurança nos vôos.
A "crise aérea" que se transformou em tragédia, tem outra face na tragédia "silenciosa" das 9 mil famílias dos trabalhadores da velha Varig demitidos sem os direitos pagos. Mas essa tragédia dos trabalhadores demitidos a imprensa e a burguesia esquecem fácil, para não ter que explicar que os acidentes também são conseqüências dos milhares de trabalhadores capacitados - pilotos, comissários, aeroportuários etc. - que perderam o emprego em nome do "enxugamento" da Varig e das companhias aéreas que demitem e cortam despesas, inclusive de manutenção e segurança, para alcançar maiores lucros.
Nos últimos dias, novamente setores do governo começam a admitir a reivindicação dos controladores de desmilitarização, mas sabemos que por trás do discurso de negociar a desmilitarização está uma linha de mais privatização e terceirização, para entregar o controle técnico da aviação - que hoje está nas mãos do Estado pela via das Forças Armadas e da estatal INFRAERO - a empresas nacionais ou estrangeiras. O remédio de Lula para a crise é favorecer ainda mais os capitalistas do setor aéreo, favorecimento que está na base das centenas de mortes.
Ao contrário do que dizem os governantes, as empresas, os militares e a imprensa, a solução para o "caos aéreo" exige acabar com essa concorrência e anarquia capitalista, começando com uma medida radical: estatizar todo o sistema aéreo, criar uma empresa única estatal de transporte de passageiros e de cargas e de controle aéreo, sob administração direta dos trabalhadores e usuários.