Entrevista a delegada pela Universidade Paris I
A juventude convulsiona a França
25/03/2006
A juventude convulsiona a França
Por: Lucas Pizzutti
Fonte: La Verdad Obrera N° 183
Durante as últimas semanas manifestações massivas convulsionaram as ruas da França, com ocupações de universidades. Bloqueios dos colégios secundaristas, e em todo o país mais de um milhão de pessoas marcharam contra o odiado CPE. Estas marchas massivas expressam a enorme oposição da população ã política do governo encabeçado por De Villepin, Chirac e Sarkozy. O CPE é visto justamente como precarização trabalhista, a única resposta que o governo tem dado para o problema do desemprego crescente entre a juventude. Enquanto o primeiro-ministro se nega a retroceder, se agudiza a crise do governo e já se fala de possíveis rupturas.
Entrevista a Laura Malatesta, delegada pela Universidade Paris I ã Coordenação Estudantil de Dijon, realizada por Lucas Pizzutti
O melhor da organização dos estudantes é que as assembléias de cada sede universitária votam seus delegados para a Coordenação Nacional. Cada semana se vota de novo os delegados que têm que ir defender um mandato, e na sua volta tem que prestar contas ã assembléia. Em cada assembléia participam de centenas a milhares de estudantes, segundo a mobilização que há em cada universidade. As reivindicações e as jornadas de ação nacionais são votadas a cada semana.
A Coordenação Nacional de Estudantes de Dijon teve cerca de 400 delegados que vieram de toda a França representando centenas de milhares de universitários. Para a maioria deles era seu primeiro movimento de luta. Uma grande parte dos delegados era independente, que começaram a se interessar por política a partir da luta contra o CPE. Os representantes da ala majoritária da UNEF (militantes do PS e do PCF), correspondente estudantil da CGT, pese ser o sindicato estudantil mais importante da França, representavam uma minoria entre os delegados.
Por outro lado, a minoria deste sindicato, a corrente “Tous Ensemble” integrada por Lutte Ouvriere e a Ligue Communiste Revolutionaire era bastante numerosa.
Quando chegamos ás 9 da manhã fomos recebidos pelos burocratas da UNEF com grande discussão sobre quem era delegado ou não. A princípio a mesa da coordenadora propôs que fossem delegados: 07 por universidade bloqueada (com piquetes, NdR), 03 por universidades em greve e 02 pelas que somente estavam mobilizadas. O problema que se apresentava era que, por exemplo, em Paris, as universidades têm muitas sedes e haviam sido votados 07 por sede. Muitíssimos delegados ficariam de fora e seria impossível eleger quem representava a uma universidade, já que fomos votados em assembléias de distintas sedes. Esta discussão durou horas.
Finalmente, se votou que fossem 07 por sede bloqueada nesta reunião, mas 05 para a próxima. Em seguida se abriu uma acalorada discussão sobre as plataformas e se propuseram pontos programáticos. Delegados da sede de Jussieu (Paris) diziam que era necessário generalizar o movimento, já que o que governo temia era gente nas ruas. Por isso diziam que fazia falta convencer mais pessoas, como os secundaristas, e falar ao conjunto da população. Que havia que manterem-se fortes e exigir ã intersindical que chame ã greve geral e tomar como data de início o dia 23 de março. Diziam era necessário aproveitar que a classe política tem medo. Por outro lado, delegados de Aix/Marselha pediam ações relà¢mpagos em lugares simbólicos estações de trem, reitorias, etc.
Também se pedia a anistia de todos os detidos e processados dos movimentos sociais, dos secundaristas, da revolta das periferias e deste movimento. Outros pediam ações diante do Palácio da Justiça pela liberdade dos detidos. Havia delegados que não queriam fazer exigências aos sindicato s “Já há uma pressão sobre as direções sindicais, não faz falta se dirigir a Thilbault (secretário geral da CGT). Há que ir ás empresas e distribuir panfletos na porta das fábricas” disse um militante da LO. Os de Lyon II lhe responderam que não chamar as direções sindicais era lhes perdoar a vida, que tínhamos que por as direções sindicais de frente com as suas bases. Que os partidos que dizem lutar contra a direita tinham a responsabilidade de exigir aos sindicatos que o que diziam em seus comícios seria levado para a prática.
Depois de um longo debate, a UNEF propõe não votar “ponto por ponto”, senão discutir e votar “perspectivas”. Estavam manobrando sobre todas as reivindicações colocadas. Colocaram ã votação e conseguiram fazer passar as “perspectivas”. A LCR apresentou um documento, acordado com todas as correntes políticas, a UNEF (“Tous Ensemble”) neste ponto votou com a maioria e dirigentes da SUD Estudantil (braço estudantil do sindicato SUD) que defendeu um chamado para a greve de um dia em 23 de março, mas sem exigi-la aos sindicatos. Muitos delegados pediam para emendar justamente neste ponto. Mas da mesa disseram que não se aceitava emendas, senão que haveria que apresentar um texto alternativo. Então, um delegado da Sorbbone lê um texto similar ao anterior, mas que agregava “A coordenadora chama ã construção e extensão da greve junto com piquetes nas universidades e nos liceus.
Chama também as organizações sindicais a chamar a greve geral até a retirada da lei chamada Igualdade de Oportunidades e do CNE, e a construí-la com os secundaristas e universitários chamando a assembléias gerais nos locais de trabalho”. Chamamos os independentes para contar as mãos levantadas e finalmente ganhou esta moção.
Eu penso que terminou se expressando o que a maioria dos estudantes quer. Creio que o movimento é muito forte, porque se sustenta em assembléias quase diárias, então todos se sentem protagonistas. A jornada que os sindicatos se viram obrigados a chamar para o dia 28, pese a que não seja a que votamos, existe graças à luta que damos todos os dia.
O quê é o CPE?
O Contrato Primeiro Emprego (CPE) é a resposta neoliberal do governo ã rebelião de novembro nas banlieues (periferias), onde o desemprego alcança 40% entre os jovens. É um projeto do primeiro-ministro De Villepin. O governo o apresenta cinicamente como “batalha pelo emprego” e pela “igualdade de oportunidades”. A Lei permite aos empresários despedir sem justificativa e nem indenização e com apenas 15 dias de aviso aos jovens de até 26 anos, durante os primeiros anos de contrato. Os manifestantes a têm desmascarado como “Contrato de Precariedade e Exclusão” e “Contrato para Escravos”.