12 de dezembro
Greve Geral!
01/12/2008
Este final de semana, o centro da vida noturna dos jovens romanos se deslocou para a Cidade Universitária de La Sapienza. Até o avançar das horas via-se nas escadas das faculdades ocupadas grupos de estudantes de todo o país discutindo animadamente as perspectivas do movimento estudantil; outros, famintos, procurando alguma cantina improvisada na qual tivesse ainda alguma provisão e os mais cansados, depois de quase doze horas de assembléia, preparando seus sacos de dormir para descansar em um dos anfiteatros. Os 2 mil ativistas reunidos neste final de semana em Roma deixaram claro qual era seu programa: contra os planos da ministra Gelmini levantam a perspectiva de uma reforma da universidade desde as bases, a "auto-reforma", e contra a política do governo e da Confindustria, a patronal italiana, estão decididos a seguir mobilizando-se e apoiar com tudo a greve geral de 12 de dezembro. O "tsunami", como se autodenomina o movimento estudantil, "onda anômala" em italiano, não é na verdade nada mais que, para seguir com uma metáfora dos fenômenos climáticos e naturais, a ponta de um iceberg mais profundo que se chama luta de classes.
"Tsunami" estudantil, paralisações escalonadas, greves selvagens: uma radiografia da mobilização social na Itália
Os últimos 15 dias foram particularmente agitados. Ainda que se tenha adotado boa parte da contra-reforma Gelmini da educação, os secundaristas e os universitários não baixaram a guarda, pelo contrário. A mobilização mais importante, sem sombra de dúvidas, foi a mobilização nacional de 200 mil pessoas da sexta-feira dia 14, que coincidiu com a greve geral de consulta universitária proclamada pela CGIL e UIL a qual aderiram os estudantes mobilizados de todo o país e depois se conformou a primeira coordenação nacional estudantil. Na frente mais diretamente social a CGIL teve que reconsiderar suas posições nas últimas semanas. Entretanto, as direções nacionais mais conciliadoras as CISL e da UIL tentavam manter certo equilíbrio entre o sentimento de "responsabilidade", ou seja, negociar com o governo e a patronal os ataques estão sendo alvejado sobre as classes subalternas, e o descontentamento perceptível entre sua base. A direção da CGIL e suas distintas federações se encontram pressionadas pelo descontentamento existente entre os trabalhadores pela situação econômica e a avalanche de demissões anunciadas, pelas provocações direitistas do governo e, em última instancia, pela mobilização estudantil que serve de caixa de ressonância social e política simbolizada pelo famoso "nós não pagaremos a sua crise" cantado em todas as marchas universitárias.
A direção da CGIL entre os estatais teve que manter a paralisação escalonada na primeira quinzena de novembro enquanto que CISL e UIL se retiravam e preferiam negociar com Berlusconi. No setor do comercio, um dos mais precários na Itália, a CGIL, chamou ã mobilização do dia 15. Na terça-feira dia 11 de novembro, as principais cidades italianas haviam sido paralisadas por uma paralisação geral do transporte, a terceira deste ano. Naquele mesmo dia, os trabalhadores da Alitalia, sob ameaça de 2 mil demissões, paravam o aeroporto de Roma em caráter "selvagem", ou seja, sem autorização legal se opondo ao plano de desmantelamento da companhia de forma acordada entre a patronal, o governo e as burocracias confederais.
Enquanto a nível local, sobretudo no norte do país, circulam chamados de greve contra os fechamentos de fábrica, como em Turin no dia 20 e em Brescia em 21/11, a Assembléia Nacional dos Delegados Metalmecânicos FIOM decidiu convocar uma paralisação em 12 de dezembro. Esta data terminou convertendo-se, como tinham pedido os estudantes romanos em luta a fins de outubro, em uma greve geral chamada pela CGIL e na atual se somaram nestes dias os sindicatos de base.
Até a greve geral de 12 de dezembro. Organizar-se desde baixo e nos coordenar para preparar melhor o enfrentamento com o "Cavaliere" e a patronal
Como esboçavam nas discussões alguns estudantes e trabalhadores combativos neste fim de semana na Cidade Universitária, após várias semanas de mobilizações, já se pode tirar algumas conclusões. Todas estas lutas mostram como a burocracia sindical, particularmente a CGIL que "girou ã esquerda" nas últimas semanas, está tencionada entre seguir negociando com o governo e a patronal e ao mesmo tempo ser parte das lutas e inclusive encabeça-las para não perder seu controle. Isto explica o caráter aparentemente paradoxo da política atual de Epifani (dirigente da CGIL). Se na Alitalia a CGIL firmou o acordo privatizador da empresa, traindo as greves dos trabalhadores, ou se no transporte os três principais sindicatos chamaram a frear para melhor retomar as discussões com o governo, Epifani se viu obrigada, a nível global, a transformar a convocatória ã paralisação metalmecânica do 12 de dezembro em um chamado ã greve geral pela primeira vez desde 2004.
Atuando como caixa de ressonância social e política, a vanguarda estudantil em luta, em certo sentido, deu um salto de qualidade nas últimas semanas, como indicam os principais pontos do chamado dos universitários romanos, depois da massiva paralisação de professores e estudantes. Naquele chamado se fez referência ã necessidade de coordenar todas as lutas em curso, e que o 12 de dezembro seja a ocasião para que todas as direções sindicais chamem conjuntamente a parar, para além de suas diferenças. Sanciona-se também a necessidade de por em pé uma coordenação nacional estudantil, que terminou reunindo-se nos dias 14 e 15/11 na capital, após anos em que nada do tipo ocorria. Se a pressão estudantil conseguiu impor a frente-única entre a CGIL e o sindicalismo de base e articular uma coordenação nacional que desse um perfil político de maior envergadura ã mobilização, o caminho que teremos adiante segue sendo muito complexo para dizer que efetivamente a crise não será paga por nós operários e estudantes.
Como nos demonstra a orientação ambígua da burocracia sindical, que sepulta as lutas por um lado e chama a mobilização por outro, a questão da construção da greve geral por baixo entre os operários e estudantes, imigrantes, precarizados e desempregados, é mais urgente que nunca para que a paralisação geral seja o mais incisiva possível. Por outro lado, a coordenação nacional estudantil, para além de todas suas limitações, demonstrou que estudantes coordenados desde baixo conseguem um maior peso do que quando estão fragmentados nos conflitos. Lutar por colocar em pé uma coordenação nacional operária e estudantil das vanguardas em luta seria a melhor forma para construir uma corrente capaz de opor-se em forma coordenada contra a linha vacilante da burocracia e a melhor garantia para que a atual onda de mobilização vá criando as condições mais favoráveis possíveis para seguir enfrentando um governo descaradamente direitista e reacionário e a uma patronal que anuncia um milhão de desempregados para os próximos meses.