FT-CI

Flexibilização do tipo de câmbio

China: muito ruído e poucas nozes

04/07/2010

A decisão do Banco Popular da China de flexibilizar o sistema de tipo de câmbio foi recebida com otimismo pelos Estados Unidos, União Européia (UE), e o Fundo Monetário Internacional (FMI). Na segunda 21/6, este anúncio provocou a maior subida do yuan em 21 meses, assim como fortes lucros nos mercados, entre eles Wall Street, em vésperas do começo da reunião da Reserva Federal dos EUA (FED – Banco Central) sobre a política monetária, estimulando as expectativas de crescimento e a confiança na recuperação econômica mundial. Entretanto, o entusiasmo inicial foi se temperando logo depois da caída do Yuan com relação ao dólar de 0,3% na terça-feira 22, depois de sua subida de 0,4% na segunda. O que podemos esperar desta decisão de Pequim?

O banco central chinês anunciou durante o fim de semana uma maior flexibilização do sistema de tipo de câmbio, o que foi aplaudido pelos EUA, pela UE e pelo FMI. O governo norteamericano, que vinha pressionando por uma alta do yuan, sobretudo depois do amplo superávit comercial chinês de maio [1], viu a medida como positiva, buscando evitar uma confrontação com a China. Isto, em momentos em que a Casa Branca tem numerosas frentes abertas no exterior, além de um cenário interno complicado frente ao desastre ambienta do Golfo do México e as dificuldades de aprovar novas medidas de relançamento econômico no marco de uma pálida recuperação da economia dos EUA. Entretanto, este primeiro anúncio foi matizado posteriormente pelo órgão responsável da política monetária chinesa, apontando que a anunciada flexibilização da divisa do gigante asiático será gradual e que o tipo cambiário “se manterá a um nível razoável e equilibrado”. “Na atualidade não existem motivos para permitir maiores flutuações ou mudanças no tipo cambiário do renminbi (yuan)”, afirmou o banco central em seu último comunicado de domingo 20/6.

Estes movimentos das autoridades chinesas poderiam estar já acordados ou refletir a pressão existente e não resoluta entre o banco central da China, que está por mais flexibilidade, questão ã que se opõe os Ministérios do Comércio, além dos governos de Guangdong e Jiangsu, que dão conta da maioria das exportações chinesas. Portanto, apesar de tanto alvoroço, não se mostra um grande giro de Pequim, nem uma medida que ajude a reequilibrar a economia chinesa nem mundial, como rapidamente saíram a dizer em coro alguns analistas. Levemos em conta que o superávit comercial que vem registrando a China (como porcentagem do PIB mundial) é, de longe, o mais alto registrado nos últimos 100 anos (aproximadamente 0,6-0,7% do PIB mundial). Isto é tanto mais surpreendente se se considera que os dois recordes anteriores se registraram em economias muito maiores: Estados Unidos a fins de 1920 (com um superávit comercial que equivalia aproximadamente a 0,4% do PIB mundial) e Japão a fins de 1980 (0,5% do PIB mundial). Os EUA representavam mais de 30% do PIB mundial a fins de 1920, e Japão representou 15% do PIB mundial a fins de 1980. Pelo contrário, a China representa 8% do PIB mundial na atualidade. Isto significa que inclusive se a China se decidisse a sair desta posição superavitária – questão que não é o caso -, teriam que fazê-lo pouco a pouco a risco de provocar um descalabro do comércio mundial. Efetivamente, em ausência de uma política cooperativa entre as grandes potências imperialistas e um país em ascensão, ainda que se mantenha dependente como a China, a solução (ou melhor dito, a falta de solução) deste brutal desequilíbrio existente na economia mundial poderia ser enormemente traumático.

Com este transfundo, a decisão de Pequim parece ser um delicado compromisso político com mira a desativar a crescente crítica internacional de seu tipo de câmbio, especialmente nos EUA, provavelmente encaminhada a evitar sua catalogação por parte do Congresso norteamericano como manipulador de divisa ao tempo que reflete a falta de apoio interno para uma moeda muito mais forte devido aos problemas em curso na Europa, que afetam negativamente o comércio entre esta e a China, o principal destino de suas exportações [2]. Neste marco, de aprofundamento da falta de saídas ã enorme sobreacumulação chinesa, é difícil que vejamos uma importante revalorização do yuan como deseja os EUA, o que a mediano prazo implica que as tensões a enfrentamentos comerciais na economia mundial não se dissipam enquanto seguirem crescendo os superávits comerciais chineses. Em outras palavras, ao fazer esse anúncio, a China se comprometeu a fazer...absolutamente nada. É por ora só uma medida simbólica, que pode ser usada eventualmente para controlar as tensões inflacionárias que assomam no país (a inflação aumentou em 3,1% em maio, superando os 3% fixados pelo governo) e que tem sido um dos motivos que deram vida ã recente onda de lutas operárias por aumentos de salários, processo que continua ainda depois do triunfo da greve na Honda.

Entretanto, a medida que deixa indefinida sua direção, duração e gravitação em relação com a moeda verde poderia também ser facilmente utilizada para justificar uma mudança da flutuação suja [3] de sua moeda contrariamente do dólar (que agora é relativamente forte e seguirá sendo assim enquanto a zona do euro está em um curso de austeridade) um maior peso ao euro em sua cesta [4], o que poderia levar a uma desvalorização frente ao dólar... sob o guarda-chuva dessa maior flexibilização, com objetivo de manter a competitividade de suas exportações ã UE. Uma ação, por conseqüência, que agravaria os desequilíbrios da economia mundial.

Chaves

 A China representa 8% de todo o PIB mundial. Tem 1,3 bilhões de habitantes.

