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O outro lado da violà«ncia no Rio

Da queda do helicóptero aos corpos negros caídos no chão

27/10/2009

Ainda se mantinha o ambiente de euforia e festa pela escolha dos jogos Olímpicos no Rio de Janeiro em 2016 quando a realidade social de grande parte da população carioca moradores dos morros, tomou novamente as principais manchetes dos jornais. A derrubada do helicóptero da polícia foi logo acompanhada por dezenas de morros e favelas ocupadas em toda região metropolitana. Ainda nem terminaram as comemorações na mídia dos policiais mortos como heróis, e já os acompanham ao cemitério mais de três dezenas de moradores de morros, segundo os dados oficiais. Estes últimos identificados como suspeitos pela polícia e “bandidos” pela mídia. As conseqüências para os habitantes dos morros, principalmente a população pobre e negra, destas ocupações “contra o tráfico” não tardou, e já se faz sentir nas investidas policiais e suas cenas de guerra de mortos, roubos, estupros e impossibilidade de transitar em vários morros e favelas. Na madrugada do último sábado (17/10) teve inicio um confronto na zona norte do Rio entre diferentes facções do tráfico pelo controle dos postos de venda do morro dos Macacos. Essa sob controle da ADA (Amigos dos Amigos), teria sofrido uma tentativa de invasão de traficantes do morro São João, controlado pelo CV (Comando Vermelho), gerando um intenso tiroteio aumentado com a posterior intervenção da polícia. Entre a polícia e os distintos traficantes, os moradores do morro sofrem com o foco cruzado em suas próprias casas. Porém, não foi o retrato da violência, expressão cotidiana dos moradores dos morros que ficou marcada e comoveu a “opinião pública”, e sim a queda do helicóptero da polícia pela ação dos traficantes. Enquanto os policiais mortos no incidente eram enterrados como heróis, a população dos morros e favelas, principalmente pobre e negra, sofria com a ofensiva policial que se intensificou no Morro dos Macacos e se estendeu por toda região metropolitana mas com particular intensidade na Maré, Manguinhos e Jacarezinho. Sob a justificativa de prender os traficantes, a polícia promoveu operações que sitiaram morros e favelas na zona norte, com operativos de mais de 3 mil policiais militares e civis, compostos por diversos batalhões da corporação, pelo BOPE, pela Companhia de Cães, Caveirão e todo seu aparato e sanha assassina. Os cercos e operações cercam as comunidades e isolam os moradores entre os tiroteios. As casas são invadidas e revistadas, assim como todo morador que se arisca a trafegar pela necessidade do trabalho. Assustados, moradores deixam suas casas, e os que não podem, permanecem em maio ao cenário de guerra civil. A cada nova investida assassina da “heróica polícia”, novo pânico para os moradores e aumento do número de vítimas. 18, 21,21, 22, 33. A crescente contagem já aponta o numero de 36 mortos nos últimos dados (22/10) , e sendo esses provenientes da própria polícia, certamente escondem números maiores. A polícia caracteriza os mortos entre policias, moradores e suspeitos, mas para a própria polícia, todo morador do morro é previamente suspeito, principalmente se for negro, o que leva-nos a suspeitar que certamente entre esses se encontram muitos moradores vítimas da investida policial. O próprio comandante da PM do Rio reconheceu que pode haver mais inocentes entre as vítimas do confronto e que alguns dos mortos podem ter sido classificados equivocadamente como criminosos. De forma descarada, a própria polícia confirma que suas investidas ditas contra o tráfico desconhecem a diferença entre esses e os moradores, ou seja, o comandante da PM confirma que sua ofensiva é também contra a população pobre e negra dos morros. Mesmo com o reconhecimento, os ditos heróis de Lula, Paes e Cabral continuam sua ofensiva e declaram que as ocupações não têm data prevista para terminar.

