Carta da juventude da LER-QI ã juventude do PSTU
Construamos uma forte campanha pela retirada das tropas brasileiras do Haiti!
26/02/2010
Companheiros,
Neste momento em que o povo haitiano passa mais uma vez por uma grande tragédia, que sabemos não ser apenas natural e sim causada pelas consequências da ocupação e opressão imperialista, e nos últimos seis anos também do governo brasileiro que dirige a Minustah, achamos fundamental fazermos esta proposta unitária ã juventude que se reivindica trotskista no Brasil, organizada no PSTU.
Há anos, tanto a LIT-QI quanto a FT-QI (nossas correntes internacionais), colocamos a necessidade da luta contra a presença das tropas imperialistas e do governo Lula no Haiti. Ambas organizações temos feito campanha de solidariedade internacionalista. O terremoto, e as consequências sociais que provocou aumentando ainda mais o sofrimento do povo haitiano, colocou num novo patamar essa campanha, abrindo o debate internacional da ajuda humanitária ao nosso povo irmão. Vimos e denunciamos, em materiais separados, a hipocrisia de países como os EUA que anunciam pífias ajudas humanitárias se comparadas com o montante investido para salvar bancos e capitalistas durante a crise econômica, preocupado mais estrategicamente em como continuar subordinando o povo haitiano sob as botas do exército norte-americano para elevar seus lucros com os planos de reconstrução. Juntos, ainda que em campanhas separadas, colocamos a necessidade de desenvolver a ajuda humanitária controlada pelo povo haitiano, exigindo a retirada imediata das tropas brasileiras, da ONU e dos EUA, do Haiti. Como parte dessa campanha de solidaridade , recentemente viajou ao país a companheira Sofía Yáñez, do Pão e Rosas (P&R) do México, sendo custeada pela colaboração do movimento P&R da Argentina, Brasil, Chile e Bolívia. Quando do terremoto estava no Haiti um militante do PSTU, que tem participado de diversas e importantes atividades para divulgar a verdade do que aflige o povo haitiano, como parte da campanha que seu partido desenvolve pelo Haiti.
Porém, a ajuda humanitária e solidária não pode nos fazer esquecer que os soldados brasileiros fazem e fizeram parte da repressão aos trabalhadores/as e estudantes que se manifestaram por melhores salários, pela retirada das tropas ou pela simples defesa das mulheres e crianças para que não mais fossem abusadas pelos “dignos” soldados brasileiros. O Haiti é utilizado como um laboratório para que as forças armadas e as polícias brasileiras se aperfeiçoem na repressão nas favelas e periferias de nosso país, para seguir assassinando nossa juventude negra.
Por isso, não podemos aceitar que as tropas de Lula permaneçam nem um dia a mais no Haiti! Temos que exigir a retirada imediata das tropas imperialistas e brasileiras, daí a importância de impulsionar uma frente única com esse eixo, começando por unir nossas campanhas.
Efetivamente, propomos reunir todas as nossas forças militantes para desmascarar perante os trabalhadores e a juventude, que mantêm ilusões no governo sobre qual o real papel das tropas brasileiras, demonstrando que os mais de 2.600 soldados enviados são parte da opressão ao povo haitiano.
Não é esse o sentido da campanha realizada pela Frente Nacional de Solidariedade ao Povo Haitiano, integrada, entre outros, pela Via Campesina, Jubileu Sul, Cáritas, Marcha Mundial de Mulheres, Assembléia Popular, Comitê Pró-Haiti, CUT, Intersindical, Movimento Negro Unificado, e da qual faz parte a Conlutas e é reivindicada pelo PSTU (vide site). As resoluções tiradas pela Frente colocam no centro, e levam a gerar ilusões na ajuda “humanitária desinteressada” de países imperialistas, assim como do Brasil quando diz: “É momento dos governos que compõem a Missão das Nações Unidas para Estabilização do Haiti (Minustah), as Nações Unidas e especialmente Estados Unidos, França e Canadá que revejam grande parte das equivocadas políticas implementadas no Haiti”. A Frente nega-se a colocar abertamente a denúncia do governo Lula e das tropas brasileiras no Haiti, limitando-se ã seguinte resolução: “Fortalecer a Campanha PELA RETIRADA das TROPAS da MINUSTAH do Haiti com todas as organizações, movimentos sociais, redes e entidades.” Para não falar da Marcha Mundial de Mulheres que se limitou a soltar uma nota com meras lástimas a mulheres feministas mortas, sem uma única política real para levar a frente nem as resoluções tomadas por tal frente. Essa é uma frente única que se mantém como ala esquerda do governo Lula, pois ao não combater as ilusões da grande parte da juventude e dos trabalhadores no governo Lula deixa espaço para o governo tentar aparecer como uma via mais humanitária, mais “Plano Lula”. Sabemos que um “Haiti livre e soberano” é incompatível com a presença das tropas no Haiti, sendo que aqui no Brasil temos a obrigação de esclarecer o papel opressor das tropas brasileiras e lutar pela retirada das tropas de Lula que comandam a Minustah.