 O yuan ou renminbi tem um câmbio fixo desde 2008. O câmbio atual é de 6,7 yuanes por cada dólar.

 O governo norteamericano sustenta que o yuan está “subvalorizado” e que a China “especula” com um yuan baixo para baratear suas exportações. Por esse motivo, os EUA e a UE vem insistindo em uma revalorização do yuan.

 16,3% das exportações chinesas têm como destino a Europa, seguida pelos EUA com 13%.

[1]

[2]

[3]

[4]

  • NOTAS
    ADICIONALES
  • [1As exportações chinesas subiram 48,5% em maio com respeito ao ano passado apesar da crise financeira na Europa. O forte crescimento das exportações, muito para além do esperado pelos analistas, significa que a China registrou um superávit comercial em maio de $ 19,5 bilhões, em comparação ao superávit de $ 1,7 bilhões em abril e um déficit moderado em março.

    [2A Europa absorve 16,3% das exportações chinesas frente a 13% dos Estados Unidos sendo, portanto, seu maior sócio comercial.

    [3Sistema de tipos de câmbio flutuantes no que as autoridades monetárias intervém para manejar e controlar o tipo de câmbio.

    [4As distintas moedas sobre as que se move a cotização.

Notas relacionadas

No hay comentarios a esta nota

Jornais

  • PTS (Argentina)

  • Actualidad Nacional

    MTS (México)

  • EDITORIAL

    LTS (Venezuela)

  • DOSSIER : Leur démocratie et la nôtre

    CCR NPA (Francia)

  • ContraCorriente Nro42 Suplemento Especial

    Clase contra Clase (Estado Español)

  • Movimento Operário

    MRT (Brasil)

  • LOR-CI (Bolivia) Bolivia Liga Obrera Revolucionaria - Cuarta Internacional Palabra Obrera Abril-Mayo Año 2014 

Ante la entrega de nuestros sindicatos al gobierno

1° de Mayo

Reagrupar y defender la independencia política de los trabajadores Abril-Mayo de 2014 Por derecha y por izquierda

La proimperialista Ley Minera del MAS en la picota

    LOR-CI (Bolivia)

  • PTR (Chile) chile Partido de Trabajadores Revolucionarios Clase contra Clase 

En las recientes elecciones presidenciales, Bachelet alcanzó el 47% de los votos, y Matthei el 25%: deberán pasar a segunda vuelta. La participación electoral fue de solo el 50%. La votación de Bachelet, representa apenas el 22% del total de votantes. 

¿Pero se podrá avanzar en las reformas (cosméticas) anunciadas en su programa? Y en caso de poder hacerlo, ¿serán tales como se esperan en “la calle”? Editorial El Gobierno, el Parlamento y la calle

    PTR (Chile)

  • RIO (Alemania) RIO (Alemania) Revolutionäre Internationalistische Organisation Klasse gegen Klasse 

Nieder mit der EU des Kapitals!

Die Europäische Union präsentiert sich als Vereinigung Europas. Doch diese imperialistische Allianz hilft dem deutschen Kapital, andere Teile Europas und der Welt zu unterwerfen. MarxistInnen kämpfen für die Vereinigten Sozialistischen Staaten von Europa! 

Widerstand im Spanischen Staat 

Am 15. Mai 2011 begannen Jugendliche im Spanischen Staat, öffentliche Plätze zu besetzen. Drei Jahre später, am 22. März 2014, demonstrierten Hunderttausende in Madrid. Was hat sich in diesen drei Jahren verändert? Editorial Nieder mit der EU des Kapitals!

    RIO (Alemania)

  • Liga de la Revolución Socialista (LRS - Costa Rica) Costa Rica LRS En Clave Revolucionaria Noviembre Año 2013 N° 25 

Los cuatro años de gobierno de Laura Chinchilla han estado marcados por la retórica “nacionalista” en relación a Nicaragua: en la primera parte de su mandato prácticamente todo su “plan de gobierno” se centró en la “defensa” de la llamada Isla Calero, para posteriormente, en la etapa final de su administración, centrar su discurso en la “defensa” del conjunto de la provincia de Guanacaste que reclama el gobierno de Daniel Ortega como propia. Solo los abundantes escándalos de corrupción, relacionados con la Autopista San José-Caldera, los casos de ministros que no pagaban impuestos, así como el robo a mansalva durante los trabajos de construcción de la Trocha Fronteriza 1856 le pusieron límite a la retórica del equipo de gobierno, que claramente apostó a rivalizar con el vecino país del norte para encubrir sus negocios al amparo del Estado. martes, 19 de noviembre de 2013 Chovinismo y militarismo en Costa Rica bajo el paraguas del conflicto fronterizo con Nicaragua

    Liga de la Revolución Socialista (LRS - Costa Rica)

  • Grupo de la FT-CI (Uruguay) Uruguay Grupo de la FT-CI Estrategia Revolucionaria 

El año que termina estuvo signado por la mayor conflictividad laboral en más de 15 años. Si bien finalmente la mayoría de los grupos en la negociación salarial parecen llegar a un acuerdo (aún falta cerrar metalúrgicos y otros menos importantes), los mismos son un buen final para el gobierno, ya que, gracias a sus maniobras (y las de la burocracia sindical) pudieron encausar la discusión dentro de los marcos del tope salarial estipulado por el Poder Ejecutivo, utilizando la movilización controlada en los marcos salariales como factor de presión ante las patronales más duras que pujaban por el “0%” de aumento. Entre la lucha de clases, la represión, y las discusiones de los de arriba Construyamos una alternativa revolucionaria para los trabajadores y la juventud

    Grupo de la FT-CI (Uruguay)