A Limpeza sem aspas e com balas, de Lula, Cabral e Paes

Lula e Paes aproveitaram o incidente para acelerar o processo de intervenção nos morros como forma de limpar o Rio para a “festa” olímpica. Lula já afirmou ser necessário "limpar a sujeira que essa gente [criminosos] impõem ao Brasil" [1], e para isso já disponibilizou a ajuda do governo federal, que agudizará a política policial de intervenção nos morros e de criminalização da pobreza, através do direcionamento de maior verbas, como os R$ 100 milhões que o Estado vai receber da Senasp (Secretaria Nacional de Segurança Pública) nos próximos seis meses para equipar as forças de segurança, e também através da disponibilização pelo Ministério da Justiça ao governos do Estado, da Força Nacional de Segurança Pública, que foi responsável pelo massacre que antecedeu os Jogos Pan-americanos. Lula hipocritamente afirma que, "Não poderia ter outras palavras além da condenação, sob todos os aspectos, aos irresponsáveis que colocam em risco vidas inocentes" [2], mas oculta que o risco maior ás vidas dos moradores provem da polícia assassina ã qual ele disponibiliza mais verba e mais contingente para continuar assassinando a população pobre e negra dos morros e favelas. Consegue ainda ser mais hipócrita quando diz combater o tráfico, mas é esse decorrente da própria miséria social ocasionada pelo capitalismo, que promove uma brutal desigualdade social e disponibiliza o tráfico, que no Rio já é inerente a própria forma de governo e a própria polícia (como as numerosas denúncias demonstram, sendo a mais importante entre as recentes, o esquema de Garotinho e seu chefe de polícia Álvaro Lins), entre as poucas alternativas de emprego e perspectivas para a juventude. E que esse quadro tem se intensificado com a crise econômica e a política do governo de salvar os grandes empresários com bilhões dos cofres públicos, jogando o ônus da crise nas costas dos trabalhadores, assim como com as políticas de criminalização e perseguição ao emprego informal, como o choque de ordem, que visam proporcionar um maior contingente de desempregados que aceitem subordinar-se a uma superexploração ainda maior para rebaixar salários e proporcionar maior lucro aos capitalistas. Lula, Cabral e Paes, como representantes da burguesia, não só são incapazes de combater “os cães que eles mesmos adestraram” [3], mas suas políticas têm aumentado o poder de enfrentamento do tráfico, ao mesmo tempo em que promovem um verdadeiro massacre em uma ofensiva cada vez maior sobre a população pobre e negra dos morros.

Pela dissolução da polícia

Só os trabalhadores podem dar uma solução definitiva para a problemática da violência, que tende a se agudizar com a crise, utilizando a burguesia cada vez mais a polícia como órgão de repressão aos trabalhadores e suas organizações e de controle social frente ã miséria e a pobreza geradas pelo próprio capitalismo. Porém, essa não se dá através de tentativas de reformas dentro do capitalismo e de suas instituições com faz abertamente o PSOL, na defesa de uma polícia comunitária de tipo européia, a mesma que assassina e reprime a juventude pobre e emigrante nas periferias de Paris ou mata imigrantes como o brasileiro que foi morto pela polícia londrina. Nem tão pouco, na confusa e amalgamada defesa do PSTU de um novo modelo de polícia democrática controlada pelos trabalhadores. A polícia é uma instituição existente para garantir a inviolabilidade da propriedade privada e do status quo, não podendo ser reformada a serviço dos trabalhadores, e tendo que necessariamente ser abolida e substituída pelos próprios trabalhadores garantirem sua própria segurança através de comitês de auto-defesa junto a seus sindicatos, associações de moradores e movimentos populares. A extinção da polícia combinada com um programa de distribuição de todas as horas de trabalho para que não haja desemprego, aumento dos salários mínimo de acordo com os R$ 2.000 estabelecidos pelo DIEESE, verdadeiros programas populares de moradias, educação e saúde, financiados por impostos progressivos as grandes fortunas, juntamente com as verbas provenientes do não pagamento da divida externa, é a única e real forma de combater a violência, programa que só pode ser levado ã frente pelos trabalhadores em aliança com os setores oprimidos.

Por uma grande campanha de repúdio a ofensiva policial

A esquerda não pode ficar passiva frente a essa brutal ofensiva policial, as ocupações e operações que não tem data para terminar. Chamamos todos partidos e organizações políticas e sociais que se colocam como operárias, populares e revolucionárias que se coloquem ativamente em repúdio a esta ofensiva policial. É necessário que as coordenações nacionais, como Conlutas e ANEL, coloquem-se na linha de frente para concretizar uma grande campanha de denúncia a ofensiva policial e ao massacre da população pobre e negra dos morros, desde os locais de trabalho, dos sindicatos, das universidades e colégios, através das entidades estudantis, coloque-se ativamente em defesa ativa dos moradores dos morros.
1 Citado em Folha Online 19/10/2009. 2 Idem. 3 Referência a um trecho musical do grupo de RAP, Facção Central.

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