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Economia

Crescimento sustentado... no aumento da exploração e da precarização

27/03/2008

A divulgação dos números do crescimento econômico é o pretexto para que o governo e a grande mídia difundam suas mentiras sobre crescimento sustentado e distribuição de renda.

A divulgação pelo IBGE dos dados relativos ao crescimento da economia brasileira em 2007 trouxe ao país uma nova onda de otimismo e ofuscou as dificuldades que o governo Lula enfrenta no Congresso Nacional. Com o crescimento de 5,4%, menor somente que em 2004, quando o PIB cresceu 5,7%, até mesmo os setores críticos ao governo Lula comemoraram os números apresentados pelo IBGE. Isso por que houve crescimento em todos os ramos da economia: agropecuária, serviços e indústria. A criação de empregos com carteira assinada foi recorde. Os investimentos tiveram um crescimento que não se via desde 1996.

Ao contrário do que aconteceu em 2004, quando o crescimento foi puxado fundamentalmente pelas exportações, em 2007 o crescimento foi puxado principalmente pelo consumo das famílias. Esse dado é o que fundamenta o discurso quase único do noticiário econômico nestes dias de otimismo, de que estamos entrando numa fase de crescimento sustentado, com maior distribuição de renda. Nesse artigo tentaremos demonstrar mais uma vez, à luz das novas informações, como esse discurso do governo Lula de crescimento sustentado e maior distribuição de renda é falso e serve apenas para iludir os trabalhadores e impedir que se desenvolvam lutas que possam colocar em questão os lucros recordes obtidos pelas grandes empresas nacionais e multinacionais.

Lucros Vs. Salário

Se o crescimento da economia foi amplamente divulgado, menos noticiado foi o crescimento do lucro das grandes empresas. O lucro de 65 empresas listadas na Bolsa de Valores cresceu em média 35%. A rentabilidade das empresas foi de 16,6%, superior ã dos EUA. Chegou a cerca de 30% em metalurgia, siderurgia, petróleo e mineração, em função da alta de preços no mercado internacional e também por que esses aumentos de ganhos não foram repassados aos salários. Não é a toa que eles, os patrões, seus políticos e a sua mídia, estão comemorando tanto.

Já os trabalhadores têm menos motivos para comemorar. A maioria das negociações coletivas listadas pelo Icv-Dieese não passou de 6% de aumento, para uma inflação oficial de 4%, e o aumento do salário mínimo foi de 9%, enquanto a inflação dos alimentos passou de 12%, com destaque para o feijão (138%), batata (72%), leite (mais de 20%) e carnes (20%). Por trás dos índices oficiais de inflação, o que existe é um ataque real ao salário dos trabalhadores, em especial à queles que ganham os piores salários e gastam a maior parte dele com a alimentação. A comparação entre o aumento da massa salarial, 3.5% e o aumento do PIB, 5.4%, é uma indicação de que os lucros mais uma vez ganharam espaço sobre os salários. Mesmo com a queda do desemprego e com um pequeno aumento da media salarial em relação a 2006, a tendência dos salários foi de seguir perdendo espaço para os lucros. Durante o governo FHC, a participação dos salários na renda nacional passou de 35,9% da renda nacional em 1993 e foi de apenas 25,7% em 2003. Mesmo com a queda do desemprego e com um pequeno aumento da media salarial em relação a 2006, a tendência dos salários foi de seguir perdendo espaço para os lucros.

Em 2007, foram gerados 1,6 milhão empregos formais, com um crescimento de 3% nos postos de trabalho. No entanto, apesar do crescimento durar já quatro anos, e apesar da maioria dos reajustes ter alcançado a inflação oficial, não foi recuperado sequer o nível salarial de 2002. 90% dos empregos criados no governo Lula pagam abaixo de dois salários mínimos. É assim que os capitalistas andam tendo lucros fabulosos.

O consumo se apóia num maior endividamento das famílias

Todas as analises econômicas da burguesia concordam em apontar o consumo como o grande impulsionador do crescimento em 2007, pois a despesa de consumo das famílias teve alta de 6,5% no período, superior ao crescimento da economia. O Bolsa Família, os pequenos aumentos do salário mínimo, o crescimento dos postos de trabalho, tudo isso colaborou para o crescimento do consumo. Mas o principal responsável por esse aumento, sem desconsiderar esses fatores, foi o crescimento de 28,8% no crédito, motorizado pela redução dos juros principalmente dos empréstimos descontados em folha e nos grandes prazos de financiamento. Isto é, em grande media o consumo que motorizou a economia veio de um aumento do endividamento e não da distribuição de renda, que não existiu.
Até quando isso vai durar?

Bolsa Família Vs. Juros da Divida

Outra mostra importante da concentração de renda que o governo Lula promove, vem também de um dado que não aparece nos noticiários e muito menos nos discursos do presidente. Em 2007, a arrecadação do governo federal aumentou 11,%, o que significa um aumento de cerca de 61 bilhões de reais. Só o aumento da arrecadação é mais de 6 vezes superior aos gastos com o bolsa família, cerca de 9 bilhões. No entanto, se o dinheiro do bolsa família não passou de 9 bilhões, o dinheiro pago em juros da divida publica foi de 237 BILHÕES. Somados os gastos em saúde, educação e reforma agrária e bolsa família, não chega a um terço do que foi pago de divida publica, que vai para o bolso de banqueiros e empresários milionários. Um escândalo, camuflado pelo governo Lula com as belas palavras de “desenvolvimento sustentado com distribuição de renda”.

Organizar uma campanha contra a precarização do trabalho e pelo salário mínimo do Dieese

Chamamos a Conlutas, a Intersindical e todos os sindicatos combativos e anti-governistas do país, a se unificarem na luta contra a precarização e terceirização, reivindicando o fim do trabalho informal que atinge metade dos trabalhadores, reivindicando igual trabalho e igual salário, assim como a incorporação de todos os terceirizados ao quadro efetivos das empresas.

Para combater a deterioração do salário real, temos que exigir aumentos salariais automáticos de acordo com o aumento do custo de vida, não do índice oficial do governo, mas do aumento real do custo de vida. Por isso os sindicatos deveriam organizar comitês de trabalhadores e consumidores, para organizar um controle efetivo dos preços daqueles produtos que mais afetam a renda dos trabalhadores.

Como parte dessa luta em defesa dos salários e do nível de vida, é fundamental o lançamento imediato de uma campanha nacional unificada por um salário mínimo que atenda as necessidades de uma família, que segundo o Dieese é de 1.900 reais. Essas campanhas fundamentais pra unificar as fileiras da classe operária, combatendo a divisão entre trabalhadores de “2ª classe” e trabalhadores de “1ª classe”.

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