ATO 1° DE NOVEMBRO
Como combater a direita?
12/11/2014
Quem viu os vídeos do ato na Avenida Paulista no dia 1 de novembro não pode mais que se indignar com essa direita reacionária que coloca a cabeça para fora defendendo a volta da ditadura. Vê-se o deputado federal recém eleito Eduardo Bolsonaro (PSC-SP) ao microfone do carro de som aclamando a polícia com uma arma na cintura, ao lado de Lobão (que infelizmente decidiu não ir embora do país) com a bandeira do Brasil nas costas, e grupos de choque hostilizando transeuntes.
Gritos como "Viva a PM" foram entoados pelos cerca de dois mil direitistas. O protesto foi organizado pelas redes sociais na internet e teve a confirmação de 100 mil pessoas. Nova manifestação da mesma estirpe está convocada nas redes sociais para o dia 15 de novembro em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e outras capitais. Os organizadores, ligados pelas redes sociais a todo tipo de bandos de ideologia fascista e de extrema direita, são como Levy Fidelix, que na televisão incitou ã violência contra os homossexuais.
A “nova direita” e a polarização eleitoral
Os programas e as práticas políticas do PSDB e do PT, assim como da maioria dos partidos brasileiros, divergem em alguns aspectos, mas convergem no fundamental. Apesar de ter ampliado os planos de assistência social e ter aproveitado o ciclo de crescimento econômico mundial para aumentar empregos e elevar o consumo com crédito barato, o PT seguiu destinando metade do orçamento federal para pagar juros aos investidores e banqueiros internacionais, o que impede qualquer melhoria significativa dos direitos sociais. Seguiu governando com os mesmos oligarcas reacionários que antes governavam com o PSDB, com os mesmos métodos corruptos.
Sem forçar as diferenças entre ambos partidos durante as eleições seria difícil obter legitimidade e apoio ativo de suas bases sociais. Tanto o PT como o PSDB alimentaram a polarização em função dos interesses eleitorais. Agora, ambos se esforçam para acalmar um pouco os ânimos. O acordo que fizeram na CPI da Petrobrás de não investigar políticos de ambos partidos é uma demonstração disso.
Ao fim, governam servindo os mesmos interesses do capital financeiro, dos bancos, das empreiteiras, do agronegócio, dos monopólios nacionais e estrangeiros, e estes setores não estão interessados em desestabilizar o governo petista para não prejudicar seus negócios. Por isso, agora, os líderes do PSDB foram obrigados a sair publicamente criticando as manifestações contra Dilma, ainda que sem deixar de atribuir certa legitimidade aos protestos.
Junho provocou uma inflexão ã esquerda na situação nacional, colocando em pauta a ampliação dos direitos sociais e civis, e questionado todos os partidos do regime, sobretudo o PT, mas também o PSDB. Essa inflexão ã esquerda foi aproveitada pelo movimento operário para protagonizar a maior onda de greves dos últimos vinte anos e questionar os seus dirigentes sindicais corruptos. No entanto, ao enfraquecer o PT e todos os setores da esquerda que na última década se tornaram governistas, junho também criou as condições para que a polarização eleitoral encorajasse setores de direita. Setores esses que não se vêm representados pelo PSDB e pela oposição moderada que faz ao PT, que defendem soluções mais radicais, pela direita, como uma intervenção militar contra o governo petista.
O ato contra Dilma em São Paulo, que teve suas versões menores em Brasília, Belo Horizonte e Curitiba, questiona pela direita o próprio PSDB. Para muitos que simpatizam com estes atos, mesmo que tenham votado no PSDB contra o PT, os tucanos são coniventes com a “ditadura comunista” (ou “bolivariana”) que Dilma estaria implementando no Brasil. No ato de São Paulo estavam presentes um grande arco de organizações de extrema direita. Não é muito, sabendo que são grupos que existem há muito tempo. O novo é que tenham tido pela primeira vez a capacidade de mobilizar um certo contingente para uma ação unitária, com a presença de um deputado federal (Eduardo Bolsonaro) e de um apresentador de TV e músico famoso (Lobão). E que essa ação tenha tido respaldo em setores da classe média nas redes sociais.
