FT-CI

Informe desde Tegucigalpa

Abaixo o golpe em Honduras

12/09/2009

Há mais de dois meses do golpe de Estado em Honduras, o governo de fato de Micheletti segue no poder e na tentativa de legitimar o golpe e desarticular a resistência popular, esta aberto o processo eleitoral com vistas ás próximas eleições presidenciais no dia 29 de novembro. Apesar do imperialismo norte-americano se alinhar com a política da OEA quando anunciou na semana passada que não reconheceria o resultado das eleições convocadas por Micheletti, sua política tem sido naturalizar o golpe pela via da negociação com os golpistas, apelando para a mediação de Óscar Arias, aceitada não só por Zelaya mas também por todos os governos latino-americanos, inclusive Chávez e o bloco da ALBA. As eleições são uma farsa para legitimar o regime que em seu conjunto garantiu o golpe cívico-militar, a repressão ao povo hondurenho, as horrorosas violações aos direitos humanos e a instalação de uma ditadura a favor dos interesses da burguesia hondurenha e do imperialismo norte-americano. No cenário da resistência está aberto um debate sobre como atuar frente a esta manobra de Micheletti e do regime golpista. Desde a Fração Trotskista, fazemos nosso chamado a milhares de trabalhadores, jovens, estudantes, camponeses e setores populares, a organizar um boicote ativo ás eleições e a redobrar a luta para derrotar o golpe e impor uma Assembléia Constituinte Revolucionária. A política de Zelaya de negociar com os golpistas com aval de Washington e seu chamado ã resistência pacífica se demonstrou impotente, deixando as massas desarmadas frente a repressão estatal e permitindo que se assentasse o golpe. É necessário aprofundar a mobilização, organizar a greve geral até que caia o governo de Micheletti, pôr em pé comitês de base da resistência para organizar o boicote, as ações e a auto-defesa contra a repressão. Chamamos a mais ampla unidade de ação a todas organizações operárias, estudantis, de direitos humanos, de esquerda e a todos aqueles que se reivindicam antiimperialistas em toda a América Latina, em solidariedade à luta do povo hondurenho contra o golpe de Estado. Entrevistamos Sandra, da LTS-Contracorrente do México, organização irmã da LER-QI, que se encontra em Honduras.

Quais são as ações que vem desenvolvendo a resistência hondurenha frente o golpe ?

Nestes dias as marchas vem sendo tranqüilas, porém se mantêm a vigilà¢ncia policial e militar constantes. Existe um movimento organizado e todo o país para manter as ruas com consignas e sem propaganda eleitoral, os pixos mais comuns são “Fora golpistas”, “Não vote”, “Eleições golpistas”, entre outras.

A resistência tem mantido mobilizações todos os dias desde que se iniciou o golpe, são recorrentes diariamente durante 3 ou 5 horas nas principais cidades do país, mobilizando dezenas de milhares. Isso é muito significativo porque se desenvolveu um movimento permanente nas ruas que não permite ao governo golpista impor a “normalidade”. As manifestações têm um enorme respaldo social, as pessoas saem de suas casas para irem ás marchas, gritam consignas e oferecem água aos manifestantes. No interior do país também se vive uma situação muito politizada, existem comunidades que vem de processos de lutas pela defesa de suas terras desde anos, que com seus próprios métodos de luta se incorporaram ã resistência, comunidades armadas historicamente, onde hoje o Exército não entra. Em San Pedro Sula, onde participam da resistência pelo menos 75.000 pessoas, se mantêm mobilizações também diárias. Em Choluteca, no domingo, 6 de setembro, houve enfrentamentos durante o ato eleitoral do candidato a governador pelo Partido Liberal, Elvin Santos, que foi recebido com vaias pela população. Santos respondeu com um grupo de capangas que foram pra cima da população, que se defendeu durante mais de uma hora até expulsar o candidato.

A participação das mulheres tem sido fundamental, com a incorporação à luta de distintas organizações de mulheres e feministas, como as Feministas em Resistência, entre outras, junto com a massiva participação das professoras, das trabalhadoras da saúde e das donas de casa. Quanto aos meios de comunicação, estes têm sido comprados ou tomados pelo regime golpista, que hoje controla quase tudo, enquanto as pessoas o repudiam. Ainda que se mantenham duas rádios em Tegucigalpa e um canal em Choluteca, que ainda que tenham sofrido repressão, censura e atentados continuam no ar. Quando Cholusat Sur do Canal 36 foi bombardeada pelos golpistas, o dono do canal chamou o povo de Choluteca a defender o sinal, a resposta das pessoas foi impressionante e só por isso ela continua no ar. Esses se converteram nos canais de maior expressão da resistência.

São conhecidas as denúncias de perseguições e repressão em Honduras? O que pode nos contar sobre isso?

