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As relações mais tensas desde o fim da “guerra fria”

Fortes rusgas entre a Rússia e os Estados Unidos

19/06/2007

Nas semanas anteriores ã reunião do G-8 na Alemanha, as relações entre os EUA e a Rússia vinham sendo cada vez mais tensas, desde o anúncio norte-americano de instalar um escudo antimíssil na República Tcheca e Polônia. Já durante a reunião dos sete países mais poderosos do mundo e Rússia, esta discussão ofuscou inclusive os esforços da chanceler alemã, Angela Merkel, de sair da cúpula com alguma resolução referente ao meio ambiente. Apesar das discussões e a votação sobre a emissão de gases e o pacote condicionado de 60.000 milhões de dólares “para ajudar” a África, o enfretamento Rússia-EUA ganhou protagonismo.

As relações entre a Rússia e os Estados Unidos são as mais tensas desde o fim da chamada Guerra Fria, permeadas pela proposta norte-americana de instalar um sistema de mísseis defesa (BMD, por suas siglas em inglês) na República Checa e Polônia e em resposta a ameaça russa de instalar mísseis apontando para Europa. Apesar de que tanto Putin como Bush, disseram repetidamente que não é um retorno da guerra fria, a disputa é a primeira grande ruptura nas relações entre ambos em quase duas décadas. As declarações públicas de ambos lados refletem um confrontamento crescente resultante da política agressiva dos EUA de conter a influência russa e assegurar o poder norte-americano nas antigas repúblicas soviéticas e na esfera de influência tanto na Ásia Central (em especial sobre o Mar Cáspio e seus recursos petroleiros) e no Leste Europeu, e o giro do regime russo (que tenta realizar suas aspirações como poder regional e mundial), fortalecido pelos altos preços do petróleo e pela débâcle norte-americana no Iraque.

Washington e o Kremlin se encontram imersos em uma disputa que não só ameaça sua relação, mas também os acordos de cada um com a OTAN (Organização do Tratando do Atlà¢ntico Norte). Esta última aliança criada há mais de 60 anos surgiu como uma ferramenta para conter a influência soviética, por sua vez como um instrumento dos EUA para exercer sua hegemonia sobre seus próprios aliados. Desde o fim da guerra fria se expandiu até o quintal traseiro russo. A organização hoje é o dobro de seu tamanho original e sua expansão significou uma justaposição de necessidades e requerimentos extremamente complexos para a manutenção e coesão. Agora a OTAN, tem sua primeira crise real desde a entrada de novos membros - a maioria do centro e leste da Europa - em 2004. Muitos desses membros, assim como alguns antigos membros, não estão convencidos de que os EUA irão se arriscar por eles contra a Rússia.

Levemos em conta que historicamente durante a chamada guerra fria e apesar de toda sua retórica anticomunista, Washington respeitou escrupulosamente a zona de influência russa como foi o caso na Hungria em 1956, Tchecoslováquia em 1968 e mais tarde na Polônia. Se durante esse período os europeus tinham dúvidas de que o EUA tivesse a vontade de arriscar-se ã destruição de Nova Iorque para proteger Paris ou Berlim, hoje é vinte vezes mais duvidoso que os EUA tome tal aposta para defender Sofia ou Budapeste. Enquanto alguns, como Grã Bretanha, România, Polônia e os estados Bálticos, ainda apóiam a OTAN e Washington, muitas importantes figuras já emergiram. A Rússia está tentando explorar esses problemas em função de aprofundar a brecha que permita uma crise ou ruptura aberta da aliança. Esse é o sentido, depois de dias de beligerância, da proposta de Putin de instalar o sistema de mísseis de defesa contra países “perigosos” como Irã (segundo EUA) em Azerbaquistão. No marco em que muitos estados europeus temem que o plano norte-americano provoque desnecessariamente que Moscou seja mais agressivo com a Europa, a nova oferta de Putin aparecendo como “razoável” e “oferecendo” cooperar com o BMD, é pode desvencilhar a política européia de Washington de uma maneira que não foi feita desde o fim da guerra fria.

Grandes tensões no terreno mundial

Enquanto as preocupações diplomáticas e militares dos EUA e Irã estão absorvidas pelo Iraque, nenhum dos dois tem suficiente para se dedicar a empresas maiores maiores. Irã tem profundos interesses em Azerbaquistão e Turcomenistão - estados críticos para Moscou - mas as preocupações iranianas com Iraque impediu que Teerã interviesse e capitalizasse as recentes oportunidades que se abriram.
Esta complicada situação com a Rússia se dá, nem mais nem menos, que com o pântano iraquiano de fundo, o que tem impedido os EUA a desafiar até o final as atuais tentativas russas de rediscutir os acordos de segurança da Europa a seu próprio favor e contrariamente aos avanços norte-americanos das décadas passadas. Ainda que os EUA estejam tentando sair desta situação, como demonstra a primeira reunião bilateral de alto nível entre Irã e EUA em quase três décadas e apesar do auspiciosa da reunião, esta tarefa não será fácil nem rápida. São estas circunstâncias as que possibilitam que agora a Rússia pressione.

A débâcle norte-americana no Iraque resultou em uma aceleração de seu declínio hegemônico. Isto não quer dizer que os EUA abandonasse o jogo nem que tenha aceitado o fim da “unipolaridade”. Reconhecendo o dano causado por sua distração no Iraque um EUA desesperado e determinado está refocando seu projeto geopolítico de restaurar seu desgastado poder global. Este é o sentido estratégico das atuais negociações no Iraque (que os impedem de projetar seu poder global por uma guerra contra insurgência de desgaste que não pode ganhar) e da nova ofensiva da OTAN no terreno europeu.

Por sua parte, a Rússia está atuando contra as políticas e ideologias que ainda se acomodam na unipolaridade (ou suas ressurgentes manifestações) e contrariamente aos instrumentos de sua perpetuação como a OTAN. Em outras palavras, a Rússia busca ativa, e agora, abertamente terminar com a atmosfera de aceitação dos ditados do EUA, surgida do mundo pós-1991 (débâcle da ex-URSS e triunfo contundente dos EUA na primeira Guerra do Golfo), e que conduziram a década de 90 ao domínio indiscutível dos EUA. Recordemos que durante esses anos os EUA mantiveram a hegemonia (e em certa medida a reforçaram) com o consenso das potências menores, que temerosas com enfretamento ou a se opor ã “última superpotência existente”, e incertas sobre sua própria capacidade de influência, permitiram que Washington dominasse no plano “econômico” sem as obstruções, reticências e oposições que hoje em dia estão emergindo. Neste novo período, os EUA teriam que tomar em conta mais seriamente a Alemanha, a ressurgente Rússia ou a ascendente China, questão que apresenta resistência no próprio EUA, como mostra a ofensiva contra a Rússia, o crescente clima protecionista no Congresso ou a hostilidade do stablisment militar contra a China. Em um sentido, poderíamos dizer que a forma com que a relação de forças entre as grandes potências pós-debacle iraquiano estão jogando ou buscando se consolidar, depende de quão avançado se vê o declínio hegemônico norte-americano. O primeiro teste desta nova disputa é novamente a questão da independência de Kosovo, saída que os EUA apóiam abertamente como mostrou Bush em sua recente viajem ã Albânia onde foi aclamado como herói e a Rússia a rechaça do plano, com Alemanha e França no meio. Em conjunturas críticas como esta, o mundo volta a se carregar de grandes tensões.

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