FT-CI

França: primeiro teste de forças

Greves de trabalhadores e lutas estudantis

17/11/2007

Inaugura-se uma dinâmica que se assemelha ã greve geral do funcionalismo público de 1995, na qual se combina a greve dos trabalhadores do transporte e da energia em defesa do sistema previdenciário com as reivindicações estudantis; quando muitos estudantes se solidarizam com os trabalhadores - apesar dos obstáculos impostos pela burocracia, que seguindo o exemplo do PC em maio de 1968, busca a todo custo evitar a unidade operário-estudantil - as direções sindicais, inclusive a CGT, lançam mão de suas propostas “realistas” de negociação para socavar a continuidade e os objetivos da greve, que começou com força em toda França. A burocracia sindical timbra frente ã perspectiva do movimento social nas ruas. Traidores! A principal tarefa do momento é superar estas direções e dar continuidade ao movimento.

A dinâmica: uma situação que se assemelha ã da greve geral do funcionalismo público de 1995

Ao longo do período entre 1986 e 2006, sobretudo a partir de 1995, o movimento de massas francês tem protagonizado um ciclo de lutas contra a ofensiva neoliberal dos distintos governos da direita ou “socialistas”. Os pontos mais altos foram a greve geral do funcionalismo público, que por duas semanas parou a França em 1995, derrotando o plano Juppe; a revolta dos jovens das banlieues em 2005; e sobretudo a luta estudantil de 2006, apoiada por centenas de milhares de trabalhadores, em uma das maiores mobilizações da história da França, que derrotou o CPE (Contrato de Primeiro Emprego).

A atual luta, continuidade desses movimentos, tem em potencial uma profundidade maior, já que incorpora a greve geral dos trabalhadores do transporte (ferroviários, metrô, tramway e ônibus), a greve dos eletricistas e gasistas do EDF e Gaz de France, dentre outros setores afetados pela liquidação dos regimes especiais como os trabalhadores da Ópera de Paris, com a entrada em cena dos estudantes universitários, que em dezenas de cidades francesas, sobretudo em Paris, realizam assembléias massivas e bloqueios das sedes (ver aparte). O movimento também pode entrar em convergência com a marcha do funcionalismo público, e dos professores, convocada para o dia 20, com centenas de advogados que se opõem ao fechamento dos tribunais locais, previsto pela Reforma Judicial, chamando uma marcha nacional para o dia 29. O movimento atual ainda está longe das Jornadas de Maio de 1968 que deram origem ã mais massiva greve geral da historia da França, quando os trabalhadores industriais, junto aos estudantes radicalizados, cumpriram um papel protagonista. Mas potencialmente é superior ã greve de 1995 ou à luta contra o CPE, uma vez que incorpora um setor estratégico dos trabalhadores, os trabalhadores do transporte e da energia e a explosividade do movimento estudantil. Porém, antes de qualquer coisa, pode ser potencialmente superior, pois a diferença de 1995 que marcou uma primeira vitória parcial contra o plano neoliberal, todos estes anos tem forjado uma subjetividade e rica experiência de organização. Ao ritmo da degradação das condições de vida, do esmagamento da segurança trabalhista e de um crescente assalto aos direitos democráticos e sociais, forja-se uma consciência mais profunda sobre os males do capitalismo, que se expressa em hoje os franceses serem os que mais temem o futuro, sobretudo os mais jovens (1 a cada 3 tem medo de empobrecer). Este sentimento torna-se nítido na medida em que muitos universitários se vêem - diferentemente do Maio de 1968 - como trabalhadores em potencial, o que facilita a unidade operária e estudantil.

Esta poderosa unidade na luta, que em seu desenvolvimento poderia incorporar os trabalhadores industriais que vêem reduzido o poder de compra de seus salários pela crescente carestia da vida, é exatamente o que o governo, bem como as burocracias estudantis, como a UNEF (ligada ao Partido Socialista) e as burocracias sindicais, sobretudo a CGT, querem evitar, antes que o movimento avance impetuoso e os passe por cima O dirigente da central colaboracionista CFDT, François Chérèque, que em 2003 entregou o regime previdenciário dos funcionários públicos, afirma sem ambigüidades: “Se há uma mistura de movimentos, entre os trabalhadores de regimes especiais, os do setor público e Deus sabe mais quem, nos reservamos o direito de nos retirar” do movimento de greve.

O que fazer para derrotar Sarkozy e seu plano?