Vive-se uma forte repressão nas mãos da polícia e do exército todos os dias. Consolidam-se os trabalhos de inteligência e repressão sob a nova direção de Billy Joya, um repudiado assassino e torturador da época da “guerra suja” em Honduras sob o mando da CIA, formado na Escola das Américas e fundador dos esquadrões da morte. O clima de impunidade e repressão sistemática está endurecendo os ataques contra a resistência, como é o caso do assassinato do militante da Resistência Ismael Padilla em 29 de agosto. Também aumentam os depoimentos de abusos e violações contra as mulheres em luta pelas mãos do exército, não apresentados frente ás autoridades judiciais, por medo de sofrer maior repressão, e tem ficado em evidência que tenta-se um escaldo nas mulheres que estão em luta. Outro fato importante é que muitos manifestantes localizados no final das marchas são detidos e espancados com o objetivo de deixarem a luta. Muitos professores estão sendo capturados e ultrajados no norte do país, outros estão sendo chamados a julgamento por acusações ridículas como sedição, com ameaças de prisão. Muitos são julgados a 3 horas de casa para desgastá-los, a outros, estão trocando os locais de trabalho, sendo enviados a colônias longínquas. O exército de Honduras atua com um ódio especial contra a Resistência, como demonstram as perseguições, repressão e assassinatos durante os meses seguintes ao golpe.

Sabemos que estão tentando impor a campanha eleitoral, e por essa via, a consolidação completa do regime golpista. O que pode nos dizer sobre isso?

A repressão que descrevo acima é parte da política pela qual buscam impor as eleições, tentando alienar a resistência antes de novembro. Todos os dias os noticiários fazem “grandes” análises do quão benéfico seria para todo o povo votar em 29 de novembro, encerrando assim a crise atual. O governo golpista se preocupa com a Resistência porque é um elemento real que pode impedir a realização das eleições. Alguns analistas chamam o governo a dialogar com a Resistência se quer chegar ás eleições com certa harmonia, mas a gente responde: “e o pensa em nos oferecer? A volta de Zelaya ou mais repressão?”. Os principais candidatos do Partido Liberal têm enfrentado manifestações de repúdio e uma maioria da Resistência vem planejando o boicote, por isso desde os meios de cominicação já estão lançando ameaças de repressão se tentarem impedir as eleições. Nem sequer os setores mais moderados da população vêem nessas eleições a saída para a atual crise política.

Muita gente vê na realização de uma Assembléia Constituinte a via para regressar a um regime democrático. Enquanto os golpistas tentam avançar com a campanha, há um setor no interior da Resistência que mantém a apresentação de candidaturas independentes como a de Carlos Reyes, ainda que alguns candidatos coloquem que se o golpe continuar até o momento das eleições, renunciariam ao cargo. Lamentavelmente, essa posição, apesar de declarar sua renúncia se o golpe continuar, alimenta as expectativas eleitorais contra uma saída independente, de extensão da luta mediante uma greve geral até que caia o golpe e uma Assembléia Constituinte Revolucionária sobre as ruínas do regime golpista. Há, além disso, um pequeno setor que coloca como possibilidade que Zelaya ou sua família chamem a votar nos independentes para fortalecer a possibilidade de sua volta a Honduras. E o setor que coloca mais abertamente o boicote discute os termos do mesmo se o golpe continua até as eleições.

Como estão hoje os golpistas e a resistência após mais de dois meses do golpe militar?

Ha mais de 70 dias os golpistas continuam tentando consolidar-se com o financiamento externo, a legitimidade com que é brindado pela via de negociação e constante diálogo impulsionado pelo governo dos Estados Unidos e pela OEA e com uma repressão interna maior. Por outro lado, deixa que as marchas continuem como medida de desgaste enquanto arma suas eleições.

Como parte da resistência se incorporou a greve dos trabalhadores das empresas estatais como: a ENEE (de Energia Elétrica), o SANAE (Serviço Nacional de Aquedutos e Esgotos), a HONDUTEL (Empresa Nacional de Telecomunicações) e outras empresas do Estado, cujos empregados estão filiados ás três centrais sindicais que há no país. Nas últimas semanas, os controladores aéreos e os médicos participaram do movimento de paralisações.

Quais as perspectivas que você vê hoje?

É muito importante que a luta da resistência se estenda em termos de organização, estender uma perspectiva independente e avançar em uma convocatória dos sindicatos e organizações operárias do país a uma greve geral até que caia o golpe.

Frente a repressão é necessário fortalecer as ações de auto-defesa contra os desaparecimentos, perseguições e assassinatos. Frente ã armadilha eleitoral do dia 29 de novembro é necessário colocar claramente o boicote, para desmascarar esta política que não faz mais que consolidar o regime golpista.
Os trabalhadores e os povos de toda América Latina temos que redobrar as mobilizações em solidariedade ã resistência em Honduras até acabar com esse golpe.

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