Vocês poderão discordar alegando que ao integrar essa frente a campanha se massifica, se torna mais ampla. Poderia ser, mas como as organizações governistas da Frente estão mostrando que não desejam massificar e mobilizar, concretamente o conteúdo está se perdendo. Assim, para impedir que as organizações governistas diluam nossa política classista e combativa achamos que devemos lutar, juntos, organizando jovens estudantes e trabalhadores/as, entidades estudantis, operárias e populares com uma política de clara independência diante do governo Lula, sem titubear frente aos acordos deste com os imperialistas na medida em que aprofunda a opressão ao povo haitiano, como faz a grande maioria das organizações vinculadas ã Igreja e ao governo que compõem a Frente.
As forças que a esquerda trotskista podemos convocar também são muito importantes. Unificando esta política temos força mais real para fazer um chamado aos sindicatos combativos da Conlutas e da Intersindical, aos demais grupos de esquerda, exigir do PSOL que se some ã campanha. A nota da Secretaria de Relações Internacionais deste partido, de 18/02, diz: “É preciso que todo o investimento bélico brasileiro no Haiti seja imediatamente convertido em investimento social e humanitário. Essa é hoje a principal exigência que todos devemos fazer ao governo brasileiro.” Será realmente esta a principal exigência depois do comando das tropas do Haiti ter deixado claro logo após o terremoto que estavam lá para ajudar a própria ONU e suas estruturas? Temos que exigir do PSOL um posicionamento claro pela retirada das tropas brasileiras e que coloque sua estrutura partidária e das entidades sindicais, estudantis e populares a serviço desta campanha.
Por uma grande campanha unificada das juventudes trotskistas pela retirada das tropas
Por todos os pontos até aqui colocados, chamamos os companheiros da juventude do PSTU a unificar nossas forças trotskistas para impedir que a Igreja, o petismo e as organizações governistas aliadas diluam os eixos fundamentais do programa que é preciso levantar diante da invasão mancomunada dos imperialismos e dos governos capachos latino-americanos, que tem o Brasil no comando. Levantemos bem alto as bandeiras da retirada das tropas brasileiras e imperialistas!
Já nas calouradas, chamamos a construir mesas de debates conjuntas. Propomos organizarmos juntos a palestra da USP de 24/02 o ato que estamos convocando para o dia 25/02 em São Paulo e o ato-debate que estamos preparando na Casa Socialista no dia 28/02, assim como discutir unificadamente outras iniciativas. A ANEL, que agrupa os estudantes combativos e antigovernistas, tem que se colocar na frente e impulsionar ativamente esta campanha.
Propomos a formação de um Comitê Estadual de Solidariedade ao Haiti, da ANEL em São Paulo, para organizar a campanha independente da Frente Nacional de Solidariedade e das direções governistas, comitê esse que poderia se articular com outros iguais que surgirem em outros estados. Desde já, colocamos nossas forças a partir do CACH Unicamp, CACS Marília, CASS PUC, de nossos militantes na USP, FSA e demais campus da Unesp para a formação deste comitê.
Saudações combativas,
JUVENTUDE DA LER-QI
São Paulo, 23/02/2010
“A Frente em Solidariedade ao Haiti que reúne setores do governo e da esquerda quer gerar ilusões na suposta ‘ajuda humanitária desinteressada’ de países imperialistas. Nossa carta vai no sentido de avançar para uma frente classista”
Daniel Bocalini, integrante do Centro Acadêmico de Ciências Sociais (CACS) da Unesp Marília
“Com essa carta queremos chamar a juventude do PSTU a fazer uma grande campanha onde o nosso principal eixo de solidariedade operária e popular seja a luta pela retirada imediata das tropas brasileiras de Lula que dirigem a MINUSTAH no Haiti”
Bia Michel, integrante do Centro Acadêmico de Serviço Social (CASS) da PUC-SP
“Achamos que as juventudes trotskistas do PSTU e da LER-QI devem juntar suas forças para desmascarar o papel de Lula no Haiti. Estamos juntos no CACH e com esta carta queremos estar juntos em todas as universidades com essa campanha”
Iuri Tonelo, coordenador do Centro Acadêmico de Ciências Humanas (CACH) da Unicamp
“Não podemos deixar de lado o papel que têm estas mesmas tropas para que o exército e a polícia treinem com os haitianos o que implementam nas periferias e favelas. Está mais do que na ordem do dia que impulsionemos juntos esta campanha”
Flávia Vale, estudante de Ciências Sociais - USP