ENTRE A REPRESSÃO DE ASSAD E A INTERVENÇÃO IMPERIALISTA
Aprofundam-se os enfrentamentos na Síria
10/08/2012
Por Diego Dalai
"O destino de nosso povo e nossa nação depende desta batalha". Assim resumiu o ditador AL Assad a importância que tem nesse momento a "batalha de Alepo", a segunda cidade mais importante da Síria. Desde 18 julho, quando os rebeldes do Exército Livre Sírio (ELS) realizaram um atentado a bombas em que morreram o Ministro da Defesa e membros do alto escalào de segurança, que Assad não aparecia em público. Aproveitando o 69° aniversário das Forças Armadas sírias, o presidente redobrou os esforços para vencer os rebeldes e saudou os "heróis" que estão lutando nessa batalha. Depois do duro golpe recebido com o atentado ocorrido enquanto o ELS havia lançado um ataque nas grandes cidades de Alepo e Damasco. Porém, essa contraofensiva do regime está concentrada em Alepo. Apesar de haver enviado fortes contingentes de tropas, contar com domínio aéreo de caças bombardeiros e helicópteros de artilharia e dispor de armamento pesado, artilharia e tanques, os rebeldes estão resistindo 10 dias em suas posições nos bairros periféricos e tentam avançar até o centro. Em 31 de julho informaram a ocupação, após várias horas de combates, de duas importantes estações policiais que funcionavam como quartéis militares e eram bastiões do regime dentro da cidade.
O caráter da guerra civil
Há meses, na Síria, está em curso uma guerra civil. Como havíamos explicado em outros artigos, a primavera árabe na Síria se expressa desde março de 2011 com enormes mobilizações de massas que enfrentavam a sangrenta repressão militar. Porém, logo sua direção recaiu no pró- imperialista Conselho Nacional Sírio (CNS) no exílio e no ELS como principal foco de resistência, que segundo muitos analistas é apoiado e armado pela Turquia, Arábia Saudita e Qatar, aliados dos Estados Unidos. Isto levou a enfrentamentos militares, minguando a mobilização popular e abrindo espaço para guerra civil que atualmente está passando por horas decisivas.
A política imperialista (encabeçada pelos Estados Unidos e a França) é tirar a Assad e impor um regime mais favorável aos seus interesses, pressionando nesse sentido, para que o Conselho de Segurança da ONU vote sanções ã Síria que permitam uma eventual intervenção militar (ainda sem alcançar o consentimento de Rússia e China). Mas o problema maior é a quem confiar o poder depois que Assad cair. A oposição síria está extremamente fracionada e a única coisa que concordam é em tirar Assad, porém diferem em como fazê-lo e por quem substituí-lo.
As frações da oposição
A primeira grande divisão é entre a oposição "política" que está no estrangeiro e os grupos que estão no país combatendo. Entre os primeiros, está o CNS que é o mais forte e conta com o apoio da Irmandade Muçulmana, recentemente chegada ao poder no Egito através de Morsi, que está se reconciliando com o imperialismo norte-americano e o Estado sionista de Israel. Muitos dos dirigentes da CNS moram na França e, no domingo, anunciaram a formação de um governo paralelo ao de Assad. Outro setor da oposição no exterior é Haitham al Maleh, uma figura histórica da oposição da ditadura dos Assad exilado há anos no Egito, que criticou o CNS e declarou em 31 de julho que esta avançando na formação de um "governo de exílio". Muitos destes setores pretendem alguma negociação com Assad para que se mude a promessa de imunidade para ele e sua família. A idéia, compartilhada pelo imperialismo como a melhor solução, inclui armar um novo regime cívico-militar com muitos dos setores que hoje respondem a Assad para ir a uma transação ordenada e mais ou menos pacífica.