É cada vez maior, principalmente no estado de São Paulo, o ressentimento da classe média tradicional contra o PT. Este é um setor que permaneceu estagnado durante o período do lulismo e é a principal base social da oposição. De tanto alentar o sentimento conservador contra o PT neste setor, que se confunde com as visões xenófobas contra nordestinos, com as posições religiosas mais homofóbicas e machistas, o PSDB fortaleceu as tendências de extrema direita da sua própria base social.
A responsabilidade do PT
O PT colaborou nesses doze anos de governo para o fortalecimento de uma direita que se volta contra ele agora. Ao fugir de todos os embates, em nome da governabilidade, o PT foi entregando posições para os setores conservadores. Se submeteu ã bancada evangélica ao ponto de entregar a comissão de direitos humanos da Câmara dos Deputados para o fundamentalismo religioso do pastor e deputado federal Marco Feliciano, abandonando o combate ã homofobia e a luta pelo direito ao aborto.
Abandonou a reforma agrária e qualquer defesa consequente dos ecossistemas brasileiros (como a Amazônia e o cerrado), entregando todos ás grandes plantações de soja e criações de gado, fortalecendo os ruralistas e negando o direitos dos povos indígenas.
Na Comissão Nacional da Verdade, se submeteu a todos os vetos militares e garantiu a impunidade dos torturadores. Não por acaso o mais notório defensor da ditadura militar, Jair Bolsonaro (pais de Eduardo Bolsonaro) é de um partido que faz parte da base governista, o PP.
Avançou na militarização das cidades com o apoio ás UPP no Rio de Janeiro e em outras capitais. E sustentou um sistema de “segurança pública” para a Copa do Mundo que favoreceu as elites e marginalizou ainda mais o povo pobre. Somente nos três mandados do PT, o Brasil, justamente o período em que se faz apologia do surgimento de uma “nova classe média” viu duplicar seu contingente populacional carcerário, formado em sua esmagadora maioria por negros e pobres.
Ao longo desses anos, em cada um dos embates que levaria a uma polarização com a direita, o PT recuou e não apresentou batalha. Em nenhum momento se apoiou na força dos trabalhadores e dos movimentos populares para aprovar medidas progressivas, que mexessem com aspectos estruturais do país. Aparelhando os sindicatos e os movimentos sociais, e utilizando a seu favor o Bolsa Família para amortecer a luta de classes no campo, o PT impediu que os trabalhadores e o povo se enfrentassem com seus novos aliados de direita, como Sarney, Collor, Maluf, os ruralistas e a bancada evangélica. Ao fazer isso em nome da esquerda e dos trabalhadores, o PT ajudou a fortalecer o sentimento anti-partidário na juventude.
Como combater a direita?
A situação no Brasil, mesmo depois das eleições, ainda está sob o impacto de junho e das greves operárias. Não existe, como o PT muitas vezes tenta nos fazer crer, uma onda reacionária no Brasil. Apesar do seu recente fortalecimento, a direita, sobre tudo a extrema direita, ainda representa uma minoria da população, mesmo em São Paulo. O ato na paulista e suas repercussões nas redes sociais são apenas sintomáticos.
Ainda assim, o PT utiliza esse encorajamento de setores de extrema direita para cerrar fileiras de sua própria base social e constranger o questionamento e a oposição pela esquerda ao seu governo. Amplificam essas tendências sintomáticas nas redes sociais e buscam alentar uma espécie de “apoio crítico” ao novo governo Dilma em prol da chamada “governabilidade”.
Querem apoio para a mesma governabilidade que já aumentou as taxas de juros levando ao esfriamento da economia e consequentemente a mais desemprego, que já aumentou tarifas públicas enquanto o povo sofre com falta de água, que anuncia um querido dos bancos para encabeçar o ministério da fazenda, que promete cortar gastos públicos nos próximos anos para satisfazer a sede de lucro dos investidores financeiros.
Amenizar a luta política dos trabalhadores e da juventude contra o PT em função dos setores que questionam o governo pela direita apenas fará perpetuar essa situação que favorece os interesses dos grandes empresários, aos quais servem tanto o PT como o PSDB.
O que faz falta para combater a direita é retomar o caminho de junho e das greves que sacudiram o país no último período, mobilizando os trabalhadores e a juventude para defender as demandas do povo pobre e de todos os setores oprimidos, construindo uma nova organização revolucionária que reúna os setores mais conscientes desses processos.