Força, espontaneidade e decisão não faltam à luta operária e estudantil. Isso se expressa nas votações nas assembléias por continuar a greve. O que falta é uma direção que responda ás circunstâncias. As direções sindicais, sobretudo a CGT, majoritária entre os trabalhadores do transporte e da energia, temem desatar uma ação que não sejam capaz de conter, culminando na radicalização do movimento. Já na paralisação de 18/10, foram contrários ã continuidade da greve, imposta nas assembléias por setores sindicais ã sua esquerda e pela pressão das bases, incluindo centenas de afiliados ã CGT. Frente ã dinâmica em que convergem a greve operária e a luta estudantil, a direção da CGT-ferroviários (acompanhada pela direção da UNEF) se opôs ao chamado da Coordenação de Estudantes, reunida em Rennes em 11/11, a bloquear as estações de trens neurálgicas, logo no primeiro dia de greve. O pior foi que poucas horas antes de começar a greve, Bernard Thibault, se reuniu com o ministro do Trabalho, Xavier Bertrand, apresentando novas propostas “realistas” de negociação por cada regime especial entre os sindicatos, as empresas e o Estado do novo regime previdenciário, proposta que até então rechaçara e que hoje mostra sua vontade de debilitar a continuidade e os objetivos da greve.

As direções sindicais - seguindo o giro ã direita do PS - se preparam para dar um salto em sua capitulação e integração ao Estado burguês. Essas organizações, profundamente nacionalistas (ou social-chauvinistas) e comprometidas com o sucesso das companhias francesas, não hesitarão em colaborar para que o imperialismo francês permaneça competitivo. No passado, estas direções impediram que os grandes movimentos de luta ameaçaram diretamente o capitalismo francês e a estabilidade dos governos. O atual estado do capitalismo francês exige que atuem diretamente como sócios da burguesia e do governo no desmantelamento do chamado “estado benfeitor” e das conquistas trabalhistas. Sarkozy se apóia nesta covardia e na traição dos dirigentes sindicais e dos partidos da “esquerda” oficial, para isolar e esmagar a luta.

Mais do que nunca, é necessário derrubar estas direções dos sindicatos,começando por formar comitês de greve interprofissionais que garantam a continuidade e os objetivos da greve frente ás tentativas de levantá-la ou debilitá-la. A partir dessa tarefa primordial e pelo fortalecimento da unidade com os estudantes é preciso fazer com que a greve se alastre entre os trabalhadores do setor privado, levantando um programa que, começando com a defesa das conquistas ameaçadas, reúna as demandas dos trabalhadores dos setores público e privado, os estudantes e jovens das banlieues, em uma pauta de reivindicação única que contemple, entre outras reivindicações, a aposentadoria aos 37,5 anos de aportes para todos, salário igual ã cesta familiar, trabalho para todos, repartindo as horas de trabalho com igual salário, a luta contra a expulsão dos imigrantes ilegais e a regularização de todos os sans papier (sem papéis) e contra as intervenções imperialistas francesas, como no Líbano, no Afeganistão, em Chad e na Costa do Marfim, avançando sobre os interesses da grande patronal e do Estado imperialista francês.

Dúvidas patronais sobre os métodos de reforma de Sarkozy

A atual luta é o primeiro teste de força entre o movimento de massas e o governo de direita dura de Sarkozy. Mas não será o último: estão previstas reformas inclusive mais emblemáticas, amplas e importantes como a do código de trabalho, que facilita a precarização e as demissões, a redução do emprego no Estado ou a reforma da previdência, ampliando a idade da aposentadoria a 41 ou 42 anos.

Em La Verdad Obrera colocamos, no momento de seu triunfo eleitoral, que o sarkozismo é a afirmação do “partido da ordem”, ou em outras palavras, a resolução pela direita de uma aguda crise política e social - no marco do relativo declínio da economia e localização no concerto de nações do imperialismo francês - frente ã falta de alternativas pela esquerda, com o giro ao social-liberalismo do PS e o débâcle de seu sócio nas últimas coalizões de esquerda, o PCF. Nesse momento, Sarkozy, após um curto período de lua-de-mel, que não durou mais que o verão, deve traduzir sua vitória eleitoral no terreno estrutural. A liquidação dos regimes especiais, derrotando e/ou debilitando o batalhão central do movimento operário francês, é seu primeiro enfrentamento de envergadura. Mas para além do resultado desta batalha, frente ã complexidade do panorama social deste “novembro negro”, estão abertas crescentes dúvidas nas fileiras da burguesia, sobre seus métodos ou estratégia, que são ventiladas pela mídia.

