Brasil
Em São Paulo, a burocracia boicota vontade de greve dos carteiros
01/10/2014
O sindicato dos trabalhadores dos correios de São Paulo, ligado ã CTB (central sindical da base governista do PT), enterrou a mobilização e a vontade de luta dos trabalhadores. Após três anos uma grande luta, os carteiros de São Paulo fizeram a maior assembleia da categoria nos últimos anos. E apesar da categoria votar majoritariamente pela greve, a burocracia encerrou a campanha salarial e fechou o acordo. Revoltados, os trabalhadores se rebelaram contra os diretores do sindicato.
Dos serviços públicos no Brasil, sem dúvida o dos Correios é um dos mais precários do país. Com salários muito baixos, péssimas condições de trabalho e uma ampla camada de trabalhadores terceirizados e temporários, os trabalhadores da empresa enfrentam ainda um avanço de privatização da empresa, implementado aos poucos por Dilma e o PT. Com tudo isso, a categoria nacionalmente veio forjando nos últimos anos uma forte tradição de luta, com greves longas e combativas.
A burocracia sindical dos correios
Apesar das fortes greves, incontidas pela revolta dos trabalhadores, a burocracia da CTB sempre conseguiu manter controle, ainda que instável, sobre a base dessa categoria nacional. Em 2008, por exemplo, apesar da força da burocracia e de sua ligação umbilical com o governo Lula, a base impôs uma fortíssima greve em 22 Estados e no Distrito Federal. Naquela oportunidade, os trabalhadores conquistaram 30% de adicional de risco para 45 mil carteiros e 260 reais de incorporação ao salário ao restante da categoria e não tiveram o salário descontado em nenhum dos 21 dias de greve. De lá pra cá, os trabalhadores dos correios fizeram greve em quase todos os anos.
Em 2012, no entanto, a CTB perde a direção da Federação Nacional (FENTECT) e rompe em seguida criando outra Federação (a FINDECT). A partir de então, a categoria que era unificada nacionalmente, perde seus elos mais importantes, os sindicatos de São Paulo e do Rio de Janeiro, dirigidos pela CTB.
Após a ruptura da Federação em 2012, a direção sindical em São Paulo pôde ser mais claramente alinhada ao governo Dilma e barraram qualquer possibilidade de greve desde então.
Os carteiros de São Paulo votam pela greve e são traídos pelo sindicato Neste ano a burocracia teve que usar todos os recursos para que a vontade dos carteiros não fugisse a seu controle. A assembleia do dia 16/09 em São Paulo estava lotada como não se via há muitos anos. A grande maioria dos trabalhadores recusou a proposta da empresa e do sindicato (0% de aumento e 200 reais de gratificação mensal até o fim do ano e uma promessa incerta de incorporação ao salário ao longo de 2015) e votou pela greve. Os trabalhadores animados começaram a gritar: greve, greve! Mas a direção do sindicato atropelou a categoria e aceitou o acordo encerrando a campanha salarial.
A revolta dos carteiros foi instantânea e os diretores do sindicato tiveram que sair da assembleia cercados de seguranças e fugindo pelas laterais, pois os trabalhadores atiravam objetos e cadeiras pela traição da burocracia.
O vale-tudo por votos
Lula e Dilma em algumas oportunidades se reuniram com as principais centrais sindicais aliadas, CUT e CTB, para traçarem um plano eleitoral capaz de conter o fenômeno Marina Silva. A orientação é não só de uma ferrenha campanha eleitoral entre os trabalhadores, mas também que impedissem a todo custo greves que fugissem do controle dessas direções e desgastasse o governo, como nos correios.
O sindicato dos correios de São Paulo cumpriu seu dever como foi possível. Durante o último período veio preparando a derrota da categoria, antecipando as eleições do sindicato que seriam no ano que vem para garantir sua continuidade, fazendo assembleias “preventivas” onde estava mais questionada e negociando com a empresa uma proposta que desmobilizasse os trabalhadores. Fizeram de tudo para impedir uma greve que não poderiam ter total controle.
Aos trancos e barrancos a burocracia venceu essa batalha, mas mostra um desgaste com a base e o controle dos trabalhadores segue cada vez mais instável. Tudo indica que um possível novo governo Dilma tenha um problema ainda superior de contenção da classe trabalha, o que pode não só significar um maior desgaste do PT com os trabalhadores, mas também maiores desentendimentos entre governo e burocracias, que buscarão a todo custo manter seus postos.