Porém, o setor da oposição que combate no país rechaça a possibilidade de conceder imunidade a Assad bem como formar um governo de unidade com setores que foram parte da ditadura. Este setor esta hegemonizado pelo ELS, os quais se manifestaram por um governo formado por militares e não aceitam nenhuma autoridade que eles não endossem. Porém, o ELS não é o único atuante no país. Há setores de desertores que se opõem ao plano do CNS e que parecem querer conduzir por eles mesmos o novo governo. Existe, além do mais, uma miríade de brigadas e comandos autônomos que combatem Assad, alguns que respondem ao ELS e outros que se declaram totalmente autônomos sem um comando central; em alguns deles, influem setores islamitas ligados aos Sauditas e ao Qatar.
Os riscos de uma transição desordenada
Na Síria, a possibilidade de que a guerra civil se estenda e se aprofunde é muito grande, para que a ditadura de Assad mantenha uma "ordem" entre os distintos credos e grupos étnicos que dividem o país, seu desaparecimento, sem um novo regime mais ou menos estável para substituí-lo pode levar ã perda do controle do Estado. Ainda mais, com a queda de Assad, o setor alawita (religião minoritária que detém o poder estatal sobre a maioria sunita) ficaria em uma situação muito delicada, exposta a ataques e represálias. Inclusive, fala-se na possibilidade de que Assad tente se refugiar na região costeira do mar Mediterrâneo, que é um feudo alawita, e resistir ali. Outro setor crítico é a maioria curda, nação oprimida que ocupa uma ampla área formada pelo norte da Síria e Iraque e o sul da Turquia. O governo turco advertiu que tomará todas as "medidas necessárias" (entenda-se militares) para evitar que o conflito na Síria ultrapasse suas fronteiras com um fortalecimento dos combatentes curdos. De sua parte, Assad chegou a ameaçar com o uso de armas químicas caso seu país seja agredido pelo exterior. A entrada da Turquia, potência militar na região, no conflito, significaria um salto enorme na situação com consequências imprevisíveis.
Uma crise com fortes consequências geopolíticas
Um cenário assim levaria instabilidade a toda região, já que a Síria é o principal aliado do Irã e do Hezbollah libanês. O Irã segue sob uma dura pressão diplomática e de sansões econômicas que nesses dias foram reforçadas pela viagem do candidato republicano da Casa Branca, Romney, e o chefe do Pentágono, Panetta, que deram todo seu apoio a Israel. Este, por sua vez, aproveitou para recordar que "todas as opiniões estão sobre a mesa" para impedir o projeto nuclear persa, trazendo maior tensão para o cenário geopolítico da região.
Por tudo isso, o imperialismo e a capacha Liga Árabe negociaram com Assad tentando, como mencionamos uma manobra similar a que foi colocada em prática no Iêmen, onde o ditador Saleh aceitou dar um passo atrás em troca de imunidade armando um novo regime que manteve o essencial do anterior. Porém, Assad parece decidido a lutar até o final e isso torna muito difícil uma saída política. O jornal The Washington Post apontou "para o sitiado ditador sírio Assad, a única saída pode ser uma bolsa de plástico". Permitir que a situação se prolongue no tempo, o que poderia implicar em avanços e retrocessos militares conjunturais de ambas as partes, somente pioraria a situação, tornando-a ainda mais sangrenta e descontrolada. Querem tirar essa perspectiva da cena o quanto antes e armar uma transição o mais ordenada possível com setores do velho regime que aceitem participar da nova estrutura junto ao CNS, o ELS e outros setores. Porém, como dissemos, este plano choca com as divisões entre a oposição a que França tem chamado inutilmente em reiteradas ocasiões para formar um "governo que se prepare para assumir".
Por outro lado, Rússia e China, possuem de veto no Conselho de Segurança da ONU, se opõem a sanções econômicas e militares a Síria, já que a Rússia tem, sobretudo, interesses particularmente fortes no país, como uma base militar. Todas as saídas oferecidas ao povo trabalhador sírio representam maior sofrimento e penúrias. Além dos milhares de mortos e dezenas de milhares de feridos, há mais de 200.000 pessoas que se encontram no campo de refugiados na Turquia e Jordânia. A situação de paralisia econômica é paga pela população pobre com a sequela do desemprego, inflação e escassez de recursos. O regime reacionário de Assad tem de cair pela mobilização operária e popular independente de toda variante burguesa e contra qualquer intervenção imperialista.