Um artigo publicado em Le Monde por Eric Le Boucher, um dos principais analistas franceses, diz: “Neste novembro de descontentamento que se desperta, nos indagamos sobre o método das reformas de Nicolás Sarkozy. É correto? SNCF, RATP, servidores, juízes e agora estudantes: (...) Era necessário que o presidente abrisse tantas frentes de uma vez para que provoquem uma mobilização geral? ‘Não precisam se preocupar’, afirmou em 6/11 em Washington, frente ás grandes patronais francesas e norte-americanas do French-American Business Council. Porém, se o disse, o fez precisamente porque sabe que os setores econômicos franceses se preocupam.”(Le Monde, 10/11/2007). Frente ã grande quantidade de reformas lançadas diz: “a táctica é a mesma: o presidente avançou com o que pôde, mas se deteve frente ao primeiro protesto, pendente das pesquisas e sua popularidade. É criticado por fazer as ‘reformas pela metade’. Daí o questionamento de que o tema dos regimes especiais de aposentadoria está estancado. Uma vez que o protesto se massifica, o que fará Nicolás Sarkozy?”. Mais adiante, responde: “Na realidade, os setores econômicos não temem um retrocesso. Sabem que o presidente não tem eleição. Caso ceda, será chiraquisado. A ruptura não terá durado, Sarkozy não será um tigre de papel. Não há muito de as greves durarem, de que o presidente renuncie a seus projetos. A encruzilhada real deste novembro concerne ás confederações sindicais mais sérias. Assim como os patrões, os sindicatos sabem que o presidente não pode ceder. Mas devem seguir suas ‘tropas’ para que não se voltem aos seus competidores mais radicais e de esquerda... O verdadeiro teste de novembro não é para Sarkozy, mas para os sindicatos, começando pela CGT. Frente ã pergunta de fundo sobre o método das reformas, a resposta é não: nem a velocidade nem o compromisso pessoal garantem a ordem e a coerência ao conjunto”. Efetivamente, logo o primeiro dia de greve foi um duro teste para a CGT, que com sua oferta de negociação pretende debilitar o conflito; o que pode significar sua tumba e o surgimento de uma forte corrente de esquerda antiburocrática em seu bojo, bem como nas demais federações sindicais.

O mais interessante do artigo é a comparação do método de Sarkozy com o da ‘dama de ferro’, Margaret Thatcher. Vejamos: “..o exame dos métodos é revelador. Que divergências! ‘para este governo, declarava a Sra. Thatcher ao Times no início de 1980, o que vale não são os primeiros 100 dias, mas os cinco anos que seguem, e os outros cinco anos que se seguem (...). Devemos conduzir este país a uma nova direção. Isto levará tempo.’ E efetivamente, levou tempo: durante três anos, os resultados foram desastrosos, o desemprego subiu muito rápido, a popularidade dos conservadores caiu. Mas Maggy não cedeu. A primeira divergência é então a do tempo”. Segundo, aponta a política de redução dos gastos estatais da ex Primeira Ministra britânica e a política expansiva que trouxe grandes choques entre a União Européia e Sarkozy. Por último: “Terceira divergência, os sindicatos. A Sra. Thatcher é, a princípio, moderada. Não é possível reformar tudo de uma vez, ‘opta-se pela política do roedor’, explica Jean-Louis Thiériot.

Começaram desdenhando-os ostensivamente, eles co-dirigiam o país, não os recebe. Ao contrário do presidente francês, que os vê e os torna a ver, tentando fazer com que retornem ao reformismo. Por sua vez, ela se apóia na opinião contra as greves que paralisam o país. A grande batalha ocorreria mais tarde, depois que ganharam a guerra das Malvinas e dos primeiros bons resultados econômicos contra os mineiros em 1984. A ofensiva - o fechamento dos postos não rentáveis de 64.000 empregos - foi preparada mais ou menos em segredo, desde muito antes, acumulando estoques de carbono para alimentar as centrais elétricas. A Sra. Thatcher ganha com o passar de um ano, não sem brutalidades”.

Ainda que graças ã colaboração da CGT e demais sindicatos, o governo possa lograr um primeiro êxito, as dúvidas mais estratégicas da patronal e de seus porta-vozes sobre a guerra de classes que está por vir nos próximos meses e anos devem alentar a confiança do movimento de massas de que se possa derrotar Sarkozy e seus planos.

Traduzido por: Marina Ramos

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